Hoje é Domingo (de Ramos), e eu não esqueço a minha condição de Católico. O Evangelho abaixo não é o que a maior parte das pessoas ouvirá nas diversas Missas, mas é o que transcrevemos no Boletim de Santo António, por ser o texto lido nas procissões, dizem-me.
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Conhecia-a primeiro por ser mãe de primos, visita regular em nossa casa. Fui visitante também regular da sua própria casa, por alturas da juventude. Era uma casa onde se entrava e saía a qualquer hora (excepto de manhã...), onde haveria sempre uma torrada e um caldo verde, mesmo que não houvesse mais nada. Talvez aquela família fosse a evidência de uma certa abundância na frugalidade (expressão roubada). Havia pouco, mas isso pouco interessava, porque haveria sempre uma gente mais fora do vulgar, um cigarro, uma boa gargalhada, uma ausência educada de cerimónia, o que era convidativo. Depois, mais tarde, a frugalidade persistiria, mas havia sempre um pormenor de requinte, um toque de decoração feito com tudo - podia ser ouro, podia ser tecido barato, era indiferente. A invulgaridade das pessoas mantinha-se, mas eu já era visita menos regular.
Num plano menos mundano, a Tia Gena geria o chamado coro da uma, porque acompanhava a missa das 13 no Estoril. Fê-lo durante 30 ano ou mais. Fê-lo, estou certo, com pouca disciplina, pouca regra, pouca pontualidade. Mas o coro manteve-se (muito) à volta dela, da sua simpatia, da sua ligeireza, da sua graça, da sua ausência de rigor que cativava toda a gente. Foram também as suas características próprias que arrastaram multidões crescentes a Fátima todos os anos onde muita gente começou ou reforçou caminhos de Fé.
Morreu 5ª feira e foi a enterrar no dia seguinte. Do sítio onde me sento todos os domingos vejo o coro, composto na sua maioria por pessoas de quem sou amigo ou primo. Vai ser estranho olhar hoje lá para cima e saber que não verei mais a Tia Gena, que vivia como era, que jogava às cartas como viveria a vida - com risco e divertimento.
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Há duas semanas, na minha crónica dominical, afirmava que nem sempre era fácil pertencer-se à Igreja Católica. Passada a quinzena a minha opinião não mudou, pese embora a eleição do Papa, de quem já se disse tudo. Gostei da eleição de Francisco e reforço o que digo sempre - sobretudo aos meus interlocutores menos praticantes: acredito piamente que o Espírito Santo ilumina aquela centena e pouca de cardeais, e todos os sinais emitidos pelo novo Papa vão nesse sentido: menos opulência, a missa de 5ªfeira Santa numa prisão juvenil, a proximidade, o apelo a que a Igreja regresse à sua missão primeira e maior: o apoio aos pobres e aos excluídos, o diálogo ecuménico. A Igreja passa por uma crise. Pelo que se lê por aí, talvez seja o Papa Francisco o primeiro obreiro de uma reconstrução e de uma renovada adesão à igreja por parte de quem estava mais afastado. Que Deus lhe dê forças para esta tarefa e que ele esteja permanentemente nas nossas orações.
Bom Domingo (de Ramos) para todos.
JdB
Naquele tempo, Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém. Quando se aproximou de Betfagé e Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras, enviou dois de seus discípulos, dizendo: “Ide ao povoado ali na frente. Logo na entrada encontrareis um jumentinho amarrado, que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui. Se alguém, por acaso, vos perguntar: ‘Por que desamarrais o jumentinho?’, respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele’”.
Os enviados partiram e encontraram tudo exatamente como Jesus lhes havia dito. Quando desamarravam o jumentinho, os donos perguntaram: “Por que estais desamarrando o jumentinho?” Eles responderam: “O Senhor precisa dele”. E levaram o jumentinho a Jesus. Então puseram seus mantos sobre o animal e ajudaram Jesus a montar. E enquanto Jesus passava, o povo ia estendendo suas roupas no caminho.
Quando chegou perto da descida do monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos, aos gritos e cheia de alegria, começou a louvar a Deus por todos os milagres que tinha visto. Todos gritavam: “Bendito o rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!”
Do meio da multidão, alguns dos fariseus disseram a Jesus: “Mestre, repreende teus discípulos!”
Jesus, porém, respondeu: “Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão”.
A música está adequadíssima às imagens in motion do Papa. Leve, divertida, com um ligeiro swing argentino... perfeito acompanhamento. E concordo com as suas apreciações sobre o Papa Francisco. Eu gostava imenso do anterior Papa, mas se calhar este é o indicado para o momento que o mundo vive... que o Espírito Santo o ilumine! Bom Domingo. pcp
ResponderEliminarAmén!
ResponderEliminarPalavra chave "MOTION". Promessa de uma Igreja viva, agil, com espirito jovem.
ResponderEliminarA tia Gena tinha um olhar especial.
ResponderEliminarEu que não sou "de missas" e vou apenas para acompanhar o meu marido, um dia, ao sair de Sto. António, uns dias depois da morte da Rita, vi a tia Gena com olhar perdido mas tão sereno.
Então, curiosa que sou, e porque sempre tive uma "paixão" especial pela tia, segui com o meu olhar o dela e fui parar para além da estátua em frente à entrada, num ponto algures, não percebi onde; parecia estar a olhar para além de tudo e ver qualquer coisa que eu não via.
Não sei por que razão, imaginei que estivesse a sorrir para a Rita.
Parece absurdo e no entanto, esse olhar, nunca me saiu da cabeça.