A maioria das vozes que, nos dias que se seguiram à divulgação do manifesto que apela a uma restruturação da dívida pública, tem alegado – e muito bem – que uma possível restruturação da dívida acarretaria, de forma irreversível, graves consequências económicas para Portugal. O Estado enfrentaria, durante décadas, um problema de financiamento nos mercados, como, de resto, se tem passado na Argentina desde que cessou os pagamentos ao exterior em 2002. No entanto, muito mais grave do que o inferno financeiro que daí adviria, prende-se com a questão moral. Por mais eloquentes que sejam as palavras esplanadas no documento, o Manifesto em questão, declaradamente, emerge a vontade dos subscritores em darem o calote. Lendo o texto, não deixa de chamar a atenção que, por mais que uma vez, é empregue o termo dignidade. Pois bem. Que dignidade tem um Estado, e, por arrasto, o povo por aquele representado, que não honra as suas dívidas? Será que os autores do Manifesto se apercebem que o dinheiro que nos foi emprestado é originado pelas poupanças de outros, sejam eles alemães ou portugueses? Ao contrário do que é muitas vezes apregoado, o mercado não é mais do que uma consequência das acções livres dos indivíduos. Neste caso, tratam-se de sujeitos que, inversamente ao Estado que nos (des)governa, são capazes de gerar saldos positivos e, com isso, financiam quem apenas cria défices e dívidas em catadupa.
Segundo consta, o principal mentor e autor do conteúdo do Manifesto dá pelo nome de João Cravinho. Não obstante qualquer personalidade estar no legítimo direito de lançar as ideias que achar apropriadas, quando e como entender, convém recordar que João Cravinho, antes da autoria do Manifesto, já tinha sido autor de dois dos maiores males que a economia portuguesa já sofreu. Em 1975, durante a malfadada experiência marxista que Portugal vivenciou, Cravinho desempenhou o cargo de ministro nos governos gonçalvistas, sendo o ideólogo das nacionalizações selvagens que arruinaram e descapitalizaram o que restava do sector produtivo português. Mais tarde, um pouco mais moderado mas não menos irresponsável e incompetente, enquanto ministro do Equipamento de António Guterres, resolveu construir dezenas de auto-estradas sem custo para o utilizador (SCUT) que, pelo suposto impacto económico, se pagariam a elas mesmas. Sem surpresa, a economia não cresceu e o país não se desenvolveu. E, claro está, que o que se seguiu a esta invenção corresponde ao período em que o Estado acumulou maior stock de divida. A tal que agora é para ser estruturada.
Pedro Castelo Branco
Subscrevo!
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