Passados 15 dias desde a última referência, a campanha presidencial segue o seu caminho decadente, inócuo e desprestigiante para a democracia portuguesa.
Em lugar de se discutir os problemas do país e apresentar propostas para os resolver, são dois bancos (por sinal, falidos) que dominam a actualidade e o dia-a-dia dos candidatos. Tendo entrado como um outsider na corrida a Belém, foi Defensor de Moura quem despontou todo este frenesim à volta de uma compra de acções por parte de Cavaco Silva. Pode-se concordar ou não ideologicamente com o Cavaco, pode-se estar frontalmente desiludido com o seu primeiro mandato, pode-se criticar o seu artificial distanciamento da actividade política, mas a sua honestidade e seriedade é inatacável!
Desde que se deu a conhecer ao país como ministro das finanças de Sá Carneiro, e já lá vão mais de 30 anos, nunca surgiu um caso polémico que envolvesse o ex-líder do PSD.
Ao meu juízo, considera-se bem mais gravoso o discurso encetado por Alegre na noite de Sábado. O candidato apoiado por BE e PS disse : "A abstenção que fique à direita, porque neste lado é hora de unir, de somar e de mobilizar à esquerda". Mesmo que tenha sido o desespero eleitoralista o motor desta afirmação, fica claro que o
poeta de Águeda nunca poderá ser o presidente de todos os portugueses, mas apenas dos que se situam no seu espectro político, que é bastante à esquerda do actual PS. Para Alegre, a abstenção à direita é um dado positivo.
Não deixa de ser irónico que tenha sido o próprio Manuel Alegre quem acusou Cavaco de representar uma minoria Liberal-Conservadora e não os globais interesses nacionais.
E como esta nova moda politiqueira de vasculhar os baús poderá seguir um caminho perverso, e contrário ao esperado pelos iniciadores da dita moda, fica aqui um texto escrito em 1970.
“A solidariedade de que os movimentos de libertação nacional carecem é do mesmo género da que é prestada pelos Estados imperialistas ao Governo Português, é uma solidariedade concreta e material, é o fornecimento de pelo menos uma arma de fogo a cada combatente, de munições a cada guerrilheiro, de uma cama de hospital para cada ferido, de livros e cadernos para cada estudante.
Não basta reconhecer sem ambiguidades o direito dos povos africanos sob o domínio colonial português à independência nacional imediata e incondicional. Na nossa boca de portugueses isso representaria ainda menos do que as boas palavras daqueles que limitam a reconhecer-nos o direito de nos batermos contra o fascismo e o capitalismo em Portugal para construirmos o socialismo no nosso país, sem nada fazerem para nos ajudarem a atingir esses objectivos.
(…) O nosso dever de fazermos no nosso país a verdadeira revolução: a revolução nacional anti-fascista; anti-colonialista e anti-imperialista, que apenas poderá realizar-se, se for, ao mesmo tempo, uma revolução socialista”
Argel, 23 de Junho de 1970
Manuel Alegre e outros membros da Direcção da FPLN
Para complementar estas elucidativas palavras sovietizantes, ficou-se a saber que o candidato Coelho, apesar de representar o PND (partido de Direita) na ALM, foi militante do PCP e em 1981 deslocou-se à URSS para ser agraciado com um prémio.
A este circo, todos os palhaços são bem-vindos.
Pedro Castelo Branco
1 comentário:
O texto de 1970, sobretudo o 1º parágrafo, é elucidativo para se perceber quem é M Alegre!
Muito oportuno lembrá-lo.
fq
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