"OUTRO DIA DEI com uma expressão que nunca tinha ouvido: «Como canários nas minas». Imaginei que fosse uma metáfora obscura, mas investiguei o caso. E descobri este facto: que, em décadas passadas, os canários eram usados nas minas de carvão para detectar a existência de gás metano e dióxido de carbono. Quando ainda não existiam instrumentos tecnológicos que pudessem assinalar esses perigos, os mineiros levavam canários e largavam os canários em direcção ao fundo das minas, antes de descerem eles mesmos. Os pássaros, de um amarelo vivo e visível, iam esvoaçando e cantando mina abaixo. Se existissem gases letais, os canários, que têm um metabolismo muito sensível, ficavam logo sem oxigénio, oscilavam violentamente, deixavam de cantar e caíam mortos. Era o alarme para que os mineiros saíssem rapidamente da mina, antes que tivessem problemas de respiração ou que houvesse a possibilidade de explosões.
Tudo isto me pareceu extraordinário. Não deve haver profissão mais terrível e admirável que a de mineiro. São uma espécie de viajantes ao centro da terra. Uma vida duríssima, em profundezas dantescas, um trabalho árduo e com o risco de quedas, desabamentos e outras ameaças mortais. Em documentários, vejo os homens emergirem das minas, farruscados e exaustos, como se fossem uns Orfeus prosaicos mas valentes, que vão onde poucos se atrevem, ao mesmo tempo explorando os recursos que o subsolo nos oferece e encontrando continentes desconhecidos, como descobridores da escuridão. Há nos mineiros um espírito de aventura, necessidade e pânico que me impressiona e assusta.
Mas confesso que não estava à espera dessa utilização preventiva dos pássaros, suponho que actualmente abandonada. É impossível não ter sentimentos contraditórios acerca desse esquema. A nossa sensibilidade actual condena (e com razão) o sacrifício de animais. Ainda para mais, os canários são animais doces e musicais, uma espécie de símbolo da harmonia ou da meninice. É verdade que os mineiros também usavam ratos (menos eficazes na sua acção), mas os ratos são bichos repelentes. Em contrapartida, é difícil não gostar de canários. O último animal de estimação que eu tive, em criança, foi um canário, amarelo vivo, que conhecia as pessoas e reagia a cada uma de modo diferente. Quando partiu uma pata e depois morreu, em agonia, senti um luto pela sua morte que me levou a nunca mais querer animais em casa.
E contudo acho essa tal estratégia muito engenhosa, quase poética. Imagino os mineiros descendo, levando as gaiolas, os pássaros talvez inquietos, e depois os homens largando os canários nas minas, uma espécie de mancha amarela, uma algazarra no fundo do mundo que era bom sinal, excepto se se transformasse depois em caos e silêncio. Num aviso para que os mineiros saíssem depressa e evitassem o mesmo destino. Como em quase todos os casos em que os homens se relacionam com os animais (cativeiro doméstico, experiências científicas, uso da sua força motriz), havia nisso uma violência mas também uma espécie de irmandade. Nenhum mineiro queria que os canários morressem. Se eles morressem, isso significava uma atmosfera inquinada que também punha em causa os humanos. Pássaros e mineiros unidos na mesma condição frágil, uns como batedores inconscientes, os outros como retaguarda temerosa. E imagino a alegria dos mineiros, sofridos e expectantes, quando ouviam os canários, animais como eles, cantarem sem interrupção, amarelo-vivos, canários como comoventes arautos da esperança."
2 comentários:
Saber interpretar a arte...
Numa galeria de arte, uma mulher está parada em frente a um quadro muito estranho cujo nome é “Foi almoçar a casa”. Nele, estão representados três negros nus, sentados num banco de jardim com os seus pénis em primeiro plano. Mas, curiosamente, o homem do meio tem o pénis cor de rosa...
“Desculpe-me — diz a mulher ao curador da galeria — Eu estou curiosa a respeito desses negros. Porque é que o homem do meio tem o pénis cor de rosa?”
O curador responde: “Receio que a senhora não tenha interpretado bem o quadro. Esses homens não são negros; eles trabalham numa mina de carvão e o homem que está sentado no meio 'Foi almoçar a casa'...!”
Abraço
ahahahah
Tem graça e não ofende...
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