05 agosto 2014

Duas Últimas (em versão pot pourri)

Hoje, mas há seis anos, iniciava a minha viagem para o Zimbabwe, onde viveria dois meses. Já não sei se hoje, mas há seis anos, estava a partir, a chegar ou já lá estava, à espera de uma mala que chegaria dois dias depois. Foi um período forte e intenso sobre o qual escreverei um dia destes, derramando um olhar diferente do que tenho derramado.

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Um dia destes, ao ouvir a Rádio Amália, fixei um verso de um fado que oiço amiúde. E partilhei-o com um amigo que me ouve mais do que me diz, a quem envio coisas sob o título "lido por aí". O verso era: é prudente o silêncio / de quem só sabe sonhar. Fixei-o, porque hoje em dia a memória serve-me para isto, para reter fragmentos de textos ou de frases ou de versos, para me lembrar de pormenores de um quadro, ou um diálogo de um filme. São os meus punctum, para usar a expressão de Barthes. 

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O evangelho de domingo passado falava na multiplicação dos pães e dos peixes. O padre de serviço pregou bem, como sempre, falou na capilaridade das obras vicentinas, no conceito dos nossos pobres. A ideia caiu em desuso, morta pela caridadezinha mal feita e gozada nas canções de intervenção. Mas é um ponto de vista a reter: os nossos próximos, os nossos pobres, os nossos mortos. Usar-lhes esse pronome possessivo talvez dê uma dimensão de inclusão que Jesus pregou. Quando, face à largueza da multidão e à exiguidade dos víveres, os apóstolos sugeriram que a populaça debandasse, Cristo disse-lhes que todos deviam ficar. Naquele momento, tomou a multidão como os seus pobres. E aquela multidão somos todos e cada um de nós, a aguardar os 5 + 2 = 7 peixes e pães, que são a representação da totalidade.

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Deixo-vos com Linda Ronstadt, numa romagem de saudade "mexicana", pois foi um dos primeiros CD's que comprei. Bizarrias...

JdB




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