Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de católico.
O que temos, cada um de nós, de S. Tomé? Em que é que duvidamos da existência de Cristo e como nos convencemos de que Ele existe verdadeiramente, uma vez que não nos é dada a possibilidade física de lhe tocarmos o Seu lado nem metermos a mão no sítio dos cravos? O incrédulo teve, vou eu arriscar, a vida facilitada porque, face a uma descrença, sentiu uma presença física. Duvidou e Cristo apareceu-lhe, dizendo-lhe uma frase com quatro verbos que implicam algo próximo da acção: põe, vê, aproxima, mete. Foi então que Tomé acreditou. Devo-lhe ele, e à sua incredulidade, a frase que torna venturosa a minha fé: felizes os que acreditam sem terem visto.
Nunca tive a sorte de ver Jesus como o dídimo (gémeo, em grego) viu. Mas talvez tenha tido a ingenuidade (e alguém irá recriminá-la?) de O ver inúmeras vezes ao longo da minha vida, com os olhos felizes do coração. Esta semana, ao celebrar dez anos de Casa da Acreditar em Lisboa, vi Cristo nos olhos das crianças com cancro quem me cruzei naquele dia e em todos os outros; vi Cristo nas mãos do pessoal da instituição que entrega o seu tempo a uma causa difícil; vi Cristo nos olhos da bondade gigante das coisas pequenas e anónimas; vi Cristo nos olhos de quem muda de vida e se redime, porque há valores que vencem os nossos demónios; vi Cristo nas mãos permanentemente estendidas das pessoas generosas; vi Cristo nas incapacidades que todos temos, nas vontades que todos manifestamos, nos segredos que nem todos revelamos. Vi Cristo aqui e ali, na serenidade dos caminhos traçados, na inquietude dos fins de tarde, nas dúvidas e nas certezas. Vi Cristo na fragilidade e na força, na confiança com que se enfrentam as noites longas; vi Cristo na aceitação e no crescimento.
Será então que vejo Cristo em todo o lado e, que por isso, a Sua presença se banaliza? Sim e não. Repito, adjectivando: bastante sim, seguramente não. A presença de Jesus nunca se banaliza, mesmo que nós a detectemos nos sítios mais banais, nas circunstâncias mais banais - mesmo nas pessoas mais banais. Talvez corrija o raciocínio, porque onde há Cristo não há banalidade. Nós não vemos Jesus - nós temos a possibilidade de ver Jesus, o que é algo radicalmente diferente. Jesus não se impõe, dispõe-se. Os olhos são os nossos e é com esses olhos que temos a possibilidade de O ver. Cristo existe ao virar de cada esquina do nosso corpo e da nossa vida. Está ali, não actuando nas causas mas ajudando nas consequências. Em todos os momentos - de grande felicidade ou de enorme angústia - lança-nos quatro verbos que implicam algo próximo da acção: põe, vê, aproxima, mete.
Felizes os que acreditam sem terem visto. Se me é dada essa liberdade, feliz eu...
Bom Domingo para todos
JdB
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EVANGELHO – Jo 20,19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarMagnifíco comentário, João!
ResponderEliminarAbr
fq