É a Clarice Falcão, que não conheço, mas podia ter sido um pasodoble. No fundo no fundo, deliciava-me a ver uma corrida da feira de Pamplona quando me apercebi que anda não tinha postado nada para hoje.
Ah e tal e coisa, que maçada, o que posto amanhã?, pergunto eu, com os olhos fitos no televisor onde o matador, cujo nome não conheço nem fixo (ando muito arredado destas coisas) descalço e com a montera boca abajo, para dar sorte, crava uma estocada limpa, até ao punho. O touro teima em morrer, como teimam em morrer outros da mesma corrida que sofreram estocadas até ao punho. E eu, que não mato um gato - um animal que detesto - não me custa ver um toiro a morrer na arena, mesmo que cambaleante e a golfar sangue. Enfim, o meu lado bárbaro, porque somos muitos dentro de nós.
Olhem, tanta coisa para ser a Clarice Falcão, sugerida pelos meus filhos, cada um com a sua música. Se gostarem, voltem amanhã. Se não gostarem, voltem na mesma, que haverá nova corrida, nova viagem.
Desculpem qualquer coisinha.
JdB
9 comentários:
Bárbaro, porquê ? o homem e a besta é uma luta ancestral, que a corrida assume para que não neguemos ou disfarçemos o barro de que somos feitos.
A luta ancestral, deveria ser entre a bela e o monstro de que todos somos feitos.
Uma luta interna, interior, de limpeza das lamas e lodos, que nos cobrem.
Não projectada num animal indefeso e acossado, para gaúdio alheio.
Vida é vida.
A barbárie não se justifica pelo nosso desejo de distração de quem somos.
Ou então, qualquer acto de criminalidade estaria salvo e seria bem vindo.
Aceita-se, mas não se aclama. Aceita-se, mas não se incentiva.
Aceita-se, e espera-se que o barro aprenda (e relembre)a ser mais do que isso: um monte de terra bruta e imunda e se molde algum dia numa jarra, numa malga, num copo...
Apesar de não aderir ao seu deleite tauromáquico, voltarei aqui noutro dia, para outra corrida bem melhor.
a.
Bom dia
A verdade sobre a natureza humana aflige e até magoa, daí a legitima fantasia de que os toiros são coisa de bárbaros.Respeito e compreendo essa fuga.O ganho civilizacional está em que figurando realidades opostas conseguimos ambos trocar ideias e não agressividades, é o bastante para ficarmos felizes.
ATM
A minha contribuição para este debate, cuja modéstia é determinada pelo dono do estabelecimento, agora arvorado em comentador.
A corrida é bárbara e revela - naqueles que a apreciam - a barbárie que existe em todos nós. Assistirei às que puder sem remorso nem vergonha, mas em momento algum as defenderei como um modelo do que quer que seja, a não ser de valentia e de estética.
Independentemente do seu grau de sofrimento ser menor do que possamos pensar, er um toiro a morrer numa arena, muitas vezes vítima de uma estocada mal dada, que bate repetidamente no osso, a golfar sangue e a refugiar-se sem forças nas tábuas, não é um espectáculo bonito e facilmente defensável. Tal como disse, vejo e aprecio, porque lá está, a coisa de bárbaro... E há tudo o resto, que me vai encantando.
Por fim, estou como o ATM. a felicidade está na troca de opiniões sem agressividades.
Sou de a. e do ATM atento, venerador e obrigado.
dixit
As corridas representam o homem na luta pela superioridade e o mais selvagem que nós temos e que devíamos esconder. Um cavalo drogado, um touro confuso num jogo que sabe que vai perder. São centenas de pessoas a assistirem a um espectáculo de sangue, primitivo em que o homem revela o mais selvagem que tem. Não mata para comer, mata para o deleite de uma plateia que vê satisfeita uma luta desigual.
Ainda estou para perceber os toureiros que se benzem. É para pedirem protecção ou perdão?
Quando um toureiro reza, não perguntes por quem, ele reza por ti também.
Manolete
Paquirri
Quim Zé.
ATM
"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti"
"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti" John Donne
Poema que veio inspirar o famoso livro do Hemingway, grande aficionado.
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