26 maio 2021

Vai um gin do Peter’s ?

 DUETOS IMPROVÁVEIS E PERFEITOS 

Quando Elvis morreu, prematuramente aos 42 anos, a filha – Lisa Marie Presley – ainda só tinha nove anos.  Apesar de ser tão nova, apanhou muito do jeito musical do pai, em timbre grave, e seguiu igualmente uma carreira artística atribulada, onde terá pesado a aura paterna e a riqueza colossal que herdara. A vida também lhe saiu em turbilhão. Dos 4 maridos, um foi o pouco equilibrado Mickael Jackson. Nenhum dos 4 filhos adoptou o mítico apelido Presley. E o ano passado, um deles suicidou-se, apenas com 27 anos. 

A ascensão meteórica de Elvis convertera-o em símbolo vivo do American Dream, terra de oportunidades, ideal para os talentosos florescerem. O rocker ainda acrescentava mais salero, insistindo numa ascendência índia (não confirmada nos estudos genealógicos), da tribo cherokee, a que pertenceria a tetravó, poeticamente chamada de Pomba Branca da Manhã. Nascido e criado num meio pobre, próximo do marginal (o pai estivera preso), ascendera a magnata num ápice. Como cantor, detinha recordes de audiências televisivas pelas quatro partidas do mundo. A par do estrelato, cedera aos vícios e aos excessos, além de se tornar um alvo incansável dos paparazzi e dos repórteres intrusivos. A sua morte repentina (nem essa poupada a fotografias indiscretas), mais tarde atribuída à extrema debilidade provocada pelas drogas, pôs a nação de luto e mereceu um elogio fúnebre do próprio Presidente Jimmy Carter. Claro que o título de rei do rock fixou-se-lhe para sempre.

O êxito não provinha apenas do seu magnetismo, da sua vitalidade, das coreografias ousadas e festivas. Possuía o dom maior e raro de uma voz poderosa, quente e cristalina, comprovado nas gravações mais antigas.  Daí que a era digital lhe tenha sido tão favorável, prolongando a sua arte até aos nossos dias. 

Precisamente, ‘surfando’ as novas oportunidades do digital, várias cantoras pop lançaram-se em duetos com os registos de voz e de imagem do rei, que lhe tinham escancarado o acesso aos mais prestigiados Halls de fama, nos Estados Unidos.

Em 2008, a craque da música country Martina McBride gravou um dueto muito bem sincronizado com Elvis, parecendo contemporâneos. Talvez não tivesse corrido melhor numa gravação em simultâneo. A impossibilidade do encontro ao vivo está na distância temporal entre ambos, que se traduziu num hiato de 40 anos entre uma performance e outra. O artista gravara em 1968, com 33 anos de idade, quando Martina contava dois anos apenas. Aliás, ele morreu quando ela chegou aos 11. Curiosamente, em termos de idade, é ele o mais novo do par, pois a cantora já passava bem dos 40. Mas nada destes desencontros de datas atrapalhou a interpretação da música de Natal preferida do rocker – «Blue Christmas», aqui numa versão especialmente doce e aconchegante: 


A pioneira destas montagens terá sido a filha, que se desdobrou em homenagens ao pai, através de sincronizações exímias, onde só a biografia de ambos desmente a possibilidade de terem actuado juntos, em idade adulta. Lisa nascera em Fevereiro de 1968 (1.FEV.) e aos nove anos testemunha a morte de Elvis (1977). O divórcio dos pais, em 1972, dera um rude golpe na unidade familiar e acelerara o processo de decadência em que o artista mergulha, a partir de 1973. Tudo isto, acaba por afastar pai e filha. Por isso, é tocante que Lisa recorra à memória preservada por meios tecnológicos para recuperar, simbolicamente, algum do tempo perdido e encher uns minutos com a boa companhia paterna. E logo através da voz linda e muito pessoal daquele pai. Um pai que a adorava e cuja presença lhe fora subtraída, tão cedo, tão nova: 

Lisa em bebé, com os pais, Priscilla e Elvis. A cobertura fotográfica aos seus primeiros anos de vida percorreu mundo. 



Uma filha já crescida, que o pai não chegou a conhecer.

Começando pelo dueto mais especial, Lisa Marie aproveita o mês da Partida de Elvis – Agosto – para uma homenagem 48 anos depois (2018). A harmonia entre os dois timbres torna-os mais familiares e também únicas as montagens que envolvem a filha e o pai. O título diz tudo – «Where no one stands alone»:  


Em 1997, Lisa tinha experimentado o sucesso da interpretação em polifonia e semi à desgarrada com o pai para darem corpo a um memorável «Don’t cry daddy»: 


Em 2010, lança «In the Ghetto» em duo:


E em 2012, é a Sony que promove o dueto, para  pai e filha entoarem «I love you because». Lisa só entra a partir do 1:32, deixando sempre o melhor do palco para Elvis:  


Há cerca de seis anos, Celine Dion foi, tecnicamente, mais longe e cantou para uma plateia numerosa, acompanhada pelo holograma de Elvis. Assim interpretaram «If I Can Dream». Mais prevenida do que o rei para a partilha do palco, Dion cultivou uma cumplicidade calorosa e empática com momentos áureos de um Elvis videogravado para a posteridade:


Num dos comentários ao concerto da canadiana, alguém escreveu que seria capaz de ir a um concerto do holograma de Elvis. Também me abalanço, desde que a qualidade do som esteja garantida.  


Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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