Manuel
de Freitas, "Ubi Sunt", Averno
MF
continua a sua singular trajectória, em pista própria, no contexto histórico e
artístico da poesia portuguesa contemporânea. Poeta "sem qualidades"
(é elogio, atenção!) e de uma consistência inabalável, é um dos autores de
alguns dos poemas recentes mais tristes - desalentados - da ars poética
portuguesa, dos últimos 10 a 20 anos, ao mesmo tempo que mais perfeitos na
difícil arte de rematar poemas com brilhantismo semântico (formal) e
superlativo efeito emocional.
gi
Chão
antigo *
(para o
António Manuel Couto Viana)
É pena que já não
existam
esses lugares imundos – puros, quero eu
dizer – onde a morte entrava
sem ter de pedir licença.
Lugares onde eram por igual sinceros
o sono, o vómito ou a sombra de um abraço
(Mayakovsky e Céline tinham a mesma importância
e a sorte de não serem futebolistas).
É pena que já não possamos
comemorar no chão a derrota
do corpo pela manhã. Ao lavarem
os copos, da última vez, houve duas
ou três gerações que se partiram.
Talvez eu pertencesse a uma delas – mas
isso, ao poema, importa muito pouco.
Há um lugar que escreve sobre
a ausência de todos os lugares.
Tonéis de vários tamanhos
onde inscrevi, por distracção,
o único nome verdadeiro.
Estou a falar, naturalmente,
de tabernas.
Mas talvez não seja apenas isso.
esses lugares imundos – puros, quero eu
dizer – onde a morte entrava
sem ter de pedir licença.
Lugares onde eram por igual sinceros
o sono, o vómito ou a sombra de um abraço
(Mayakovsky e Céline tinham a mesma importância
e a sorte de não serem futebolistas).
É pena que já não possamos
comemorar no chão a derrota
do corpo pela manhã. Ao lavarem
os copos, da última vez, houve duas
ou três gerações que se partiram.
Talvez eu pertencesse a uma delas – mas
isso, ao poema, importa muito pouco.
Há um lugar que escreve sobre
a ausência de todos os lugares.
Tonéis de vários tamanhos
onde inscrevi, por distracção,
o único nome verdadeiro.
Estou a falar, naturalmente,
de tabernas.
Mas talvez não seja apenas isso.
1 comentário:
Boa tarde. O meu nome é Valdemar Cruz e sou jornalsita do Expresso. Precisava de lhe falar porque penso que poderá se útil para um trabalho que estou a tentar fazer. Será que pode, por favor, fornecer-me uma forma de o contactar mais diretamente? o meu mail é: vcruz@expresso.impresa.pt
Muito obrigado
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