20 janeiro 2015

Duas Últimas

O que há, dentro de cada um de nós, que nos atira para um certo estilo musical que para outros, da mesma idade, hábitos, educação, vida, proximidade geográfica ou familiar não atira?  Que química, nos diversos aparelhos que nos constituem, é responsável por gostarmos disto e não gostarmos daquilo? Onde se forma o gosto por esta toada que não se formou por aquela toada? Quando e em que circunstâncias definimos a repugnância por uma corrente que nos é contemporânea quando apreciamos, até à comoção, outra corrente com que não convivemos em momento algum?

Tudo em mim, num certo sentido, me atira à música sul-americana: tangos, milongas, boleros. Rebolo os olhos, aumento o volume, perla-se-me a testa, franze-se-me o sobrolho, agita-se-me o lábio num frenesi. Não sei porquê, mas é assim. Não danço ou, atirando-me à pista para um cha-cha-cha, arisco-me ao elogio trocista: vocelência valsa divinamente tudo o que a banda tocar. E no entanto, entre o tango e a saúde dos meus mais próximos passa um frémito de dúvida. 

Deixo-vos com Silvia Perez, uma rapariga que conheci nas minhas voltas bloguistas. Aprecio sobretudo o bolero (Veinte años), que ouvi mais do que uma vez. Apreciem-na e, um dia em que se cruzem comigo, não se esqueçam de elogiar o meu gosto musical. Quem não agita o lábio num frenesi não sabe o que é bom.

JdB


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