A terra não pedia muito.
Leve e escura, dava em muitos dobros
o que se lhe espetava
e bastavam-lhe
dois dedos de falatório ao fim da tarde
para se ver paga.
Pelas sete horas, Inverno ou Verão,
descia a caminheira das pereiras
e ia junto à chã do poço
contar à horta as coisas do dia e da vida.
«- Logo temos consoada... Mais uma.
Fez-se depressa o ano.»
A chuva caía miúda e a noite vinha aí.
«- Fez-se depressa o ano ...»
O bom ouvidor faz a conversa corrida
e iam por aí fora
sobre coisas de muito e de pouco,
sem pesar nem medir,
que é aí que está o gosto.
De quando em vez paravam de remar
e seguiam o embalo, fazendo caminho.
O vento cheirava a preparos de ceia.
Sentado no muro de pedra solta,
aconchegou a samarra e cuspiu longe.
Para a horta a conversa era um regalo
e a ele, no fim de contas, não lhe custava nada.
«- Parece que foi ontem.»
Que sim, que parecia.
«- Santas noites, até amanhã.»
«- Adeus, saudades ao Deus Menino.»
«- Serão presentes.»
Ele a virar a curva da eira e o Menino a chegar.
«- O João ?»
«- Ainda agora abalou. Mandou saudades.»
«- É sempre assim ...»
JCN
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
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2 comentários:
Fantástico, Parabéns! Rita Ferro
Esqueci-me de dizer que me lembrou o Torga! Ou vice-versa? RF
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