26 junho 2019

Da silly season - calvície e cabelos pretos

A minha genética capilar subdivide-se: (i) a forte, que talvez torne difícil morrer calvo; (ii) a normal (e que já faz os seus efeitos) que faz com que morra com mais cabelos brancos do que pretos. Se quanto à calvície nunca me preocupei - lá está a genética forte - quanto à brancura dos cabelos também nunca me preocupei. Porquê? Apenas porque não.

Este sábado fui confrontado com o tema. De volta de uma mesa onde algumas senhoras discutiam o perverso efeito das cloradas águas de piscina nas tintas dos cabelos - uma preocupação feminina legítima - fui confrontado com a pergunta de um cavalheiro da minha idade, afectado pela parte menos boa de ambas as subespécies da genética: o pouco cabelo que tem está branco. E perguntava ele se não havia nada que, não sendo tinta, transformasse os cabelos brancos em pretos.

A pergunta - ou a inquietação - espantou-me, talvez porque nunca tenha pensado nisso. Olho-me ao espelho e há aspectos do meu físico de que me orgulho menos. Os cabelos brancos - uma esmagadora maioria - não. Posso ter pena de não ter menos uns quilos, de não ver melhor, de ter menos memória ou menor agilidade intelectual. Os cabelos brancos são-me totalmente indiferentes.

Percebo o horror dos homens à calvície e imagino que seja uma questão estética, como ter uma barriga proeminente ou uma postura menos erecta. Mas o que faz os cabelos brancos que perturbem tanto os homens? Será que nos dá um ar mais velho? Se sim, quem tentamos enganar? Tenho dificuldade em achar que se tivesse os cabelos totalmente pretos as minhas colegas de faculdade me olhariam com um olhar concupiscente. A minha idade vê-se em tudo o que sou, o que digo e como digo. Acharão os homens que terão mais sucesso junto do sexo oposto se tiverem uma gaforina orgulhosamente negra? Será então uma questão estética? A prova evidente de uma certa decadência física.

Olho-me ao espelho: não morrerei careca, não tarda tenho o cabelo todo branco. Não engano ninguém quanto à idade que tenho - nem sequer pretendo, na minha racionalidade mais pragmática e destruidora. O que eu queria mesmo era perder uns quilos...

JdB  

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