Nada como uma tarde
invernosa e de chuva para apetecer aqueles lanches clássicos, com chocolate
quente grosso, ou um bom chá, a acompanhar os scones ou a torrada ou um bolo
acabado de sair do forno. Apesar de o forte da culinária portuguesa se
evidenciar mais nos almoços abundantes, há doces que vêm a propósito em
qualquer refeição, a qualquer hora do dia, como os pastéis de nata.
Quando em 2011 foram
votadas as 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, claro que ficaram no grupo
dos eleitos. Ainda por cima são recomendados pelos nutricionistas, por serem uma
alternativa bastante light na pastelaria lusa.
Além de ser das especialidades
mais originais do nosso património culinário, tem obtido imenso sucesso nas
quatro partidas do mundo, onde são replicados por empresários que sabem
antecipar as oportunidades. Por exemplo, em Macau e Hong Kong, a iniciativa
coube a um inglês, que percebeu logo o filão deste bolo tão decorativo. O mesmo
aconteceu na Malásia, onde integram a ementa do Restoran de Lisbon. O rol de cidades cosmopolitas que os vendem,
nos melhores cafés, parece interminável. Assim acontece em: Paris no Comme à Lisbonne (bairro do Marais),
Nova Iorque na Bread Talk
(Chinatown), Montreal no Ferreira Café,
Buenos Aires na Padaria Florêncio,
Xangai na Lilian Cake Shop, Pequim na
Honey Bear, Singapura noo Tong Heng, etc. E isto sem falar da
África lusófona e do Brasil.
À semelhança de quase
toda a doçaria nacional, teve origem conventual. O início remonta a 1834, quando
os monges dos Jerónimos foram obrigados a abandonar o Mosteiro, em consequência
da política de expulsão das Ordens religiosas que se seguiu à Revolução Liberal
de 1820. Alguém do mosteiro terá aproveitado a loja de cana-de-açúcar e
refinaria contígua ao monumento, para aí vender uns pastéis conventuais. Em
1837, o confeiteiro português recém-chegado do Brasil – Domingos Rafael terá
fundado (segundo algumas teses) a Fábrica dos Pastéis de Belém(1).
Naquela altura, toda a
zona em redor da Torre de Belém era rio, chegando-se por barco, desde Lisboa.
Os visitantes que viajavam até à ponta mais ocidental da cidade, para admirar a
beleza dos dois monumentos de estilo manuelino, ficavam também encantados com
os saborosos doces.
Cientes do seu sucesso
gastronómico, os mestres pasteleiros que tinham apanhado a receita do convento,
deram continuidade à confecção que, desde o segundo quartel do século XIX, se
especializara naquela guloseima, respeitando os métodos artesanais de outrora.
Ali é prestado juramento para a receita nunca transpirar as paredes da Oficina Secreta, como é conhecida a
afortunada cozinha. Aliás, quer a receita, quer a designação já estão
patenteadas.
Numa sequência de salas
labiríntica, revestidas a lambrins de azulejo azul e branco, a velha Fábrica
tem cruzado os tempos imune aos conturbados períodos da história nacional,
desde as Guerras Liberais às fases revolucionárias que infernizaram a vida dos
lisboetas. Quase bi-centenária, produz cerca de vinte mil pastéis por dia. Nas
montras e demais vitrinas exibe os utensílios de origem, certificando a sua
antiguidade.
Aos poucos, outros
pasteleiros foram-se aventurando em bolos que lembravam os dos monges dos Jerónimos,
mudando-lhe a designação para pastéis de
nata, como foram cunhados no Brasil. Reconheciam, assim, à confeitaria herdeira
do segredo conventual, o uso do nome de origem.
Será este o segredo?...
Ganha-se em saltar o anúncio com que abre o link:
UMA
PEQUENA-GRANDE HISTÓRIA EM E-BOOK
Para quem queira
percorrer os quase oito anos de pontificado de Bento XVI, o Vaticano lançou um
livro digital, com mensagens breves de um dos Papas mais lúcidos e sábios que o
mundo alguma vez conheceu, ilustradas por imagens.
Num curto espaço de
tempo, o Papa que se assume sem forças físicas para continuar à frente dos
destinos da Igreja, ainda escreveu 3 encíclicas, a trilogia sobre a vida de
Cristo e um sem número de estudos, realizou 24 Viagens ao exterior, participou
em 3 Jornadas Mundiais da Juventude (Colónia, Sidney, Madrid), acabou de
convocar o Ano da Fé… mantendo um ritmo intensíssimo, marcado por uma confiança
ilimitada em Deus. Não por acaso, termina assim o seu pontificado:
«Encontro-me diante do último trecho do percurso da minha vida e não sei o
que me espera. Contudo, sei que a luz de Deus está presente, que Ele
ressuscitou, que a sua luz é mais forte do que toda a obscuridade; que a
bondade de Deus é maior do que todo o mal deste mundo. E isto ajuda-me a
prosseguir com segurança.»
http://www.vatican.va/bxvi/omaggio/index_po.html
A concluir, o testemunho
expressivo de um agnóstico da área da cultura, referindo a força e modernidade
do último gesto de Bento XVI e de todo o seu legado:
«Nos seus últimos
dias de papa, Bento XVI
apresentou-se diante de audiências globais, como uma "estranheza", ou
como um "mistério" que nos interpela. Desse ponto de vista, foi
um sucesso "mediático" porque é único: um homem alquebrado, mas com
um sorriso poderoso, falando várias línguas de um modo geral bastante bem,
lendo textos simples mas densos, cheios de história, onde os dois mil anos da Igreja se reflectem num fio
condutor que apela a muitas memórias da cultura ocidental e da religiosidade.
A resistência à "modernidade", e foi o próprio
Ratzinger que o lembrou, é mais moderna e interpela mais a descrença, do que a
contínua cedência ao "mundo" secular, aos seus hábitos e costumes. E
foi também por isso que, ao associar o seu acto prosaico de renúncia ao papado
a uma "peregrinação" mística e de intensa religiosidade, apelou aos
incréus, seus pares na mesma tradição greco-latina da cultura ocidental que
tanto prezava, e fez muito mais pela "propaganda da fé" do que alguns
dos seus pares mais modernizadores reconhecem. Usou o
"espectáculo" para sair dele para uma dimensão muito alheia ao nosso
quotidiano vulgar
(…)
(…)
Ver alguém que
acredita, como o Papa Bento XVI, agora Papa Emérito, de uma forma tão gentil, sem aí ser frágil e "sem forças", faz muito
para restaurar um respeito pela espiritualidade, uma atenção ao
"mistério" ao sentimento do outro, mesmo que não restaure a fé, que é
um dom e não depende dele.
(…)
É por isso que este Papa fez muito mais pela Igreja do que muitos cristãos pensam que fez.
(…)
É por isso que este Papa fez muito mais pela Igreja do que muitos cristãos pensam que fez.
In
artigo do PÚBLICO de 2 de Março, sob o título «Peregrino» e assinado por José Pacheco
Pereira.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2
semanas)
Não me canço de dizer que uma coisa são os pasteis de Belém outra coisa são os pasteis de nata.Estes são uma delícia mesmo que feitos há algumas horas; os pasteis de Belém, quando arrefecidos, parecem massa de vidraceiro
ResponderEliminarSdB(I)
Tb concordo. Os de Belém têm a graça da antiguidade. Mas imperdíveis mesmo tb voto nos de nata, MZ
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