APORTAR
Primo Levi (1919 - 1987) morreu na sequência de uma queda nas escadas do prédio onde vivia. Há quem ache que se suicidou, há quem ache que morreu de acidente. Eli Wiesel diria que ele tinha morrido em Auschwitz, onde esteve preso, 40 anos antes.
Um dias destes apanhava uma conversa onde alguém dizia que o segredo da felicidade era não ter expectativas, porque se nada se esperasse da vida nenhuma desilusão se teria; esse alguém concordou comigo quando defendi que talvez o importante fosse ter uma gestão correcta das expectativas, que ninguém saudável conseguiria viver sem esperar nada. Ontem, em conversa com outro alguém, falou-se nisto também, na forma como conseguimos - e vemos vantagens ou não - gerir o que esperamos dos outros, como conseguimos lidar com as desilusões que os outros nos provocam, com que sentimento aceitamos - ou não - as diferenças. Ontem ainda encontrei um texto atribuído a Jordan Peterson sobre a forma de melhorar uma relação, seja com um cônjuge, um irmão, um pai, um filho, um amigo ou um colega. A regra nº 3 era: é difícil consertar alguém. É ainda mais difícil consertar alguém que não quer ser consertado.
Tudo isto está alinhado: o Jordan Peterson, as minhas conversas e o poema do Primo Levi - sobretudo este poema. O que queremos ser nas diversas fases da vida? Queremos sentar-nos junto da lareira com um paz serena? E este verso está alinhado com a ideia do homem que é feliz como uma chama extinta? Talvez a idade nos deva tornar mais sábios, para combater as guerras que vale a pena combater e não as guerras que nenhum valor acrescentam. Talvez a idade nos deva ensinar que não se tiram laranjas de figueiras e que não transformamos ninguém que não queira ser transformado. Talvez nem consigamos mesmo transformar de forma consistente quem queira ser transformado...
Que olhemos fixamente o sol que se põe, não como o fim de um dia, mas como algo que se repete e, como tempo de recolhimento, de regresso à casa sossegada, como diria S. João da Cruz, é um momento de particular beleza.
JdB
Sem comentários:
Enviar um comentário