A convite de gente que me é próxima, voltei a Olivença - e não para repor a justiça dos factos e colocá-la de novo sob a alçada de Portugal. Em bom rigor, conversando com vizinhos de bancada na praça local, e falando deste tema, um cavalheiro de Alcochete (gente que aprecia o azul e branco das bandeiras) dizia-me com acerto: deixe lá Olivença ficar em Espanha. Sempre é da maneira que podemos vir cá ver touros de morte. Retomo o fio à meada: voltei a Olivença para ver uma novilhada e uma corrida de touros: uma manhã e um tarde bem passadas, ainda que com ameaça permanente de chuva, que foi caindo aqui e ali.
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Olga Casado, uma novilheira espanhola de 22 anos. |
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Olga Casado, a única rapariga / senhora que vi tourear a pé |
Para uma pessoa como eu, cheio de apreço por rituais e tradições (uma coisa não vai totalmente sem a outra) ir aos touros a Espanha é um festim: da entrada supersticiosa dos toureiros em praça ao convívio entre pessoas na bancada, passando pela coreografia dos vários intervenientes na arena ao longo das lides, tudo obedece a uma tradição e / ou a um ritual, seguramente com décadas, se não séculos. É importante, por isso, estar-se atento (quem aprecia, é claro) a mais do que à lide propriamente dita: o agradecimento discreto do bandarilheiro junto ao burladero, a música que deve tocar quando o novilheiro bandarilha, o pasodoble que é uma tradição no último touro de cada uma das partes, etc.
Sendo uma praça de 3ª, Olivença é generosa nos prémios: quase toda a gente é premiada com uma orelha (por vezes duas) e música abundante. A população gosta e o director da corrida prefere a generosidade ao rigor.
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Sorte de gaiola de Tomás Bastos (Portugal) um dos novilheiros em praça, e que cortou 4 orelhas |
Olivença em dia de corrida de touros provoca um estranho sentimento em mim. Como dizia hoje a quem me convidou, talvez não haja recinto de espectáculos mais desconfortável do que a praça de touros de Olivença: é pequena, acanhada, com um espaço menos que decente para uma pessoa razoável colocar o seu corpo. Requer um encaixe perfeito entre pessoas, e, quem está na fila acima da nossa tem de abrir as pernas para permitir o ajuste. E no entanto, apesar do desconforto, pouco ou nada me importa: a cada 15 ou 20 minutos (tempo médio de uma lide) todos nos levantamos, e esticamos as costas ou os braços, que não há espaço para mais. E o gosto de ir a Olivença - também na companhia de quem vou - tudo compensa.
Para o ano lá estarei - em Deus dando-me saúde e em não se acabando as corridas... Parafraseando Chico Buarque, foi bonita a festa, pá.
JdB