14 junho 2024

A educação como pormenor estético

Estive durante três dias num Hotel no Dubai. Parte substantiva das pessoas que lá estavam hospedadas eram ingleses provenientes de cidades laboriosas e industriais: pessoas muito tatuadas, com piercings, a tomar o pequeno almoço com chapéu de pala voltado para a nuca ou levar a boca ao prato, porque esse movimento é mais confortável do que levar um talher à boca. 

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Há alguns anos, numa festa semi-pública, fui-me apresentar a um ex-jogador de futebol, bastante mais novo do que eu, que era conhecido da minha filha. Ao ver-me aproximar dele, o jovem levantou-se e apertou imediatamente um botão do casaco.

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O que têm estas duas referências em comum? Uma certa ideia de educação. Ou, talvez para ser mais preciso, uma certa forma visível de educação - uma certa cultura traduzida em gestos.

A minha geração / rede social ou familiar foi educada numa série de gestos - ou ausência de gestos - que eram considerados manifestações de boa vontade. Alguns exemplos: não se estava de chapéu em casa, não se dançava com uma rapariga a fumar ou a beber, não se falava com uma pessoa de respeito com um casado desabotoado, não se almoçava ou jantava - ainda que fosse numa esplanada - de tronco nu. Também não se comia de boca aberta e era o talher que ia à boca, não a inversa.

Alguns hábitos mantêm-se, nomeadamente os que traduzem uma certa consideração por pessoas de mais respeito, como dar o lugar a alguém idoso. Por outro lado, como se explica a um jovem que não se fala com uma senhora com casaco aberto, ou que não se dança com uma rapariga a beber uma mini pelo gargalo, ou que não se toma o pequeno almoço com um chapéu de pala voltado para a nuca?  

Muitos gestos que traduzem uma certa educação são detalhes. Apertar um casaco para falar com alguém de respeito, apagar um cigarro antes de dançar com uma rapariga, ou tirar o chapéu dentro de casa são pormenores estéticos. Se formos confrontados com um jovem rebelde a nossa capacidade de argumentação é fraca. Se me perguntarem: mas porque é feio estar de chapéu de pala voltado para a nuca, o que é que respondo? Como se explica a estética num mundo que privilegia o funcional? Em bom rigor, qual é o mal de estar de chapéu dentro de casa? Nenhum! Qual é o mal de estar de casaco aberto a falar com uma senhora? Nenhum! São pormenores estéticos que num certo tempo traduziam uma educação, ou um respeito por alguém. 

Como se explica o detalhe ou a estética a quem não lhes dá importância?

JdB         

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