No núcleo cultural do media digital da BBC (de ano anterior), o crítico de arte nova-iorquino, Jason Farago, elaborou um artigo sobre as 10 tapeçarias mais bonitas da arte ocidental. Uma selecção arriscada e muito subjectiva, mas prática para o ritmo acelerado da nossa época, já viciada na simplificação do “top-ten”.
Nove das dez eleitas são lindas, pelo que seguem abaixo, saltando apenas a décima escolha de Farago, que recaiu sobre uma tapeçaria de Kiki Smith, de gosto mais discutível (creio), intitulada «Congregation» e datada de 2014. Assim, o elenco aqui postado coloca em primeiro uma escolha nova, de origem portuguesa, que faz jus à qualidade e beleza das tapeçarias de Pastrana.
O esplendor de qualquer conjunto de arte têxtil ficaria incompleto sem o contributo português, também interessante e repleto de peças deslumbrantes, que estão já a ser coleccionadas para o próximo gin. Esse novo grupo cruzará os critérios de fabrico luso e/ou de pertença ao nosso património artístico. Como é expectável, percorre um arco temporal menos lato que o podium sugerido por Farago.
Curiosamente ou, melhor dito, significativamente, a escolha do norte-americano inclui uma obra feita na China e destinada ao mercado português, muito provavelmente de encomenda lusa, pois trata-se de uma tapeçaria ao melhor estilo ocidental, exemplarmente tecida no Extremo Oriente. Farago sublinha esse facto para demonstrar o dinamismo do primeiro movimento de globalização comercial inaugurado pelos portugueses. Sabe bem ver a nossa História honrada além-fronteiras.
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Pormenor de uma das quatro magníficas tapeçarias de Pastranas, subtraídas à coroa portuguesa no reinado do próprio D.Afonso V, que as encomendara aos ateliers flamengos para comemorar as conquistas no Norte de África. Actualmente, em posse espanhola, foi tema do gin de 11 de Agosto de 2010. |
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| «Tapeçaria do Apocalipse», 1377–1382 (a mais antiga), com episódios do último livro da Bíblia. É-lhe ainda atribuído alcance político por aludir à devastação provocada pela Guerra dos Cem Anos. Qual BD colossal, estende-se por 100m, guardados no museu francês albergado no Château d’Angers. |
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| «Tapeçaria de caça, de Devonshire», c. 1440–50, tecida na Flandres e exibida no Victoria & Albert Museum de Londres. À época, esta arte têxtil cumpria a dupla função de decorar e preservar da humidade actuando como isolante. O tema da caça era popular, pois juntava divertimento com uma via de socialização relevante. |
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Última da série de 6 tapeçarias francesas: «A Senhora com o Unicórnio», de finais do séc. XV. Constitui um exemplar perfeito do estilo millefleur («mil flores»), exposto no Museu de arte medieval, em Cluny. Esta peça tem como sub-título: «Mon seul désir» e está impregnada de conotações religiosas por se associar a Senhora do unicórnio à Mãe de Cristo. |
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Da colecção das 7 «Tapeçarias do Unicórnio», de 1495-1505. Título específico desta obra: «Unicórnio no cativeiro». Em 1937, o grupo foi doado ao Estado pelo magnata John Rockfeller. Tecido em lã e seda, terá sido fabricado em Liège ou Bruxelas, sendo dos mais ricos exemplares medievos. É digna de nota a alegria do unicórnio dentro da pequena cerca, de fácil transposição para a sua estatura e agilidade. |
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| «O rapto de Helena», do primeiro quartel do séc. XVII, pertence ao Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Tecida em trama de algodão, está sumptuosamente bordada a fio de seda e ouro. A célebre cena da mitologia grega tem fabrico chinês mas gosto ocidental, destinando-se ao mercado português, que já detinha ligações comerciais privilegiadas com o Império do Meio. |
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| «A pesca milagrosa» – gobelin manufacturado em Paris, no início do séc.XVIII, baseado numa tela do Louvre assinada por Jean Jouvenet. Após o desaparecimento do carismático coordenador dos gobelins, Charles le Brun – pintor oficial de Luís XIV, estes reinventaram-se com uma palete cromática ampliada, a permitir maior realismo pictórico. Porém, o uso frequente do emblema da família real – a flor-de-lys – na moldura, levou à destruição de muitos exemplares durante a Revolução Francesa. |
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| Peça da série de 10 tapeçarias «Holy Grail», 1898–99, da autoria de Edward Burne Jones. Além de liderar o movimento pré-rafaelista, Jones destacou-se como designer e político socialista. O conjunto, guardado em Birmingham, percorre a história dos Cavaleiros da Távola Redonda. |
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| «We Are Living on a Star», 1958, da artista norueguesa Hannah Ryggen, muito ligada a esta tradição têxtil, que remonta à era viking. Nesta composição, ressalta um casal nu, a pairar entre o mundo natural e a sociedade, sobre um fundo pontuado por símbolos enigmáticos. Pertença do Estado, tem sido peça decorativa do gabinete do Primeiro-Ministro da Noruega. |
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| Série «Musa», de 2009, tem autoria do artista hoje considerado a maior sumidade viva na pintura – o alemão Gerhard Richter. O conjunto replica em têxtil as simetrias abstractas características das telas do pintor, lembrando vagamente os padrões repetidos da arte oriental de cariz muçulmano. |
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas, numa Quarta-feira)
Como é sua marca: Muito Bom gin.
ResponderEliminarAssim se semeia Cultura.
Cumprimenta
ResponderEliminarTão agradável Maria Zarco!
Gostei especialmente do “Unicórnio no Cativeiro”. Gosto de pensar que foi tecido em honra do amor e do casamento.