05 dezembro 2010

2º Domingo do Advento

Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de católico.

O texto abaixo fala-nos de conversão. Ontem, na homilia de um casamento a que assisti, ouvi aquilo que me pareceu ser a palavra-chave: acolher. E lembrei-me de uma história dos meus tempos de ministro da comunhão num lar de idosos. Durante meses a fio, o Sr. Fernando, um rádio-amador simpático mas quezilento, dizia-me com uma constância quase teimosa:

- Gostava de ter a sua fé, Sr. João. Mas o facto é que não tenho...

E eu, com uma constância teimosa de sinal contrário, respondia-lhe:

- Mas não feche a porta à fé, Sr. Fernando, que ela um dia pode querer entrar.

Nos últimos tempos da sua permanência naquele lar, o Sr. Fernando, quando me ouvia entrar, descia as escadas quase de escantilhão para ouvir o evangelho, escutar meia dúzia de palavras a seguir - e comungar como tantos outros ao lado dele. Ao fim de alguns meses, o Sr. Fernando tinha acolhido.

Quando falamos de conversão não nos referimos à conversão a uma religião qualquer - a não ser a religião do Amor. Quando falamos de conversão falamos de mudança do nosso íntimo, da nossa maneira de ser, da forma como olhamos o nosso próximo, como estendemos a mão a quem mais precisa, como olhamos na direcção dos mais necessitados; falamos da forma como erradicamos o orgulho da nossa maneira de pensar e agir, como perdoamos e pedimos perdão, como usamos de forma elevada expressões como compaixão e caridade.

Mais do que a expressão bonita Ama e faz o que quiseres (usada pela última vez neste blogue pela mão da PCP) gosto da expressão O amor vence tudo. E esta palavra amor - usada de modo superior em ambas as frases, é o desafio último da nossa caminhada. Um Amor total e radical.

Passarei o dia de hoje com a palavra acolher na mente. A ver vamos o que consigo mudar dentro de mim.

Bom Domingo para quem me lê.

JdB

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naqueles dias,
apareceu João Baptista a pregar no deserto da Judeia, dizendo:
«Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus».
Foi dele que o profeta Isaías falou, ao dizer:
«Uma voz clama no deserto:
‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’».
João tinha uma veste tecida com pêlos de camelo
e uma cintura de cabedal à volta dos rins.
O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre.
Acorria a ele gente de Jerusalém,
de toda a Judeia e de toda a região do Jordão;
e eram baptizados por ele no rio Jordão,
confessando os seus pecados.
Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu baptismo,
disse-lhes:
«Raça de víboras,
quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
Praticai acções
que se conformem ao arrependimento que manifestais.
Não penseis que basta dizer:
‘Abraão é o nosso pai’,
porque eu vos digo:
Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão.
O machado já está posto à raiz das árvores.
Por isso, toda a árvore que não dá fruto
será cortada e lançada ao fogo.
Eu baptizo-vos com água,
para vos levar ao arrependimento.
Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu
e não sou digno de levar as suas sandálias.
Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo.
Tem a pá na sua mão:
há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro.
Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga».

4 comentários:

Anónimo disse...

O Amor vence tudo. Concordo completamente. Lindo. Obrigada, João, pela enésima vez, por nos lembrar repetidamente o que é mais importante. Um bom Domingo para si. pcp

Anónimo disse...

João,
Belissimo comentário, tão claro e profundo.
Também acredito que é esse o caminho. Dificil (a mais das vezes por culpa própria), mas há que tentar sempre.
Obrigado pela partilha e pela ajuda.
fq

arit netoj disse...

Obrigada João por me lançar o propósito de acolher - um bom desafio para o Advento!
Beijinhos

Ana LA disse...

Bom dia JdB.
Apesar de tardia não deixo de gostar de o(s)ler aos domingos. Acolher é aqui receber e abraçar a fé. Supõe mudança, a aproximação da perfeição e da forma como amamos e acolhemos os outros. E os que não têm essa fé, que se converteram a uma "religião qualquer" que não é a do amor? Será que não acolhem nem amam os outros? Não conhecem a compaixão e a caridade?
Não acredito, mas isso sou eu a dizer coisas.

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