Red Series Purple 1, de JMAC, o homem de Azeitão |
De entre os vários temas que me vêm requerendo labor nos últimos dez ou doze anos - o silêncio, a morte, o despojamento, a santidade, a sabedoria -, o perdão ombreia com os demais. Não me motivam interesses intelectuais ou apenas de concepção. Afinal, o perdão ocupa um lugar importante em todas as nossas relações humanas.
O que é perdoar? Perdoamos quando esquecemos ou perdoamos detentores ainda da lembrança? Depois da ofensa recebida, é-nos lícito exigir um período de tempo para digerir o ataque imerecido? Onde entra a compreensão das circunstâncias, a generosidade afectiva, o desejo de seguir em frente? O que nos é mais custoso: perdoar ou pedir perdão? A magnanimidade ou a humildade (amiúde confundida com humilhação)? Que sinceridade pomos num e noutro acto, para que neles não haja vulgarização? Como discernimos amor-próprio de orgulho? Que vontade temos para responder à radicalidade de Cristo que nos desafia a perdoar quem nos ofendeu, mesmo que não tenhamos sido beneficiários de nenhum pedido? Achamos nós que faz sentido esse perdão incondicional, ou descortinamos necessidades 'pedagógicas' cuja oportunidade não deve perder-se?
Poucas dúvidas me restam sobre os malefícios do orgulho numa relação, seja ela conjugal, entre amigos, profissional ou familiar. Mas não estou certo onde, como, e em que medida entra uma espécie de dignidade própria que nos faz assumir uma posição de ponto de exclamação e exigir um tempo interno para reparação da pretensa dor infligida. Será então que quem pede perdão tem de aceitar esse tempo e atrasar o pedido, submetendo-se a um período de carência cuja duração desconhece? Que sinais damos nós de que esse tempo decorreu e é tempo de armistício?
Pedir perdão será muito raramente (não direi nunca) a assunção exclusiva de uma culpa, porque o trabalho de equipa até nos males se vê. Às vezes é uma contribuição de um dos lados para a paz. O que faz sentido fazermos, se nos pedem perdão? Manifestamos uma superioridade, aceitando o pedido com uma magnanimidade que apouca o próximo, ou estendemos uma mão para que nos levantemos ambos do fosso para onde nos atirámos? Com que cara avançamos para pedir a paz?
O perdão que se pede ou que se dá é mais do que uma humildade ou uma magnanimidade, para usar a ideia cristã. O perdão é deixar a luz vencer a escuridão; o perdão é libertador, pressupondo uma transparência e um acolhimento; o perdão é o passo seguinte à inevitabilidade do atrito; o perdão é a certeza da fragilidade humana, dos desencontros, das palavras irreflectidas, das escolhas incertas. O perdão é o reconhecimento elevado de um erro que pede misericórdia. O perdão é uma nudez que não se compadece de vaidades, que ambiciona aquilo que verdadeiramente nos salva: o Amor.
JdB
O que é perdoar? Perdoamos quando esquecemos ou perdoamos detentores ainda da lembrança? Depois da ofensa recebida, é-nos lícito exigir um período de tempo para digerir o ataque imerecido? Onde entra a compreensão das circunstâncias, a generosidade afectiva, o desejo de seguir em frente? O que nos é mais custoso: perdoar ou pedir perdão? A magnanimidade ou a humildade (amiúde confundida com humilhação)? Que sinceridade pomos num e noutro acto, para que neles não haja vulgarização? Como discernimos amor-próprio de orgulho? Que vontade temos para responder à radicalidade de Cristo que nos desafia a perdoar quem nos ofendeu, mesmo que não tenhamos sido beneficiários de nenhum pedido? Achamos nós que faz sentido esse perdão incondicional, ou descortinamos necessidades 'pedagógicas' cuja oportunidade não deve perder-se?
Poucas dúvidas me restam sobre os malefícios do orgulho numa relação, seja ela conjugal, entre amigos, profissional ou familiar. Mas não estou certo onde, como, e em que medida entra uma espécie de dignidade própria que nos faz assumir uma posição de ponto de exclamação e exigir um tempo interno para reparação da pretensa dor infligida. Será então que quem pede perdão tem de aceitar esse tempo e atrasar o pedido, submetendo-se a um período de carência cuja duração desconhece? Que sinais damos nós de que esse tempo decorreu e é tempo de armistício?
Pedir perdão será muito raramente (não direi nunca) a assunção exclusiva de uma culpa, porque o trabalho de equipa até nos males se vê. Às vezes é uma contribuição de um dos lados para a paz. O que faz sentido fazermos, se nos pedem perdão? Manifestamos uma superioridade, aceitando o pedido com uma magnanimidade que apouca o próximo, ou estendemos uma mão para que nos levantemos ambos do fosso para onde nos atirámos? Com que cara avançamos para pedir a paz?
O perdão que se pede ou que se dá é mais do que uma humildade ou uma magnanimidade, para usar a ideia cristã. O perdão é deixar a luz vencer a escuridão; o perdão é libertador, pressupondo uma transparência e um acolhimento; o perdão é o passo seguinte à inevitabilidade do atrito; o perdão é a certeza da fragilidade humana, dos desencontros, das palavras irreflectidas, das escolhas incertas. O perdão é o reconhecimento elevado de um erro que pede misericórdia. O perdão é uma nudez que não se compadece de vaidades, que ambiciona aquilo que verdadeiramente nos salva: o Amor.
JdB
http://www.google.com/imgres?biw=1440&bih=697&tbm=isch&tbnid=U4MgzW5MpPi4-M:&imgrefurl=http://poderdasfrutas.com/a-historia-da-laranja/flor-da-laranjeira-flor/&docid=IoZrw6_Hpe5CbM&imgurl=http://poderdasfrutas.com/wp-content/uploads/2013/03/Flor-da-laranjeira-flor.jpg&w=1280&h=1156&ei=xJGPUtm7AuWO7Qbt5ICgBQ&zoom=1&ved=1t:3588,r:6,s:0,i:99&iact=rc&page=1&tbnh=182&tbnw=195&start=0&ndsp=18&tx=69&ty=78
ResponderEliminartiny:
ResponderEliminarhttp://tinyurl.com/q2vlrk5
cannot see it, though. tried more than once and got error. looks like have to seat again at school to learn Grammar properly, to spell properly.
ResponderEliminarhave a nice w-e. mine will be as usual. 2 years on.
Muito bom este texto, ótima reflexão!
ResponderEliminarBeijinhos