A propósito de uma
composição do romântico francês Victor Hugo (1802-1885), sobre o Homem e a
Mulher nas suas múltiplas diferenças e complementaridades, percorri a evolução
dos arquétipos feminino e masculino na pintura, ao longo dos últimos séculos.
Curiosamente, as
semelhanças entre as representações de tempos distantes sobrepõem-se às modas e
convenções de época. Há, de facto, denominadores evidentes nas várias
expressões artísticas: nelas a elegância e a graciosidade, neles a fogosidade e
a força. Nelas a suavidade sedutora ou meiga, neles a frontalidade protectora ou possessiva. Acima de tudo, nelas
a beleza e neles o poder (instituído). As maiores distinções encontram-se nas
tonalidades, na luz e nas poses mais ou menos ousadas, a diferir entre os
artistas do Norte e do Sul da Europa.
Ao longo do século XX,
vislumbra-se nelas alguma emancipação,
maior independência e autonomia. Neles a imagem
de marca parece ter menos variações.
De Michelangelo – na Capela Sistina, 1508-1512
De VERMEER -- «Man and woman drinking wine», c.
1660
De MAGRITTE – «Paris, a rainy day», final do século XIX
PICASSO – «The Lovers», 1923
Para o poeta, a imagem que
distingue o Homem da Mulher respeita ao universo de pertença: ele bem inculcado
na terra, enquanto ela ascende às
alturas mais sublimes. Claro que as palavras são sempre curtas para desvendar o mistério profundo do ser humano, na
expressão dual, entre o feminino e o masculino. Além de que a visão transmitida
por Victor Hugo dá voz aos símbolos clássicos, por vezes excessivamente
simplificados, apesar da grandeza da peça literária.
Os céus turquesas e muito
lavados do estio em Portugal parecem fazer jus ao retrato que o romântico
gaulês desenhou da mulher, situando-a «onde
começa o céu»:
O
HOMEM E A MULHER
O homem é a mais
elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono;
Para a mulher um altar.
O trono exalta; o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher o coração, o amor.
A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o génio; a mulher o anjo.
O génio é imensurável; o anjo indefinível.
A aspiração do homem é a suprema glória;
A aspiração da mulher, a virtude extrema.
A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher a preferência.
A supremacia representa força.
A preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher invencível pelas lágrimas.
A razão convence; a lágrima comove.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher de todos os martírios.
O heroísmo enobrece; o martírio sublima.
O homem é o código; a mulher o evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é o templo; a mulher, um sacrário.
Ante o templo, nos descobrimos;
Ante o sacrário ajoelhamo-nos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter cérebro;
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano; a mulher um lago.
O oceano tem a pérola que embeleza;
O lago tem a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa; a mulher o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma.
O homem tem uma luz: a consciência;
A mulher tem uma estrela: a esperança.
A luz guia, a esperança salva.
Enfim...
O homem está colocado onde termina a terra;
A mulher onde começa o céu...
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono;
Para a mulher um altar.
O trono exalta; o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher o coração, o amor.
A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o génio; a mulher o anjo.
O génio é imensurável; o anjo indefinível.
A aspiração do homem é a suprema glória;
A aspiração da mulher, a virtude extrema.
A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher a preferência.
A supremacia representa força.
A preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher invencível pelas lágrimas.
A razão convence; a lágrima comove.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher de todos os martírios.
O heroísmo enobrece; o martírio sublima.
O homem é o código; a mulher o evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é o templo; a mulher, um sacrário.
Ante o templo, nos descobrimos;
Ante o sacrário ajoelhamo-nos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter cérebro;
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano; a mulher um lago.
O oceano tem a pérola que embeleza;
O lago tem a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa; a mulher o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma.
O homem tem uma luz: a consciência;
A mulher tem uma estrela: a esperança.
A luz guia, a esperança salva.
Enfim...
O homem está colocado onde termina a terra;
A mulher onde começa o céu...
VOLVOLTANDO À TERRA,VALE A PENA OUVIR E VER «A MAN’S WORLD»
VOLTANDO À TERRA,VALE A PENA OUVIR E VER «A MAN’S WORLD»
O À TERRA,VALE A PENA OUVIR E VER «A MAN’S WORLD» VOLTANDO À
Na
espantosa interpretação de Pavarotti e de James Brown, penso que dos anos 90, a
célebre ária torna-se ainda mais tocante:
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
Boa observação e que delícia de imagens.
ResponderEliminarA ancestralidade e a perenidade destas imagens têm repercussões trágicas. O arquétipo de homem e mulher, bem como toda a representação simbólica que constitui o género feminino e masculino é machista e falaciosa. O homem forte, integro e protector e a mulher frágil e desprotegida criam condições para a relação desigual em que a força, a autonomia, a resiliência e a polivalência femininas são remetidas para uma zona escura, onde se misturam os colares de pérolas e as pregas de uma sedutora saia plissada.