As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
31 julho 2008
Outros tempos...
30 julho 2008
Swinging Bach Live Concert
Em Portugal, qualquer artista do musicól (é assim que se escreve, com o novo acordo ortográfico?) põe os espectadores a bater palmas a compasso - seja para a mula da cooperativa, para o povo que lavas no rio ou para o cheiro do bacalhau. No fundo, no fundo, o nosso grande desejo é bater palmas, como quem sente nisso o verdadeiro abrilhantar da festa.
Em Leipzig - povo diferente, hábitos diferentes - o artista põe as pessoas a cantar a Avé Maria de Gounod, enquanto ele "trauteia" o prelúdio de Bach.
Nós por cá é mais bolos...
Até lá é isto...
- Sim, todos os dias.
- E então, o que acha?
- Em tudo se vislumbra uma nota de tristeza…
- Talvez, talvez. Pois, não sei. Um bocadinho, se calhar. Agora que fala nisso. Não me tinha ocorrido. Deixe-me pensar. Não sei bem o que lhe diga. Olhe…
Nunca quis ser juiz e observo os que o são com um olhar misto: de irritação por uma sobranceria eventualmente pontual; de terror pelo facto das suas decisões poderem afectar, tão directamente, a vida de alguns; por último, de pena, por sentir que baila, nas suas mentes, o fantasma da dúvida ou a sombra da compaixão.
Se a vida fosse asséptica e perfeita, juízes e réus dormiriam a mesma qualidade de sono, seriam afectados pela mesma insónia que caracteriza os incomodados, e roncariam a mansidão que identifica os tranquilos de consciência. Adivinho ambos os extremos da cadeia da justiça vítimas de uma espertina maldosa, com os olhos esgazeados para um tecto que não vêem enquanto o relógio avança os minutos com um vagar de corredor da morte. Uns terão dentro de si a dúvida angustiante sobre a justiça da decisão, sobre a sua relativa irreversibilidade, sobre a data que se aproxima para a execução de uma pena. Os réus poderão questionar-se sobre a dimensão do castigo e a sua proporcionalidade ao crime cometido e lamentarão, quiçá, a incapacidade que tiveram de fugir ao comportamento desviante.
Alguém escrevia, como subtítulo ao seu espaço internético, que a vida é desenhada sem borracha. É verdade, no sentido, talvez, de não podermos apagar o nosso passado, calcetado de erros e acertos. Eu contribuo para esta visão de casa havaneza, atirando para o fundo da gaveta uma caneta de tinta permanente que mão amorosa me ofereceu. É a minha metáfora pessoal para afirmar que nada é, também, definitivo. Nem o que nos apraz, nem o que nos contrista. A lua e as suas fases reflectem isto mesmo, ao não oferecer a esperança ininterrupta do quarto crescente nem impor a desgraça constante do que é minguante.
- Em tudo se vislumbra uma nota de tristeza…
Olho para a vida dos juízes e dos réus (pensando que se confundem, por vezes, uns e outros, não se sabendo exactamente quem é quem). para a borracha e para a caneta que não fazem parte do kit que nos oferecem para a vida e penso que está tudo certo, está tudo como pode ser – sei lá se está como devia ser.
Partir é morrer um pouco, e até a contagem decrescente coincidir com o zero, que é o nada do inexistente, é tempo de abalada. Toda a viagem tem como prelúdio uma despedida que se vai fazendo ao ritmo do que nos manda o impulso ou a decisão. Negar o adeus a quem quer que seja é negar a natureza das coisas. Quando o olhar estiver para lá do horizonte, abrir-se-á uma nova frente na vida, feita daquilo que já foi, daquilo que é, e daquilo que está para vir.
Até lá é isto, para os poucos que me vão lendo.
Adeus, até ao meu regresso.
29 julho 2008
Jacques Loussier & Bobby Mcferrin- Bach Anniversary Leipzig
São 5'06'' de uma interpretação perfeita por parte de artistas que já passaram por Portugal. Eu fui um dos privilegiados que assistiu a um concerto do trio de Jacques Loussier. Enjoy it!
28 julho 2008
Da incerteza das nossas vidas
Palavras de que não gosto...
27 julho 2008
"Deus não é senão Amor"
(Viver o Evangelho, O último retiro do P. François Varillon, S.J., Editorial A.O. Braga 1995)
26 julho 2008
Abraços grátis
25 julho 2008
Milongas inolvidables
Presumindo que haja quem não sabe o que são milongas nem como se dançam... O filme não tem grande qualidade, mas percebe-se o suficiente.
Caso Maddie - entre o horror e o horror, o que escolhemos?
Por tudo isso - porque nada me move contra o investigador Gonçalo Amaral - espero que a tese da morte e ocultação de cadáver não se prove. Se isso acontecesse, e isto pode parecer um lugar-comum, uma parte da minha crença nos Homens morreria também.
24 julho 2008
A filha do tenente francês
23 julho 2008
"El tango es un pensamiento triste que se baila"
Fica aqui um vídeo delicioso (3'38'', para os que têm uma agenda apertada) mesmo que a delícia se situe no domínio do possidónio ou do lugar comum: o olhar apaixonado ou deslumbrado, a pequena multidão que se aproxima, o homem que tira o chapéu como que à passagem de algo que é maior do que ele, a senhora de touca de bilros, o balcão que pára de aviar bebidas.
Não percam!
Rotinas sempre diferentes
22 julho 2008
Uma visão ligeira e metafórica da resistência dos materiais
Dia de Santa Maria Madalena, penitente
(Josefa de Óbidos, 1650, óleo sobre cobre, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra)
21 julho 2008
Glenn Gould toca Beethoven
São 7 minutos e 16 segundos da maior perfeição, da maior criatividade, da maior elevação. Muitos dirão que não se podem dar ao luxo de perder tanto tempo em frente a um blogue. O segundo andamento do 5º Concerto está no domínio da genialidade, pelo que o conceito "tempo" não é aplicável.
Boa semana para quem me lê
20 julho 2008
A simplicidade
19 julho 2008
The Dark Side of the Moon ou The Sunny Side of the Street?
Ao longo dos últimos três anos, tive o gosto de colaborar na Associação – como moderador num grupo de pais ou como membro da Direcção. Pude então aperceber-me, com maior rigor, da crueza das estatísticas, da dimensão dos dramas, mas também da alegria das vitórias. Por maior que fosse a minha generosidade, nada compensaria o que recebi das pessoas com quem me cruzei – doentes, voluntários, pais, amigos. No deve-e-haver da minha relação com os outros, a Vida quis ser generosa comigo.
O cancro infantil é uma doença traiçoeira, porque atinge os mais fracos, os mais desprotegidos, aqueles que deveriam ter pela frente um percurso feliz, feito de amor e carinho, de brincadeiras inocentes, de sonhos que se não desfazem. Fernando Pessoa diria que o melhor do mundo são as crianças e a nossa sensibilidade mais elementar não consegue aceitar a injustiça que se abate sobre elas.
Somos o que somos e a nossa circunstância. Apesar das rasteiras da vida, não consigo deixar de pôr as palavras «esperança» e «sucesso» ao lado do logotipo da Acreditar. Apesar dos atropelos do destino, não consigo abdicar desta Fé que me leva a crer em dias melhores, me dá forças redobradas, me orienta o caminho. Apesar dos desânimos momentâneos, obrigo-me a imaginar o dia de todas as vitórias.
Este livro também é dedicado, de uma forma especial, à Acreditar e a todos os que combatem diariamente uma luta sempre desigual, sempre injusta. Aos voluntários, que abdicam da certeza das suas vidas para se oferecerem às incertezas dos outros, nem sempre sabendo que se recebe muito mais do que se dá; às crianças – não só as que evidenciam que o sucesso é possível, mas também aquelas cuja partida deixou visível um rasto de afecto que contamina os corações; é dedicado, por último, aos pais, esses lutadores incansáveis que escondem a tristeza que diminui por trás do sorriso que conforta, que acreditam, não no fim das coisas, mas na vida que se renova todos os dias.
(João de Bragança, 19 de Março de 2005, no prefácio do livro Deus pregou-me uma partida, em co-autoria com Rita Jonet)
18 julho 2008
Poema do dia
Toda a beleza faz chorar?
O Pronome Possessivo teve a excelente ideia de postar, um dia, a Lacrimosa, do Requiem de Mozart. Fechei os olhos e ouvi o tema pela milionésima vez, invejoso de uma mente que conseguiu criar uma obra tão sublime que me tira da terra e me leva a um outro mundo.
Quanto comentei - quase sob impulso - ocorreu-me um pensamento: tudo o que é verdadeiramente belo, em qualquer forma de arte, tem o seu quê de tristeza. Não consigo encontrar (tanta) beleza na alegria. Talvez encanto, ternura, satisfação. Mas Beleza?
Perante a discórdia de algumas pessoas, meditei sobre o assunto e refiz o raciocínio, do qual não saio: pelo menos na música, tudo o que é verdadeiramente belo é triste.
O vídeo que partilho mostra isto mesmo. Fechem os olhos (até porque a imagem não mexe), oiçam, e digam-me se não tenho razão.
17 julho 2008
Marés Cheias
A vida triste dos palhaços...
16 julho 2008
Um blogue? Tu?
Pois é...
Durante muito tempo os blogues passaram-me ao lado. Não lhes ligava, não lhes via um encanto por aí além, não criei hábitos de visita. Nem sequer àqueles que eram supostas referências nacionais.
Por via de uma amizade com duas bloguistas, tornei-me bloyeur (palavra com direitos de autor) habitual e ousei comentar alguns posts sob pseudónimo. Criei dois personagens diferentes mas, como não tenho veleidade intelectual de alimentar heterónimos, dei por mim a confundir tudo - e a revelar-me.
***
Dia 4 de Agosto sigo para o Zimbabué, onde ficarei cerca de dois meses. Beneficiarei da hospitalidade do actual embaixador, que me dá o gosto de uma amizade com quase 40 anos. O que vais lá fazer? perguntarão alguns, enquanto olham para um Mugabe a quem não confiaríamos uma tartaruga, para um país que parece a ferro e fogo, para um continente onde não se consegue pronunciar a palavra democracia, embora nos pareça que há sempre gente que canta e dança alegremente, num frenesim de inconsciência, miséria e cegueira política.
Vou por um conjunto de motivos, alguns bem prosaicos: Agosto e Setembro são meses em que me poderei dar ao luxo de exercer uma parte da minha actividade profissional a milhares de quilómetros, graças à Internet; por outro lado, conto fazer turismo, conhecer uma parte (e estou certo de que o vou fazer) do fascínio de África; aproveitarei para ler e para escrever. Conto também - passe o cliché do pensamento - olhar para o passado, atentar no presente e pensar no futuro.
***
O blogue que agora inicio (e agradeço à Ana Vidal o apoio técnico e estético, sem a qual nada disto teria sido possível) tem como motivo principal uma presunção: a de que alguns amigos gostarão de saber o que faço, com quem e porquê. É uma forma, afinal, de partilhar o meu dia-a-dia, agora que o fascínio do postal ilustrado é um actividade de alfarrabista. O que for colocando até à data da minha partida serve, também, como treino para este actividade que me é, ainda, um pouco hermética.
Como provavelmente a maioria dos blogues, este não tem linha editorial definida, a não ser o que entra naquilo que me apetece partilhar com quem me lê. Está tudo pensado para a minha estadia em Harare, num hectare muito bonito a que ainda podemos chamar solo pátrio. Quando regressar, logo se vê. Gosto do nome de um disco já antigo: hoje há conquilhas, amanhã não sabemos.
Adeus, até ao meu regresso...
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