15 abril 2016

Da genética

Nota prévia: muito embora o tema seja da ordem do quotidiano das pessoas, a motivação para este post não é pessoal; apanhei o tema ontem, numa aula, e escrevi-o a correr antes do jantar.

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Seguramente que já todos nós dissemos ou ouvimos dizer a frase de alguém referindo-se a um dos seus progenitores: só espero é não ficar como ele / ela... Isto significa que há uma determinada característica ou feitio dos nossos Pais que, de facto, não queremos herdar. Algo que detestamos. Estou certo de que dizemos isto dos nossos Pais, mas não estou certo de que tenhamos consciência que os nossos Pais disseram isto dos Pais deles, porque algumas características são como heranças bem geridas - passam de Pais para filhos. E eles, os nossos Pais, talvez não tivessem querido também ficar com aquela característica.

A genética é tramada. Cabe-nos o melhor e o pior, e é esse melhor e esse pior, temperado - bem ou mal - com outro sangue e com outras circunstâncias, que deixaremos aos nossos filhos. Curiosamente, quando temos consciência de que não queremos herdar determinada característica temos suficiente clareza de espírito e suficiente maturidade para poder avaliar se já temos esse defeito dentro de nós. Mas ao dizer só espero é não ficar como ele / ela estamos a usar uma espécie de desejo pagão ou fezada no destino, como se a genética má estivesse sujeita a encomenda ou fosse uma fatalidade de que gostaríamos de fugir, mas cujo destino não está nas nossas mãos. O problema é que está e, ao olharmos demasiadamente para os nossos Pais naquilo que eles têm de mau, esquecemo-nos que por vezes somos iguais.

Por outro lado, conheço gente suficiente para me ter cruzado com pessoas adictas, com pessoas coléricas, com pessoas que desapareciam da circulação de pai, mães e irmãos para nunca mais terem voltado, com pessoas que mentem sempre. Há um gene que provoca tudo isto ou algumas destas pessoas têm uma enzima a mais ou a menos? Há alguma motivação química por trás de pessoas que partem portas com uma fúria, jogam, bebem ou compram desalmadamente. 

Gosto de pensar que a genética é tramada, mas que felizmente há a genética e que isso depende de características que correm em famílias, não em substâncias desequilibradas nas nossas veias. Não chegarei a esse estado da técnica (não do progresso, porque me parece que não é) mas há o risco de um investigador descobrir a tal enzima e, com isso, diminuir a população de adictos ou coléricos no mundo. Um dia mais tarde eliminamos os preguiçosos em nome da produtividade e, logo logo a seguir, abatemos os orgulhosos ao efectivo, para depois atacar os que precisam de atenção e os que choram com mais facilidade.

JdB 

    

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