As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
04 dezembro 2025
03 dezembro 2025
Vai um gin do Peter’s ?
LUGARES ANTIGOS, AINDA ACTUAIS
Numa escolha de destinos difíceis, Leão XIV manteve-se fiel à viagem traçada pelo Papa Francisco, para visitar locais importantes dos primeiros tempos do cristianismo, hoje habitados por grupos étnicos variados e confissões religiosas diversas.
Na Turquia orgulhosamente otomana e maioritariamente muçulmana, impressionaram as multidões que aclamaram o Papa nas ruas e nas principais celebrações, para além do bom acolhimento dispensado pelas autoridades turcas, começando pelo Presidente Erdogan. A amizade dos Papas mais recentes com o Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla (ortodoxo), mantém-se com Leão XIV, acrescentando calor e sintonia à visita papal a um país pouco aberto aos cristãos.
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| Impressionou Erdogan com a saudação à chegada ao aeroporto, num turco perfeito. |
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| A Turquia encheu-se de mensagens de boas-vindas ao Papa, na língua local. |
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| Com o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla. |
As coincidências históricas também marcaram a viagem. Por exemplo, no lugar onde decorrera, há 1700 anos, o Concílio de Niceia (hoje submerso), voltaram a estar reunidos os 5 Patriarcas que havia à época: de Constantinopla, de Jerusalém, de Roma (o Sumo Pontífice), de Alexandria e de Antioquia.
No segundo destino – o Líbano, que já fora considerado a ‘Suíça do Oriente’ devido à pujança económica e à beleza natural – multiplicaram-se os episódios tocantes, começando pela visita ao Hospital da Cruz, perto de Beirute, onde são acolhidos doentes psiquiátricos pobres e problemáticos, de qualquer confissão religiosa. Explicou o Papa que quis visitar aquele lugar, porque Jesus morava ali. Continuou: «Dear brothers and sisters who are burdened by illness, I would like to remind you that you are close to the heart of God our Father. He holds you in the palm of his hand; he accompanies you with love; and he offers you his tenderness through the hands and smiles of those who care for you. (…) What is lived in this place stands as a clear reminder to all — to your country, but also to the whole human family. We cannot forget those who are most fragile. We cannot conceive of a society that races ahead at full speed clinging to the false myths of wellbeing, while at the same time ignoring so many situations of poverty and vulnerability. Particularly as Christians, as the Church of the Lord Jesus, we are called to care for the poor. The Gospel itself asks this of us, and we must not forget that the cry of the poor, echoed throughout Scripture, challenges us.»
Comovida e extenuada, a Superiora da Congregação responsável pela gestão do hospital contou ao Papa as enormes carências com que se debatem, sem conseguir conter as lágrimas: «Our mission is a daily miracle, as those who have experienced it can attest. How has a humble institution, devoid of all resources, been able to remain steadfast in the face of the horrors of explosions, famine, epidemics, and the collapse of state institutions?»
O programa incluiu a visita a locais especialmente massacrados por desastres e pela guerra. A pobreza causada pela turbulência política e pela grave económica tem sido agravada pela sangria humana, com a emigração de muitos, sobretudo dos mais novos e promissores, sobretudo dos cristãos. A esses, Leão XIV lançou-lhes o desafio: «There are times when it is easier to flee, or simply more convenient to move elsewhere. It takes real courage and foresight to stay or return to one’s own country, and to consider even somewhat difficult situations worthy of love and dedication». De facto, vários dos emigrados regressaram ao Líbano para receber o Papa. Um dos casos noticiados foi o do engenheiro surfista – Jeff, de 37 anos – que se mudara para a Austrália, após a misteriosa e mortífera explosão num armazém do porto de Beirute, em 2020. Trabalhava nas proximidades e só fora poupado, porque se ausentara temporariamente. Quando voltou, já só viu escombros e os restos dos amigos calcinados. De novo em Beirute, Jeff põe a hipótese de se reinstalar na sua cidade natal, para ajudar a reconstruir o seu país.
Antes de rumar ao Vaticano, Leão XIV pediu aos libaneses coragem para voltarem a ser o expoente do ecumenismo, na senda da definição poética do Papa João Paulo II: o Líbano é mais do que um país, é uma mensagem! Concluiu a sua primeira Visita Apostólica pedindo: «Escolham a paz como caminho e não apenas como meta». Noutros momentos, convidou turcos e libaneses a: «Let us learn to work together and hope together, so that this may become a reality. (…) We hope to involve the entire Middle East in this spirit of fraternity and commitment to peace, including those who currently consider themselves enemies» [citado na língua das publicações consultadas].
Por cortesia do autor, segue um relato muito vívido das celebrações na antiga Niceia, curiosamente, com o foco em duas grandes Senhoras:
«POR BAIXO DE ÁGUA
ameaçada pela heresia ariana. Como todas as heresias,
o arianismo queria «racionalizar» a fé: rejeitava
o mistério da Santíssima Trindade tal como Deus
no-lo revelou, interpretando-o, para ficar mais simples.
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| Encontro ecuménico de oração, na margem do lago İznik. |
A viagem do Papa Leão XIV à Turquia e ao Líbano (27 de novembro a 2 de Dezembro) comemora o primeiro concílio ecuménico, realizado em Niceia, há 1700 anos (ano 325). As perseguições tinham acabado oficialmente uma dúzia de anos antes, ao fim de três séculos intensos, e por isso a Igreja pôde reunir-se novamente, como não acontecia desde o Concílio de Jerusalém, no tempo dos apóstolos. Participaram no I Concílio de Niceia 318 bispos, quase todos do Médio Oriente, do Norte de África e da Grécia. Parece que apenas cinco eram ocidentais. O Papa Silvestre foi representado pelo Bispo Ósio de Córdova e enviou dois presbíteros romanos.
Foi o Imperador quem convocou a assembleia e decidiu o lugar, como escreveu numa carta aos bispos de todo o mundo: «(…) combinou-se inicialmente que o sínodo dos bispos se realizaria em Ancara, na Galácia, mas pareceu-nos agora, por muitas razões, que seria melhor que se reunisse na cidade de Niceia, na Bitínia: tanto por causa dos bispos que vierem de Itália e de outras partes da Europa, como por causa do bom clima, e porque eu serei de perto um observador e participante nas coisas que estão prestes a acontecer».
A mudança justificava-se porque Niceia se situa a poucos quilómetros do Mediterrâneo e Ancara fica num planalto no meio da actual Turquia. O sínodo decorreu realmente sob a presidência do Imperador, no seu palácio de Niceia. Como essa parte da cidade foi submersa pelas águas do lago İznik, o Papa Leão XIV e os patriarcas presentes comemoraram o concílio da margem do lago.
Helena, Mãe do Imperador Constantino, esteve presente? Era uma mulher absolutamente extraordinária. Tinha então cerca de 80 anos, mas uma inteligência invulgar e uma vitalidade inesgotável. Um ano depois do Concílio de Niceia começou a sua viagem mais famosa, uma peregrinação à Terra Santa, onde promoveu obras imponentes que perduram até hoje. De origem humilde, Helena foi primeiro notada pela sua beleza e depois pela generosidade, pela capacidade de liderança e pela piedade. Constantino admirava profundamente a sua mãe, que a Igreja ainda hoje celebra como Santa Helena. Talvez Santa Helena tenha acompanhado o concílio, presidido pelo filho.
O objectivo do Concílio de Niceia foi restabelecer a unidade dos cristãos, ameaçada pela heresia ariana. Como todas as heresias, o arianismo era uma tentativa de «racionalizar» a fé da Igreja: em vez de aceitar o mistério da Santíssima Trindade tal como Deus no-lo revelou, interpretava-o, para ficar mais simples. Em vez de um só Deus em três Pessoas distintas (Pai, Filho e Espírito Santo), haveria só Deus-Pai e Jesus seria uma criatura intermédia entre Deus e os homens, não a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
A poucos dias de partir para a peregrinação apostólica à Turquia e ao Líbano, o Papa Leão XIV resumiu na Carta apostólica «In unitate fidei» (na unidade da fé) a história e o conteúdo doutrinal deste concílio: uma carta breve, de leitura imprescindível para qualquer cristão.
A Constituição «Lumen gentium» do Concílio Vaticano II refere que os cristãos «(…) levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes» e acrescenta que «a Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação (…). Pois Maria, entrou intimamente na história da salvação, e, por assim dizer, reúne em si e reflecte os imperativos mais altos da nossa fé (…)».
Com efeito, a história dos concílios mostra que muitos problemas se esclareceram definitivamente quando se considerou a sua relação com Nossa Senhora, «que entrou intimamente na história da salvação e reúne em si e reflecte» os grandes temas. Por exemplo, ao Concílio I de Niceia sucedeu o Concílio I de Constantinopla, até que no Concílio de Éfeso, no ano 431, foi definido que Maria era verdadeiramente Mãe de Deus. Finalmente, os hereges compreenderam que Jesus não é uma criatura que começou a existir no momento da concepção, mas é verdadeiramente Deus que assumiu a natureza humana, sem deixar de ser Deus.
O Papa Leão XIV confia que o amor a Nossa Senhora seja também hoje o caminho para a unidade da fé. A «Lumen gentium» do Vaticano II termina com estas palavras: «Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que (…), também agora (…) ela interceda, junto de seu Filho (…) até que todos os povos (…) se reúnam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade».
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
02 dezembro 2025
01 dezembro 2025
Dia da Restauração da Independência
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| Aclamação de D. João IV no Terreiro do Paço a 15 de Dezembro de 1640. Pintura de Veloso Salgado, 1908, no Museu Militar de Lisboa. |
30 novembro 2025
I Domingo do Advento
EVANGELHO – Mateus 24, 37-44
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Como aconteceu nos dias de Noé,
assim sucederá na vinda do Filho do homem.
Nos dias que precederam o dilúvio,
comiam e bebiam, casavam e davam em casamento,
até ao dia em que Noé entrou na arca;
e não deram por nada,
até que veio o dilúvio, que a todos levou.
Assim será também na vinda do Filho do homem.
Então, de dois que estiverem no campo,
um será tomado e outro deixado;
de duas mulheres que estiverem a moer com a mó,
uma será tomada e outra deixada.
Portanto, vigiai,
porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.
Compreendei isto:
se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão,
estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa.
Por isso, estai vós também preparados,
porque na hora em que menos pensais,
virá o Filho do homem.
29 novembro 2025
Pensamentos Impensados
Um organista é um anarquista organizado.
A temperança é um condimento ou um condicionamento?
Atendendo a que o Conde de Andeiro foi morto na flor da idade poderá dizer-se que foi desflorado?
O santo protector das ovelhas é o Santo mééééé.
SdB(I)
28 novembro 2025
Textos dos dias que correm
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| Princess Máxima Center, Utrecht (Países Baixos) (centro de investigação e tratamento de crianças e jovens com cancro) |
Não Deixes Que Metam o Nariz na Tua Vida
Quando falas ou simulas falar de ti próprio e amalgamas passado, presente, futuro, há sempre os que perguntam se o que contaste é verdade ou não. Nunca indagam se vai ser verdade. O que lhes interessa é saber, com a curiosidade dos intriguistas, se o que se passou (ou parece ter-se passado) se passou mesmo contigo. É um erro de gente vulgar. Parasitários ou não, qualquer invenção ou patranha, qualquer «mentir verdadeiro» é acepipe biográfico, é pretexto para te enfileirarem na nulidade biográfica que é a deles próprios e tecerem incansavelmente histórias a teu respeito.
Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa. Essa pequena gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar exercício diário de falar por falar.
(...) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante. O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma.
Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. É outro exercício salutar.
Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"
27 novembro 2025
Intérpretes dos dias que correm *
* apresentado por mão amiga
26 novembro 2025
Poemas dos dias que correm
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| Tudo como de costume |
Poema vindo dos dias
Não fica bem em nenhum jardim da cidade
dizem os vereadores e é verdade
E além disso os nossos olhos cívicos
ficam-se nos corpos de que nos cercaste
Saudamo-nos por fora como bons cidadãos
Submetemos os ombros ao teu peso
mas há tantos outros pesos pelo dia
E quando tu por um acaso passas
retocado pelas nossas tristes mãos
através dos pobres hábitos diários
só desfraldamos colchas e pegamos
em pétalas para te saudar
Queríamos ver-te romper na tarde
e morrem-nos as pálpebras de sono
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, pág. 55 | Editorial Presença Lda., 1984
25 novembro 2025
Das salas de jantar *
Todo o bom néscio se arroga detentor de teorias imbatíveis, ferozmente blindadas aos argumentos alheios. Não será em mim que surgirá a excepção que confirma a regra.
Em certa medida, talvez nada tenha contribuído tanto para o fim de uma espécie de civilização como o desaparecimento da sala de jantar. Sou sensível ao fim da copa, essa antecâmara onde os alimentos passavam de um estado de manufactura associado aos odores, aos trens de cozinha, aos truques do tempero, para um estado de pré-consumo, aguardando o momento de adequada revelação. A copa era uma espécie de purgatório, sendo que a mesa da refeição era o céu, e a cozinha era o que era. Sou ainda sensível ao fim dos escritórios patriarcais em casa, espaços míticos forrados a madeiras exóticas e encadernações valiosas onde, frente a um tampo pouco mais do que vazio, o chefe de família - quando o conceito não era um desuso - determinava o rumo da barca caseira. O escritório era uma espécie de santuário, mas a religiosidade tem vindo a percorrer caminhos de amargura.
Se a modernidade sobreviveu bem ao fim das duas divisões acima citadas, nunca se recompôs do fim das salas de jantar. O erro cometido por arquitectos e mestres de obras, agremiações arvoradas em representantes das tendências sociológicas, paga-se bem caro. A sala de jantar era infinitamente mais do que uma assoalhada onde cadeiras em número variável rodeavam uma mesa de geometria a gosto. A sala de jantar era o local da partilha do dia que findara, da educação no debate, do planeamento dos vários futuros, das horas certas, da contenção e do respeito pelos alimentos.
A voragem dos dias resumiu a refeição a algo necessário ao bem estar físico, pelo que se cumpre essa tarefa em pé, agachado frente a um tabuleiro, de olhos absortos numa televisão, sozinho, meia hora antes ou depois do resto da família. O fim da sala de jantar ditou o fim da convivialidade à volta dos pratos de família, das receitas apuradas por patroas e cozinheiras superiores às lutas de classe, porque um ponto de espadana requer mestria, não exige berço. A conversa, no seu sentido mais nobre, foi a primeira vítima deste suposto progresso habitacional.
O mundo moderno, esse espaço humano bizarro avesso ao silêncio, à introspecção - e à regra - tem horror à repetição, vendo-a como uma monotonia incoerente com o desejo actual de alegria, contentamento, facilidade, leveza. Os dias têm de ser únicos, irrepetíveis, distintos. A sociedade actual esquece-se que, como diria Aristóteles, somos o que somos repetidamente, pelo que o mérito não está na acção e sim no hábito. Uma sala de jantar é o local privilegiado da repetição. E, no entanto, a palavra repetição não deve entender-se como fazer igual, mas como fazer memória, e para isto são necessários rituais - os rituais da refeição. Repetir estas práticas é assegurar, na expressão feliz de Michel Tournier, a ordem inalterável do dia a dia, garantindo a conservação dos ritos culinários e manducatórios que conferem às refeições a sua dimensão espiritual.
Todo o bom néscio se arroga detentor de teorias imbatíveis...
JdB
* publicado originalmente a 2 de Julho de 2013
24 novembro 2025
Para um começo de semana sereno (XXIX)
Ornella Vanoni (22 de Setembro de 1934 - 21 de Novembro de 2025) passou por este estabelecimento há algumas semanas. Volta a visitar-nos, dois dias depois de morrer.
JdB
23 novembro 2025
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
EVANGELHO – Lucas 23,35-43
Naquele tempo,
os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo:
«Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo,
se é o Messias de Deus, o Eleito».
Também os soldados troçavam d’Ele;
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
«Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
Por cima d’Ele havia um letreiro:
«Este é o Rei dos judeus».
Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-O, dizendo:
«Não és Tu o Messias?
Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
«Não temes a Deus,
tu que sofres o mesmo suplício?
Quanto a nós, fez-se justiça,
pois recebemos o castigo das nossas más ações.
Mas Ele nada praticou de condenável».
E acrescentou:
«Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza».
Jesus respondeu-lhe:
«Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
22 novembro 2025
Pensamentos Impensados
Aperto mitral: diz-se de todo aquele que, devido ao medo, não lhe entra um feijão na "mitra".
A minha canária tentou durante semanas chocar ovos que não estavam "galados"; foi uma cena eventualmente chocante.
A característica do improviso é o pensamento antecipado.
O peixe é um animal depauperado: não tem "páuperas".
SdB (I)
21 novembro 2025
20 novembro 2025
Poemas dos dias que correm
| Sítio do costume, mais ou menos hora do costume |
Grito
Versos que não dizeis quanto eu preciso!
Como um cego, indeciso
Entre a força da inércia
E o desejo instintivo
De movimento,
Assim é o meu instável sofrimento,
Ou todo motivado, ou sem motivo.
E recuso-me logo, amedrontado.
Inconstante,
Oscilo como um vime vertical, diante
Das brisas e rajadas do meu fado.
Que não sei quem acende a cada hora.
Sei que a minha alma chora
Como débil criança
Que tem medo da noite que a rodeia.
Noite cerrada e cheia
De pesadelos.
A sorte, a bruxa, a urdir a sua teia
Com a vida apertada nos novelos.
(1907 - 1995)
In "Penas do Purgatório"
19 novembro 2025
Vai um gin do Peter’s ?
O salero com que os brasileiros esgrimem a língua portuguesa, pondo-a a sambar, é só por si uma arte, que parece fadada para a música. A sua expressão é ritmada e de uma plasticidade que dança, configurando-se bem aos mais variados cambiantes emotivos. Soma ainda espontaneidade e uma ousadia cheio de cor, sem medo das palavras e da exposição pessoal, que lhe permite resvalar com naturalidade para a explosão de expressividade que a arte procura. Até a toada de vogais abertas e “r” menos carregados lhe acentua o estilo cantante.
Compreende-se por que no Hemisfério Sul a música brasileira se destaca, desde os tempos míticos da Bossa Nova. No rol dos melhores compositores, Lô Borges (1952-2025, 2.Nov.) é incontornável, a par do seu amigo Milton Nascimento e de tantos outros da sua geração. Baladeiro doce e poético, Lô deixou um legado de poemas cantados, que vale a pena recordar, começando pelo videoclip de «Clube da Esquina nº2 (…) Porque se chamavam homens / também se chamavam sonhos / e sonhos não envelhecem», transfigurado em banda sonora do magnífico filme de Diego Reigoto, um virtuoso da BD!
https://www.instagram.com/reel/DQodlwokaCq/
Nascido Salomão Borges Filho, em Minas Gerais, Lô fundou o Clube da Esquina, que marcou para sempre o pop brasileiro. Assinou composições famosas – “Paisagem da Janela”, “Para Lennon e Mc’Cartney”, “Trem de doido”, “Trem Azul”, etc. – a que tantos deram voz, de Tom Jobim a Elis Regina ou Elba Ramalho, Flávio Venturini, Beto Guedes e, claro, Milton Nascimento, co-autor de algumas obras. Um pequeno aperitivo:
18 novembro 2025
Dos benefícios e malefícios dos abraços
Em 2008 escrevi um post sobre abraços grátis de que reproduzo um excerto:
Há cerca de ano e meio passei por Bilbao para conhecer o Guggenheim. Quando dei por mim estava a aproveitar o abraço que alguém disponibilizava. Não eram rebajas, era grátis. Ofereci, pois, o meu amplexo a uma rapariga basca, não me passando pela cabeça que pudesse ser uma suicida com uma cintura fina repleta de bombas.
Soube-me bem, digo-lhes. Aqueles três segundos deram-me a sensação agradável de uma manifestação afectiva altruísta, sem consequências funestas para a saúde, com um ligeiríssimo aumentar do batimento cardíaco. Senti-me a abraçar o próximo desconhecido, o que era quase inédito.
Dezassete anos volvidos aprendi qualquer coisa sobre os malefícios dos abraços. Ainda não sou um homem táctil, ainda me transtorna uma excessiva proximidade física, sobretudo se não lhe vislumbrar afecto ou utilidade. Mas encontrei algum encanto nalguns abraços, e não lhes fujo.
Estava eu pacificado com uma certa parte da minha vida e, quiçá, saudoso de alguns abraços grátis, quando me cruzo com um artigo cujo título dispensa grandes explicações: "contra os abraços". O autor poderia usar um raciocínio que dificilmente poderia rebater-se, como a possível falta de higiene de quem nos abraça, ou como uma interpretação muito pessoal da proxémia (estudo da forma como as pessoas usam o espaço e a distância física ao interagirem, sendo uma componente da linguagem não-verbal). Optou, isso sim, por aduzir argumentos relacionados com o desenvolvimento dos indivíduos, para o qual o abraço não é, seguramente, recomendável. Deixo abaixo os argumentos, sendo que o artigo completo pode ler-se aqui.
- As pessoas buscam sempre maximizar o retorno das mesmas (que passaria por esse excesso de carinho e atenção que o abraço proporciona, fora o aconchego);
- Desequilibram-nas porque se espera que o outro perceba, se preocupe e atenda as nossas necessidades (muitas vezes sem considerarmos retribuição);
- Enviesam as características procuradas no parceiro, muitas vezes idealizando pontos irrealistas;
- Exigem uma reciprocidade forçada (se eu sou mais físico o outro também o deve ser, “se realmente me amar”);
- Obrigam a mais cuidados e atenções constantes, saturando e esgotando o parceiro;
- Por último, e no fundamental: falsificam o afecto, encenando-o e representando-o. O excesso de abraços cria uma ilusão de empoderamento, criando uma falsa ideia de importância e de elevação que não corresponde a uma realidade objectiva e observável.
Se alguém gostar muito de abraços e precisar de um argumento científico (enfim, passe o exagero) para os pedir e oferecer a torto e a direito, pode ler este artigo cujo título é uma pergunta retórica, porque já se sabe a resposta... "What are the benefits of hugging?" Se não tiverem ninguém acessível para este movimento que baixa a tensão arterial e alivia as dores, abracem o vosso animal de estimação. Parece que o resultado é igual...
JdB
17 novembro 2025
16 novembro 2025
XXXIII Domingo do Tempo Comum
EVANGELHO – Lucas 21,5-19
Naquele tempo,
comentavam alguns que o templo estava ornado
com belas pedras e piedosas ofertas.
Jesus disse-lhes:
«Dias virão em que, de tudo o que estais a ver,
não ficará pedra sobre pedra:
tudo será destruído».
Eles perguntaram-lhe:
«Mestre, quando sucederá isso?
Que sinal haverá de que está para acontecer?»
Jesus respondeu:
«Tende cuidado; não vos deixeis enganar,
pois muitos virão em meu nome
e dirão: “sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”.
Não os sigais.
Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas,
não vos alarmeis:
é preciso que estas coisas aconteçam primeiro,
mas não será logo o fim».
Disse-lhes ainda:
«Há de erguer-se povo e reino contra reino.
Haverá grandes terramotos
e, em diversos lugares, fomes e epidemias.
Haverá fenómenos espantosos e grandes sinais no céu.
Mas antes de tudo isto,
deitar-vos-ão as mãos e hão de perseguir-vos,
entregando-vos às sinagogas e às prisões,
conduzindo-vos à presença de reis e governadores,
por causa do meu nome.
Assim tereis ocasião de dar testemunho.
Tende presente em vossos corações
que não deveis preparar a vossa defesa.
Eu vos darei língua e sabedoria
a que nenhum dos vossos adversários
poderá resistir ou contradizer.
Sereis entregues até pelos vossos pais,
irmãos, parentes e amigos.
Causarão a morte a alguns de vós
e todos vos odiarão por causa do meu nome;
mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá.
Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.
15 novembro 2025
Pensamentos Impensados
E já que falamos em dentes, que tal um jogo para dentistas que se chamasse "ou cárie ou coroa"?
O limbo foi uma invenção da Igreja para descongestionar o Purgatório.
Era tão peneirento que quando ia a uma "mesa redonda" queria ficar à cabeceira.
A virgem adúltera era filha de um pai estéril? A confirmar-se, é um caso de esterilidade hereditária; já o avô e o bisavô tinham sido estéreis.
SdB (I)
14 novembro 2025
Da voz *
13 novembro 2025
12 novembro 2025
Poemas dos dias que correm
Sol a descer
ninguém lamenta que eu esteja de partida,nem eu;
mas devia haver um trovador
ou pelo menos um copo de vinho.
uma morte lenta e pacífica.
ainda faz um homem sonhar;
anseias por um velho veleiro,
a vela branca com sal incrustado
e o mar a sacudir indícios de imortalidade.
mar no cabelo
mar no tutano, nos olhos
e sim, aí dentro do peito.
será que sentiremos saudades
do amor de uma mulher ou da música ou da comida
ou do salto do grande e furioso cavalo
musculado, coiceando torrões de terra e destinos
ao alto e para fora
no momento exacto em que o sol se põe?
e não há majestade nisto
porque não houve majestade
antes
e cada um de nós, como vermes que escavaram
a saída de dentro de maçãs,
não merece qualquer reprimenda.
e serpenteia ao longo dos meus dentes
e pergunto-me se tenho medo deste
morrer mudo, sem arrependimentos, que é
como o murchar de uma rosa.
os cães ladram facas
trad. rosalina marshall
alfaguara
11 novembro 2025
Do purgatório
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| Paredão do Estoril, ontem de manhã cedo |
Declaração repetida de interesses: continuo um homem de fé, e feliz na Igreja Católica a que pertenço há mais de 60 anos.
***
Acabei de ler, por estes dias, o Peregrinação Interior (volume I, Reflexões sobre Deus) de António Alçada Baptista. Quis lê-lo, não só por causa do meu doutoramento, mas, também, para ver como tinha envelhecido um livro que deu que falar quando foi publicado pela primeira vez, em 1971. E começo com uma citação que ressoou dentro de mim: "[s]into que a procura séria de Deus passa necessariamente pela interrogação e pela liberdade e descobri que ter Fé é interrogar livremente o imenso mistério de Deus."
Já aqui referi que a partir de 2001, ano de todos os anos, a minha fé - ou o modo como eu a vivia - se alterou: o acontecimento brutal de que fui testemunha abriu-me os olhos para estes temas: fé, Deus, Igreja, religião, padres, linguagem... Ao mesmo tempo que eu desresponsabilizava Deus daquilo que me tinha acontecido (como teria desresponsabilizado se o desfecho fosse outro) o que era, para mim, um upgrade na forma como conciliava Deus e o sofrimento, eu iniciava um olhar ar crítico para outras áreas do meu mundo religioso. Esse olhar crítico levava-me a fazer perguntas para as quais não tinha - e não tenho - resposta cabal.
No passado sábado, no jornal Observador, o Pe. Portocarrero de Almada (um cronista que, devo confessar, leio sempre com um pé atrás) escreveu um artigo ao qual chamou Mentira Diabólica e no qual ataca um outro artigo, este da autoria de Frei Bento Domingues. E diz o Pe. PdA: "[p]ara o cronista [Frei Bento Domingues], 'o céu, o inferno, o purgatório, o juízo final são metáforas dos desejos e dos medos humanos. São representações engrandecidas do além à imagem do que há de melhor e de pior neste mundo.” Ao contrário do que afirma, não são projecções da imaginação humana, como também o amor de Deus não é metafórico, mas a realidade transcendente revelada por Jesus Cristo e testemunhada pela sua Igreja.
O tema do purgatório intriga-me. Segundo o Pe. PdA, "[e]mbora a realidade do purgatório não conste explicitamente na Sagrada Escritura, faz parte da Sagrada Tradição, a outra fonte da revelação divina, porque desde sempre na Igreja católica se rezou pelos fiéis defuntos, ou seja, se admitiu a existência de almas que, tendo-se salvo, ainda não chegaram ao Céu e, por isso, precisam dos nossos sufrágios." A ideia de haver almas que pairam num espaço à espera que se reze por elas para ascenderem ao Céu desconcerta-me, até pela injustiça de que parece revestir-se. Porque ando numa maré de interrogações e porque o purgatório, não só não vem mencionado na Bíblia, como não é um dogma de fé, permito-me ter dúvidas sobre a sua existência; ou ter dúvidas como se sai do purgatório, seja para o Céu, seja para o inferno. Tenho dificuldade em conceber que a ascensão ao Céu destas almas esteja dependente de orações: das nossas, de modo geral? Rezamos por quem, pela multidão anónima das almas do purgatório? E quem é que lá está, e porquê? E quando saem estas almas para o Céu? Podem nunca sair? E a responsabilidade é nossa? Será o purgatório um ardil para impor o temor aos crentes?
Frei Bento Domingues tem fama de esquerdista, talvez, ou de pessoa pouco alinhada com algumas posições da Igreja Católica em Portugal. Porém, não sabendo de que cor política seria Jesus se por cá andasse neste tempo, não resisto a reproduzir uma frase de Hubert Lyautey, militar francês (1854 - 1934) que Alçada Baptista cita no seu livro: "[s]e Cristo me tem aparecido na Argélia, com as suas ideias e a sua subversão, eu não teria outro remédio senão fuzilá-lo".
JdB
10 novembro 2025
09 novembro 2025
Dedicação da Basílica de Latrão
EVANGELHO – João 2,13-22
Estava próxima a Páscoa dos judeus
e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no templo
os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas
e os cambistas sentados às bancas.
Fez então um chicote de cordas
e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;
deitou por terra o dinheiro dos cambistas
e derrubou-lhes as mesas;
e disse aos que vendiam pombas:
«Tirai tudo isto daqui;
não façais da casa de meu Pai casa de comércio».
Os discípulos recordaram-se do que estava escrito:
«Devora-me o zelo pela tua casa».
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe:
«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?».
Jesus respondeu-lhes:
«Destruí este templo e em três dias o levantarei».
Disseram os judeus:
«Foram precisos quarenta e seis anos para construir este templo
e Tu vais levantá-lo em três dias?».
Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos,
os discípulos lembraram-se do que tinha dito
e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.
08 novembro 2025
Pensamentos Impensados
Camões teria tido alguma premonição acerca de Taiwan quando escreveu "vai formosa e não segura"?
Os kamikazes são pessoas em vias de extinção.
Os sapatos de senhora, de salto alto, têm uma peça chamada alma; daí a frase "caiu-lhe a alma aos pés."
As cariátides são doenças que atacam os dentes das estátuas gregas.
SdB (I)
07 novembro 2025
06 novembro 2025
Poemas dos dias que correm
Sísifo
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga [1977], Diário: Vols. XIII a XVI. Lisboa: D. Quixote, [s.d.], p. 20.
05 novembro 2025
Vai um gin do Peter’s ?
PROGRAMAS DE OUTONO - AZULEJOS E CHÁ NA BERLINDA
Talvez estejamos blasés em relação à originalidade e à beleza da azulejaria portuguesa, espalhada por todo o país. Basta ver e ouvir os comentários dos turistas para relembrar e redescobrir este património espantoso multissecular.
Nem de propósito, neste Sábado, às 14h30, irá decorrer uma oficina criativa de azulejos no Convento dos Cardaes, junto ao Príncipe Real, orientada por Ana Marta Clemente e Maria Reis Rocha. A sessão começa com uma visita guiada à fabulosa colecção do próprio Convento, para inspirar cada participante a pintar o seu azulejo, reinterpretando a narrativa histórica e o efeito decorativo daquele tesouro. Para a inscrição (30 €) e para obter mais informações contactar: serv.educativo@conventodoscardaes.com.
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| 1ª imagem: comungatório com decoração em pintura e azulejaria. |
Também as tardes de Chá Solidário vão começar nos Cardaes, desde 15.NOV. até 14.DEZ., nas tardes dos fins-de-semana e dos feriados, aconselhando-se a marcação de mesa: natal@conventodoscardaes.com.
Entretanto, no Museu do Oriente também pululam os programas, entre concertos, exposições, conferências. Amanhã, 6 de Novembro, o chá dá tema a uma conferência, às 18h00, intitulada «A cerimónia e a casa de chá japonesa vista pelos primeiros europeus», com Joanes Rocha (da Universidade de Tóquio) e moderação de Ana Tostões. Como foi o impacto nos ocidentais, recém-chegados ao Império do Meio (séc. XVI e XVII), do sofisticado ritual de preparação daquela deliciosa bebida quente?
Um artigo de investigação, da autoria de uma das Conservadoras da Fundação Medeiros e Almeida, explora as múltiplas funções da azulejaria: «O Azulejo que anuncia: Painéis Publicitários». Publicado na revista ‘Super Interessante História’, divulga os imprevisíveis recursos desta peça cerâmica, que chegou ao marketing, aproveitando a sua espantosa visibilidade e óptimo efeito decorativo. O sucesso publicitário, a partir de meados do século XIX, levou à multiplicação deste tipo de painéis, recentemente inventariados online em azulejopublicitario.pt:
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| Diferentes épocas, do séc. XIX a 1951 (Licor Beirão), mas o mesmo objectivo publicitário nos painéis de azulejo |
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| Azulejos como placa de identificação dos produtos vendidos e dos serviços prestados. |
Na antiga FIL, à Junqueira, Novembro será um mês de certames, a pensar nos presentes de Natal e na oportunidade que pode proporcionar para o financiamento de instituições de solidariedade. De 14 a 15 de Novembro, realiza-se o imperdível Bazar Diplomático (este ano a favor dos sem-abrigos), com uma oferta inédita de produtos das quatro partidas do mundo, a lembrar as boas feiras de artesanato internacional. De 22 a 24 de Novembro, será a vez do Mercado de Natal – NATALIS’25, entre as 15h e as 23h. E de 26 a 29 de Novembro, volta o Mercado Solidário Rastrillo 2025, cujas receitas sustentam as casas de acolhimento de crianças e jovens desfavorecidos, geridas pela Associação Novo Futuro. A oferta variadíssima e fora do circuito comercial comum, tornam esta feira muito apetecível, com roupa, acessórios, comida, joias e bugigangas, brinquedos, bibelots, algum mobiliário (de pequenas dimensões) e, por vezes, algumas antiguidades diferentes.
Para tornar os presentes mais originais, haverá uma aula de Mizuhiki para aprender a arte dos nós decorativos japoneses, ideal para personalizar embrulhos e envelopes (Sábado 22 de NOV., das 15h-17h, no Museu Oriente; requer inscrição).
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| Os ancestrais nós japoneses foram transpostos no Ocidente para porta-chaves, remates de presentes, botões de punho, borlas decorativas, etc. |
Nesta quadra, sucedem-se também as actuações corais, desde os profissionais aos amadores, alguns com bastante qualidade, que se esmeram na contagem decrescente para o Natal: Vértice, o Coro dos Movimentos, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, já sem falar da Gulbenkian e do CCB, vão actualizando a programação nos sites e no instagram. Um par de exemplos: amanhã, 6.NOV., às 21h00, na Aula Magna, haverá o concerto "Europa Sinfónica: Wiener Concert-Verein", interpretado pela conceituada orquestra austríaca (https://www.ulisboa.pt/evento/concerto-europa-sinfonica-wiener-concert-verein). A 9 e 10 de Novembro, às 21h, haverá o concerto com Duarte Rosado, SJ, no auditório do Colégio de S.João de Brito (bilhetes via dir@gambozinos.org), a começar com um convívio e a originalidade de uma sopa, como explica a organização. No próximo mês, na Aula Magna de Lisboa: a 6 de Dezembro, às 21h30, decorre a 24ª Gala de Ópera da Universidade de Lisboa (UL), com a Orquestra Sinfónica Juvenil, acompanhada pelos Coros da UL e do Instituto Gregoriano. A 13 de Dezembro, às 21h00, será o concerto de Natal – “Camões uma epopeia sinfónica”, com a Orquestra Académica da UL.
Na Gulbenkian, inaugura-se a 18 de Novembro a exposição Natura Mirabilis. Arte e Natureza, que estará patente até 20 de Outubro de 2026, no emblemático Jardim Gulbenkian. Desenhado pelo famoso arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles e por Viana Barreto, esta exposição junta ecologia e criatividade para homenagear os dois hobbies preferidos do fundador, como explica a sinopse oficial:
«Para Calouste Gulbenkian, arte e natureza eram duas grandes paixões. Neste percurso áudio, o Jardim Gulbenkian transforma-se num palco virtual onde obras da coleção dialogam com paisagens, sons e atmosferas.
Concebido nos anos 1960 pelos arquitetos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles, o Jardim Gulbenkian é uma celebração da harmonia entre Humanidade e Natureza. O Jardim reflete o interesse de Calouste Gulbenkian pelo mundo natural, que o levou a adquirir, em 1937, a propriedade «Les Enclos», na Normandia, e na qual construiu um enorme jardim que se tornou no seu refúgio.
Durante o encerramento do Museu para obras de renovação, o percurso «Natura Mirabilis. Arte e Natureza» junta estes dois interesses do Colecionador e convida o visitante a escutar as vozes de curadores e investigadores, que aprofundam o olhar sobre obras da Coleção Gulbenkian. Ao longo de doze paragens, propõe-se para cada obra – criadas por mestres como René Lalique, Edward Burne-Jones e Félix Ziem – um eco equivalente na fauna, na flora e nas atmosferas únicas do Jardim, gerando momentos de contemplação inesperados.
Fruto da colaboração entre as equipas do Museu e do Jardim Gulbenkian, este percurso inaugura-se em simultâneo com o lançamento da publicação «Natura Mirabilis. Arte e Natureza», editada pela Franco Maria Ricci, editora especializada em livros de arte de coleção.
Nas ruas do centro de Lisboa, assiste-se à azáfama da montagem das luzes de Natal, que serão acesas no final do mês. Nas Amoreiras, voltou o memorável presépio, que é uma proeza de Cláudia Perdigão. Estende-se como uma narrativa ao longo da escadaria principal, aproveitando os degraus como socalcos de uma paisagem acidentada, ideal para recriar episódios distintos da vida do Bebé de Belém. Muitas cenas são animadas por figuras mecânicas, com água a correr, moinhos a rodar, animais em movimento e gente atarefada nos afazeres do dia-a-dia. Nesta viagem no tempo, recuam-se dois mil anos e descobre-se uma multidão, em que apenas uns poucos terão reparado no nascimento daquele Recém-nascido especial, numa réplica perfeita da realidade.
As mais emblemáticas caves e casas vitivinícolas recebem grupos para visitas guiadas e provas de vinho, nesta época, acrescentando-lhe sabores a magusto (ex. perto de Lisboa: Casa Ermelinda de Freitas; múltiplos programas por todo o país em https://winetourexperience.pt/categoria-experiencia/experiencias-vinicas/).
De 7 a 16 de Novembro, a Golegã volta a engalanar-se para a concorrida Feira do Cavalo, em grandes comemorações após o recente reconhecimento da Equitação Portuguesa como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO. Programa em https://feiradagolega.com/programa/.
O mês de Novembro tem ainda a particularidade de arrancar com duas festas únicas: a de Todos os Santos (é fantástico reconhecer e lembrar multidões anónimas, que escolheram viver com grandeza e generosidade) e a dos Fiéis Defuntos (no mundo anglo-saxónico, a festa amplia-se e celebra todas as almas /All Soul’s Day). Ambas inspiraram um texto interpelativo sobre os que já Partiram, numa abordagem cheia de Esperança, que ecoam as palavras luminosas do Papa Leão XIV sobre o facto de a morte dos que nos são queridos nos abrir para o futuro em que voltaremos a estar reunidos: «We continue to carry them (the beloved ones) with us in our hearts, and their memory remains always alive within us (…) Our Christian faith… help us to experience our memories as more than just a recollection of the past but also, and above all, as hope for the future. It is not so much about looking back, but instead looking forward towards the goal of our journey (…). It is the hope founded on the Ressurrection of Jesus who has conquered death and opened for us the path to fullness of life. (…) Without his love, the voyage of life would become a wandering without a goal, a tragic mistake with a missed destination… The Risen One guarantees our arrival, leading us home (…). In love, God will gather us together with our loved ones. And, if we journey together in charity, our lives become prayer rising up to God, uniting us with the departed, drawing us closer to them as we await to meet them again in the joy of eternal life. (…). May this promise sustain us… towards the future that never fades.»
MULTIDÃO DE ESTRELAS
a dos Santos.
Passam na estrada silenciosos
levando as estrelas das bem-aventuranças gravadas
na fronte.
São de todas as raças
de todas as cores
de todos os partidos
de todos os povos.
Passam na estrada
silenciosos
comovidos
Misteriosa Via-Láctea de estrelas
que na noite cerrada
ilumina o caminho»
Pedro Jorge
O frio suave, mas húmido, do Outono lisboeta convida a programas intramuros, onde calham bem os lanches suculentos, aquecidos a chá ou a chocolate quente e acompanhados de scones, de uma fatia de tarte de frutas ou daqueles bolos clássicos das boas cozinhas, fiéis à receita de sempre... As noites longas tornam os lanches e as ceias tardias em refeições de festa, enquanto o cheiro da terra regada pela chuva ou das castanhas assadas ou da lenha a arder numa lareira nos aconchega por dentro. Venha o frio e venham os dias curtos… que nada há a temer!
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
04 novembro 2025
Carta a um anjo
Foi hoje, mas há 24 anos.
***
Pensar em '24 anos' não é só proferir a frase um pouco estafada: "já 24 anos? Meu Deus, o tempo passa a correr." Mais do que pensar os dias na vida, devemos pensar a vida nos dias. O que fiz com o tempo que me foi oferecido? De que forma aproveitei os desafios do destino?
Como já partilhei neste estabelecimento, estou em fase de fim de ciclos: deixei o Board da Childhood Cancer International e, hoje mesmo, saio do grupo de whatsapp que foi formado para esse efeito, já lá vão uns anos. É outra parte da minha ligação a um mundo que me foi próximo que desaparece. Só os que não me conhecem estranharão que saia do grupo logo no dia de hoje. Até ao final do ano deixarei de ser presidente da Acreditar; também até ao final do ano, ou início do próximo, entrego a minha tese de doutoramento.
Os ciclos que fecho são operacionais, não emocionais: a nível nacional ou internacional reduzo reuniões, representações em eventos, participações em grupos de trabalho. Essa é a parte instrumental, a que reside no meu cérebro, quase exclusivamente, da minha relação com o mundo da oncologia pediátrica. A parte emocional, a que reside no meu coração, quase exclusivamente, permanecerá sempre comigo; é ela - e muito! - que me constitui. O ter sido o que fui, o ter feito o que fiz, deriva desse facto de há 24 anos.
Curiosamente - ou talvez não - releio neste momento um livro, para efeitos de doutoramento, que tinha lido antes de 2001 (e que pouco me dissera) e que relera depois de 2001 (e que muito me dissera): O Homem em Busca de um Sentido (Viktor E Frankl). Esse livro está bem alto na minha lista de obras importantes, não só pelo seu conteúdo, mas pelo que transmite: a ideia de um sentido para a vida como forma de sobrevivência. Encontrei isto em mim próprio e em muitas das pessoas com que me cruzei - Pais de sobreviventes, Pais de crianças ou jovens que morreram, e que, mesmo assim, querem fazer alguma coisa por si e pelo próximo, querem contar uma história, pois é isso que lhes torna o sofrimento suportável.
Tenho uma história com 24 anos. Tenho uma história que se tornou indestrutível, que cimentou relações, que as reinventou ou que as colocou num patamar onde não existem definições óbvias. Tenho uma história povoada de pessoas importantes, de livros determinantes, de ideias inventadas há séculos mas que só eu vi - e para mim as vi - no momento em que me foram fundamentais. Tenho uma história com detalhes que só eu sei e que não conto, não porque sejam confidenciais, mas porque não saberia explicá-los. Talvez, ao contrário do filósofo, os limites do meu mundo não sejam os limites da minha linguagem. Tenho, por fim, uma história cheia de agradecimentos feitos, outros por fazer, outros que não carecem de palavras, porque quem me lê sabe do que falo.
"Cada um de nós podia tornar aquelas experiências numa vitória, transformando a vida num triunfo interior..." (Viktor Frankl). Apesar de tudo, talvez a vida me tenha sido fagueira.
J, em nome de todos os que te lembram.
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