As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
30 abril 2010
cidade cinza
a semântica recorrente dissolve-se, está gasta,
é enxofre o que entra pela janela-precipício,
é fraca a moeda que o ácido tempo arrasta.
chumbo é a cor deste dia, inundação inteligente
mas não inteligível, saudades e pedra - basta -,
quando o que procuras é um sonho-que-é-gente,
nem mais, nem menos que a tua cidade dilacerada
reerguida, insurgente, ladina, uma mulher-cidade
restituindo ao tempo traços roubados ao fúnebre nada.
uma coisa louca - insone, insana - linda de verdade
(arrancar a máscara negra, ousar o salto na passada.)
gi.
29 abril 2010
Deixa-me rir...
I hope you enjoy.
A proxima.
PO
28 abril 2010
Sei que estás aí
Para ti, C R S
Eu sei que estás aí.
Não me respondas que não é preciso. Achas que enganas quem? Se quiseres passar despercebido não faças tanto barulho para a próxima vez.
Chamaram-me maluca a última vez mas, eu não ouço quem não me entende, sei que estás aí e que ainda tens coisas para me dizer.
Não, não é o vento.
És mesmo tu!
Pus a tua música preferida no outro dia, fechei os olhos e até te senti a dançar que nem uma pessoa maluca.
Também foi o vento?
Tenho tantas coisas para te contar... mas vou falar baixo para as pessoas à minha volta não acharem que falo com o ar. Se acharem? Azar o delas. Tu sabes que eu não estou louca. Tu sabes que estás ao pé de mim.
Quem é que me acordou no outro dia quando não ouvi o apito do relógio?
Gosto que me julgues e que me chames à atenção quando não faço o que devo, sempre foste assim, sempre tiveste jeito para grilo falante mas agora, fazes-me sentir à tua maneira que estou a fazer disparates.
Sinto-te ao meu lado todos os dias, sinto que me observas, que te ris do meu jeito desajeitado, de quando os meus bolos saem queimados do forno ou quando me esqueço de tudo em todo o lado. Mas aí já não me ajudas, olha que tu também...
Sinto-te ao meu lado,
Sinto-te em todo o lado,
Podes-te esconder melhor na minha sombra, podes tentar fazer menos barulho,
Podes dizer-me ao ouvido que é o vento,
Mas eu sei, eu sei sempre que estás aí.
TdB
27 abril 2010
As paixões da alma
Realizaram-se neste fim-de-semana que passou, como já é hábito há alguns anos, os dias da música no CCB. Quem olha para o que é proposto acha que esta é a forma encontrada pelo CCB para conseguir entrar para o livro do Guinness. São dois dias (não conto com o primeiro, que tem só o de abertura) ‘apinhados’ de concertos. O programa não tem um único furo. Não há cá pausas para o café. É tudo seguido, desde as onze da manhã até à meia-noite, com muitas sobreposições pelo meio.
É o segundo ano que vou. E, pelas duas experiências, parece-me que é o segundo de muitos. O ano passado os dias tiveram como tema Bach. Tive o prazer de assistir (juntamente com o dono deste estaminé) a um excelente concerto.
Este ano o tema foi ‘As Paixões da Alma’. Quem espreitou o programa percebia que as paixões da alma englobam de tudo. Desde recitais de piano a peças para coro e orquestra passando por tango, acabando num homem que fazia música com copos de cristal. Agradava a gregos e a troianos.
Depois de analisar o programa escolhi três concertos. Uma maratona entre as seis da tarde e a meia noite. O primeiro era o de um pianista turco conhecido principalmente pelas suas interpretações características de peças clássicas e não só. Mas, como se sabe, os turcos são pessoas que adoecem com muita facilidade. Deve ser da brisa fria que sopra ali à beira-mar. E por motivo de doença do pianista o concerto ficou sem efeito.
O CCB tratou de arranjar um substituo. Tenho o maior respeito pelo Sr. Jorge Moyano (que tem enormes parecenças físicas com o Avô Cantigas) mas, sinceramente, não era quem eu queria ver tocar. Ainda assim assisti ao concerto, porque sempre se ouve qualquer coisa nova. As peças eram todas de Schumann. Não conhecia nada dele e, no fim, acabei com pouca vontade de conhecer mais. Não tenho uma dúvida de que é por falta de cultura musical minha, mas tudo o que ouvi me disse pouco.
O segundo concerto foi de um cantor norte-americano chamado Corey Harris. Blues puros. Guitarra, voz e um pé a bater no chão para marcar o passo. Foi um excelente concerto. Não lhe dou 10/10 porque houve ali três ou quatro músicas a puxar para o reggae, que não beneficiaram ninguém. Nem a mim, porque acho que é sempre a mesma coisa, nem a ele, que não conseguia explorar todo o potencial voz / guitarra.
Acabado este, foi correr para o grande auditório para o último concerto da maratona. E este sim, foi uma verdadeira paixão da alma. Um coro Gospel, com a ajuda de um piano, de um baixo e de uma bateria. É um cliché dizer que transmitem uma alegria contagiante a cantar, mas acho que essa é a única justificação para, em algumas músicas do concerto, o grande auditório - à pinha - estar de pé a cantar, a dançar e a bater palmas.
Ainda mais espantoso é perceber que este público não é propriamente do género de acompanhar o que se passa em palco com dança e cantoria. Mas a verdade é que vi pessoas de oitenta anos a abanar as ancas como se não houvesse amanhã. Fica abaixo um cheirinho do que se passou, e recomendo que não percam o espectáculo quando eles cá voltarem.
SdB (III)
26 abril 2010
Gula
Levantava-se sempre pelas seis horas, qualquer que fosse a estação do ano. Era rápido no banho, no café e na torrada e saía a correr, porque havia que dar o pequeno-almoço à comunidade de idosos que vivia perto de si numa moradia que o tempo, a humidade e as desavenças familiares tinham arruinado parcialmente.
Pela hora de almoço sentava-se frente a uma sanduíche e a um sumo natural e redigia cartas, preparava balancetes, desenvolvia projectos e planos de negócio, gizava cronogramas com um rigor relojoeiro. Era o seu voluntariado em prol de uma associação de deficientes à qual se ligara por via do filho de um colega de faculdade.
Ao fim da tarde, quando o bulício da cidade anunciava o regresso a casa, Henrique ia distribuir jantares aos sem-abrigo a quem conhecia os nomes, as doenças e os passados – porque os futuros eram um exercício difícil de adivinhação. Quando o relógio da igreja onde dava catequese aos domingos assinalava a meia-noite, o jovem economista ainda arranjava tempo para navegar na internet – não nas redes sociais como fazia meio mundo, mas nos sites oficiais, procurando um programa comunitário, um prémio, um fundo, uma ajuda financeira. De facto, as crianças em risco mereciam-lhe toda a atenção.
Foi numa dessas noites frias e chuvosas, quando distribuía uma sopa de legumes fumegante a quem vivia na rua embrulhado em cartão canelado, que conheceu a Carolina. Trocaram um olhar breve, carregado daquela cumplicidade que une quem se dedica à caridade. As mãos tocaram-se fugazmente quando se organizaram para entregar tabuleiros, recolher canecas vazias, distribuir um par de meias quentes.
Três semanas depois Henrique dirigia-se às avenidas novas onde, num terceiro esquerdo elegante e discreto, vivia a Carolina, uma licenciada em Direito e especialista em fiscalidade num escritório de renome. Já se conheciam minimamente, tinham trocado experiências e opiniões sobre a solidariedade, a vacuidade das vidas, o egoísmo das opções, o serviço ao próximo, a importância do combate à pobreza e à exclusão.
Mas o jantar de hoje tinha um outro fim, mais carnal, mais afectivo, mais erótico. Afinal, eram dois adultos livres, solteiros, independentes, que se juntavam para gozar da companhia mútua e de uma noite previsível de amor.
Carolina estava deslumbrante, vestida com uma roupa que assentava tentadoramente num corpo que, não sendo perfeito, provocava a inveja de muitas colegas e o desejo de inúmeros clientes. Após o jantar sentaram-se num sofá e, pouco tempo depois, enroscavam-se num beijo longo, sensual, húmido, carregado de erotismo. Henrique correra-lhe o corpo com as mãos e ela entregara-se sem restrições, ambicionando também uma noite que se prolongasse sem fim.
- Espera, dissera ela com a roupa semi-desabotoada, deixa-me por música e acender umas velas. Levantou-se mas deixou-lhe outro beijo ardente, sentindo-lhe as mãos sem recuo.
Baixou as luzes, acendeu uma velas e colocou um disco na aparelhagem. Tinha-lhe dado as costas e lentamente – muito lentamente – tirara todas as peças de roupa enquanto Joe Cocker cantava, na sua voz característica, you can leave your hat on... A fiscalista estava integralmente nua e rodou lentamente, antevendo a emoção que provocaria no seu namorado ao revelar-se por inteiro – e pela primeira vez.
Henrique, o homem que servia os pequenos-almoços aos idosos, que construía business plans para associações de deficientes, dava catequese, distribuía sopas aos sem-abrigo e investigava fundos comunitários para crianças em risco dormia profundamente, com a boca ligeiramente aberta e uma mão solta de onde se penduravam uns óculos periclitantes.
Sabes qual é o teu mal, Henrique? - afirmou Carolina num monólogo frustrado, enquanto calava o Joe Cocker, apagava as velas e cobria uma nudez que só ela via – é que tu não fazes caridade. Tu sofres é de gula. E isso não é um pecado?
JdB
25 abril 2010
Domingo .... Se fores à Missa!
«As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me.
Dou-lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão.
O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai.
Eu e o Pai somos Um.»
24 abril 2010
Pensamentos impensados
Diz-se que voz do povo é voz de Deus; a ser assim, Deus não é coerente como vou passar a demonstrar, citando a tal voz do povo.
Gordura é formosura; por outro lado magreza é beleza.
Nunca é tarede para aprender,, no entanto, burro velho não aprende línguas.
Quem vai para a cama sem ceia toda a noite rabeia; mas surge a contradição que afirma... de grandes ceias estão as sepulturas cheias.
Quem espera sempre alcança; mas... quem espera desespera..
Quem é incoerente, quem é?
Dois rifões impensados:
Diz-me com quem andas, dir-te-ei com quem não andas.
23 abril 2010
todos os nomes
lembram-me os fogos fátuos
da infância, portas de cemitérios,
o anúncio inclemente aos vivos
de que a sua hora
chegará.
por exemplo, um homem.
um homem ao sol, segurando
um jornal - de ontem e de amanhã -,
enquanto dóceis cãezinhos coloridos
dão cor e vida - e um patusco sorriso -
ao quadro.
não sei se é desta teimosa neblina,
ou só desespero como diz alguém,
ali à esquina,
mas também a mim às vezes
mete nojo o que fazemos do amor
que fazemos.
as palavras são então
como catedrais esculpidas na pele
estátuas retalhadas a coração
e lápis de cor
um'outra forma de amor
- que sei eu?
repara no homem e nos cãezinhos
que lhe embalam a velhice.
diz-me: como posso sentir-me
mais perto do homem que dos amigos?
mais perto dos cãezinhos que do homem?
mais perto de ti do que de mim?
talvez sim, talvez não.
entretanto mergulho fundo no dia,
e finjo ser o que é possível
- como o meu nome:
que sabemos tão bem ser gi,
mas fingimos ser joão.
gi.
22 abril 2010
Deixa-me rir...
Há músicas que acordam sensações físicas, quase tácteis. Foi o que Isabel sentiu ao sentar-se ao lado de Luís nessa noite fresca de Junho. Cadeiras gémeas, um computador e uma pequena janela a abrir para o casario e para os barcos num Tejo de breu. Um pequeno apartamento cheio de livros, cd’s e tapetes velhos. Tecto baixo e esconso, paredes com salitre e posters de filmes antigos. Cinzeiros cheios de beatas e um saco do lixo à porta.
Luís era DJ e tinha sido convidado para pôr música numa mega festa da sociedade lisboeta. Como para além da música era um entendido em engenhocas e electrónica, tinha pensado em projectar imagens ou vídeos que ilustrassem as canções seleccionadas. A festa era dada por um grupo de amigos que celebravam em conjunto os seus 55 anos, pelo que as escolhas tinham sido maioritariamente revivalistas, ritmadas, alegres, com alguns bons slows pelo meio. A festa teria lugar no Museu da Electricidade pelo que as enormes paredes brancas seriam o cenário perfeito para a projecção de slides e filmes sobre os aniversariantes e dos vídeos escolhidos.
Vem, dissera-lhe Luís, puxando-a alegremente por um braço, deixa-me mostrar-te os vídeos que seleccionei. Sentou-se ao lado dele, encostada a ele. Isabel adorava estes momentos em que as palavras partiam para parte incerta e só a música “falava”. Isabel gostava de ouvir o Luís “falar” através da “sua” música.
E assim se passaram trinta minutos de brincadeira, de risos e de uma cumplicidade construída ao longo de muitos meses. E no trigésimo primeiro minuto, algo aconteceu. Passava o vídeo do Tony Bennett entoando “For once in my life”. Isabel sentiu um arrepio percorre-la aos primeiros acordes da música. E toda a sua atenção se prendeu, instantaneamente, ao movimento da câmara avançando lentamente pela grande sala de espectáculos, aos acordes da orquestra e à voz aveludada do TB. De repente, sem mais nem porquê, sentiu que um imenso véu, setim puro, a envolvia numa súbita onda de frescura e bem-estar. Parecia-lhe que um imenso tecido, sem peso nem substância, mas estranhamente táctil, descera sobre si, envolvendo-a a ela e a mais ninguém. E nesses segundos inexplicáveis, sentiu a confluência da Razão e do Espírito. E percebeu que nada mais seria como dantes.
Isabel apertou a mão do Luís, desviou o olhar para as luzes reflectidas no Tejo e deu graças a Deus.
21 abril 2010
Vai um gin do Peter’s ?
Iniciação de Michael na fábula preferida dos Tuohy, em que o protagonista da estória tem o seu retrato…
- Afinal, o primeiro gesto generoso – de acolhimento de Oher – é apenas o começo de uma avalanche de novidades, simbolicamente referida no desabafo cómico dos pais (republicanos), a propósito das convicções democráticas da nova explicadora, contratada para tentar o milagre da sua admissão à universidade. De facto, quantas vezes, a vida nos arrasta num tsunami de surpresas, incontível e até divertido. E nisso (ou será em quase tudo?) supera, em muito, a ficção!
- Afinal, o sonho acontece, sempre que o círculo de pobreza é quebrado por uma mão, ou melhor, uma mãe e toda uma família salvadora!
The Blind Side é, afinal, aquela mão direita, que dispensa saber o que faz a outra… Não conheço muitos assim, embora esteja tanto ao nosso alcance!
Vale a pena ver e ouvir as personagens reais, em discurso directo:
Aposto que o mundo seria mais festivo se o nosso blind side melhorasse um bocadinho o percentil em favor dos que se cruzam connosco, enregelados…
Uma cumplicidade que foi crescendo, dia após dia.
Abraço a cada um,
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
_______________________
FICHA TÉCNICA:
Título original: The Blind Side, evolution of a game
Tradução: O Sonho é Possível
Realizador: John Lee Hancock
Elenco: Sandra Bullock
Quinton Aaron
Kathy Bates
Tim McGraw
Lily Collins
Jae Head
Ray McKinnon
Ashley LeConte Campbell
IronE Singleton
Produção: Broderick Johnson, Andrew A. Kosove, Gil Netter
Argumento: John Lee Hancock, baseado em livro de Michael Lewis
Fotografia: Alar Kivilo
Duração: 128 min. Ano: 2009
País: EUA Distribuidora: Warner Bros.
Estúdio: Alcon Entertainment / Warner Bros. / Zucker/Netter Productions
20 abril 2010
Balão
Vieram antes do tempo, os mosquitos peganhentos, ou então é a chuva, que se demorou demais e engana a gente. Entram pela janela, que já se vai deixando aberta, e tropeçam em tudo antes de chegar à luz do tecto. Consigo ouvi-los ralhar, bêbados com o cheiro a gente, embrulham-se neles próprios e nos cabelos dos corpos, numa aflição que me desperta mais o nojo que a compaixão. Enxotam-se com paciência, não incomodam tanto como o retesar involuntário dos músculos do pescoço, o esternocleidomastoideu e os seus primos direitos, que reclamam dias mais curtos e menos marrecos. Os livros vão-nos esticando as ideias quase na mesma medida com que nos vão encurvando as costas. Estou cansado.
A rua não tem ninguém. Parece que as pessoas se escondem da noite e, com a pressa, abandonam metade das coisas do dia. Juntam-se dentro das casas, onde há mais luz, como os mosquitos, e vão enjoando, tropeçando, bebendo e ralhando, até o sono os enxotar para a cama. Vejo um balão abandonado, preso ao mundo por um fio, e decido levá-lo comigo.
À espera do metro está um miúdo louco, com umas sapatilhas brilhantes e uma camisola pequena demais. Bate furiosamente com os pés, como que a espantar-se a si mesmo, e a mãe dele suspira, sentada mais abaixo, Guilherme, então?. O desconforto de ambos é evidente, não porque o comportamento do pequeno seja inoportuno ou incomodativo, afinal, a noite está praticamente vazia, mas porque uma qualquer mudança nas rotinas de ambos os trouxe até aqui. A caminho de casa.
O passeio cola debaixo das solas os restos de um jantar que se revoltou à saída do restaurante, faço um contra-ritmo com o chiar dos passos. Finjo que ninguém está a ver e aproveito para animar o serão das viúvas que dormitam tristezas atrás dos vidros, dou dois pulos e duas voltas ao candeeiro, pulo outra vez e bato os calcanhares. Contrariam-se com o mesmo fôlego a corcunda do dia e as mágoas de quem se refugia à janela. Toco à campainha.
Sabe bem ter quem nos espere, ou pelo menos quem nos faça acreditar que somos esperados. Seis ou sete lanços de escadas são seis ou sete saltos. Trago-te uma prenda, recebes-me com um sorriso e pegas no balão, que se estica em direcção à luz do tecto, para junto do único mosquito que deixaste entrar, É dos que sobem!
18 abril 2010
Poemas dos dias que correm...
do meu nome.
Dia após dia, levanto, sem descanso,
este muro à minha volta;
e à medida que se ergue no céu,
esconde-se em negra sombra
o meu ser verdadeiro.
Este belo muro
é o meu orgulho,
que eu retoco com cal e areia
para evitar a mais leve fenda.
E com este cuidado todo,
perco de vista
o meu ser verdadeiro.
Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
(Tradução de Manuel Simões)
3º Domingo do Tempo Pascal
EVANGELHO – Jo 21,1-19
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos,
junto do mar de Tiberíades.
Manifestou-Se deste modo:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo,
Natanael, que era de Caná da Galileia,
os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar».
Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo».
Saíram de casa e subiram para o barco,
mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem,
mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus:
«Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus:
«Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis».
Eles lançaram a rede
e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro:
«É o Senhor».
Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor,
vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos,
que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem,
vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra,
viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus:
«Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco
e puxou a rede para terra,
cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes;
e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer».
Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe:
«Quem és Tu?»,
porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho,
fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez
que Jesus Se manifestou aos seus discípulos,
depois de ter ressuscitado dos mortos.
Depois de comerem,
Jesus perguntou a Simão Pedro:
«Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros».
Voltou a perguntar-lhe segunda vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Ele respondeu-Lhe:
«Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas».
Perguntou-lhe pela terceira vez:
«Simão, filho de João, tu amas-Me?»
Pedro entristeceu-se
por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava
e respondeu-Lhe:
«Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo».
Disse-lhe Jesus:
«Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo:
Quando eras mais novo,
tu mesmo te cingias e andavas por onde querias;
mas quando fores mais velho,
estenderás a mão e outro te cingirá
e te levará para onde não queres».
Jesus disse isto para indicar o género de morte
com que Pedro havia de dar glória a Deus.
Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».
17 abril 2010
Convite
16 abril 2010
to catch a thief
como se ao volante de um esvoaçante bólide super-desportivo,
beijando ao de leve o asfalto das esbeltas estradas do mónaco,
ao lado de uma morena de estalo e vestido mais do que negro.
mas a vida não é um filme de hitchcock, nem um livro strawberry light,
- antes o mesmo exacto bólide, fundindo-se agora contra um rochedo.
gi.
15 abril 2010
Deixa-me rir...
In fact Don McLean was himself the inspiration for another classic song, after the writer heard him perform in concert.
Here is the incomparable Roberta Flack and Killing Me Softly With His Song:
Strumming my pain with his fingers
Singing my life with his words
Killing me softly with his song
Killing me softly with his song
Telling my whole life with his words
Killing me softly with his song
I heard he sang a good song
I heard he had a style
And so I came to see him
To listen for a while
And there he was this young boy
A stranger to my eyes
I felt all flushed with fever
Embarrassed by the crowd
I felt he found my letters
And read each one out loud
I prayed that he would finish
But he just kept right on
He sang as if he knew me
In all my dark despair
And then he looked right through me
As if I wasn't there
And he just kept on singing
Singing clear and strong
He was strumming my pain
Yeah, he was singing my life
Killing me softly with his song
Killing me softly with his song
Telling my whole life with his words
Killing me softly
With his song
A proxima,
PO
14 abril 2010
Good morning sunshine
13 abril 2010
John. Paul. George. Ringo.
SdB (III)
12 abril 2010
Luxúria
11 abril 2010
Poemas dos dias que correm...
Somos seres olhados
Quando os nossos braços ensaiarem um gesto
fora do dia-a-dia ou não seguirem
a marca deixada pelas rodas dos carros
ao longo da vereda marginada de choupos
na manhã inocente ou na complexa tarde
repetiremos para nós próprios
que somos seres olhados
E haverá nos gestos que nos representam
a unidade de uma nota de violoncelo
E onde quer que estejamos será sempre um terraço
a meia altura
com os ao longe por muito tempo estudados
perfis do monte mário ou de qualquer outro monte
o melhor sítio para saber qualquer coisa da vida
Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"
2º Domingo do Tempo Pascal
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
10 abril 2010
Fotografias dos dias que correm (2ª parte)
Apresentamos hoje (e no sábado passado) parte das fotografias que fazem parte, também, deste livro. Fotografias fortíssimas, riquíssimas nos seus contrastes de luz e sombra, cor e nitidez. Fotografias desoladas que nos remetem para um universo de despojos, de um consumismo rápido, esbanjado e esquecido. São carcaças de carros… mas poderiam ser frigoríficos, micro-ondas, máquinas de lavar, sofás esventrados, armários de cozinha …
E para quem quiser ficar a saber mais sobre a Rita e o seu trabalho: http://www.ritaburmester.com/
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