14 julho 2022

O Fado, canção de vencidos

Parto hoje para umas curtas férias no Funchal, repetindo uma hábito anual - ainda que irregular. Face ao que se passa a nível de calor no continente, posso dizer com propriedade que vou para a Madeira apanhar bom tempo - prevê-se que as temperaturas oscilem entre os 19ºC e os 23ºC.  

Gosto de ir ao Funchal. Ando a pé, gozo a vista sobre o oceano que se vê da casa onde estou, tomo banhos em locais com pouca gente e nenhuma areia - os dois factores negativos numa praia. O mar não está frio e permite mergulhos do pontão - é um mar fundo, cavado, com alguma ondulação. Por outro lado, é difícil encontrar-se gente antipática ou pouco educada na Madeira. Como já aqui referi, os trabalhadores da restauração do Algarve deveriam ir à Madeira fazer um tirocínio. 

Maximilano de Sousa (Funchal, Madeira, 20 de janeiro de 1918 — Lisboa, 29 de maio de 1980) ficou (mais) conhecido pelos piores motivos: A Mula da Cooperativa e Casei com Um Velha, ambas, na minha opinião, de detestável gosto, apreciadas por quem gosta de coisas jocosas cantadas com sotaque. Mas Max foi um cantor e fadista de enorme sobriedade e bom gosto, tendo-nos deixado obra composta por si.  


Fiz leilão de mim

Talvez de razão perdida 
Quis fazer leilão da vida 
Disse ao leiloeiro; venda ao desbarato 
Venda o lote inteiro que de mim, estou farto 

Meus versos, que não são versos 
Atirei ao chão, dispersos 
P'ra ver se algum dia, um mundo pateta 
Por analogia diz que sou poeta 

Fiz leilão de mim 
E fui por fim apregoado 
E de mau que sou
Ninguém gritou "arrematado” 
Fiz leilão de mim
Tinhas razão minha almofada 
Com lances a esmo
Provei a mim mesmo 
Que não valho mais que nada 

Também quis vender meu fado 
Meu modo de ser errado 
Leiloei ternura, chamaram-me louco 
Mostrei amargura, o mundo fez pouco 

Depois leiloei carinho 
E em praça fiquei sozinho 
Diz-me a pouca sorte, que para castigo 
Até vir a morte, vou ficar comigo.

JdB

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