30 dezembro 2012

Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

Nas últimas semanas, por uma razão ou outra, fui conversando com pessoas sobre o Natal. Às vezes não mais do que uma pergunta e uma resposta, às vezes diálogos mais demorados sobre o tema. De todas estas impressões ressalto um denominador comum: o Natal é um stress. Depois olho para trás, para quando a minha geração começou a ter filhos, a ter de organizar jantares e ceias com a família com quem também casaram, a correr estradas num vaivém com filhos ensonados e com fraldas sujas e a impressão era a mesma: o Natal é um stress. Significa isto que, em 30 anos, a minha geração pouco mais conseguiu fazer pelo natal do que proferir a frase a itálico, mesmo já não tendo filhos pequenos a exigir colo de horas trocadas.

Para os que têm a minha idade - e são esses que conheço melhor - o Natal é sempre um tempo negativamente intenso, e muitos de nós proferem a frase demolidora: quem me dera o dia 26 de dezembro... O stress é, muitas vezes, apenas uma tristeza. As famílias dividiram-se, alguns elementos desapareceram na curva da estrada, muitos têm pela frente uma vida financeira desafiante ou a angústia de um vazio profissional, as mesas da consoada, outrora cheias de gente, estão reduzidas aos participantes de todos os dias. O Natal é um momento que potencia sentimentos. Talvez a maior parte das famílias viva momentos difíceis de separações, mortes, desempregos, falências, e tudo isso assuma uma dimensão muito grande, como se fosse uma nuvem escura e sem fim a tapar-nos o sol que aquece e alegra. Para outros, o stress é apenas a dúvida - e a maçada que daí decorre - sobre aos presentes que se oferecem, para além do pouco tempo de que todos aparentemente sofremos, da correria que é tudo, da canseira, dos encontrões, das multidões nas lojas, da falta de estacionamento. 

Tenho medo que a minha geração - onde eu me incluo, porque também sou agente activo do discurso acima - esteja a matar a dimensão de esperança e de alegria que é o Natal. Tenho medo que não consigamos nunca ter uma consoada frugal porque não há dinheiro, e não dar presentes porque não há dinheiro e, mesmo assim, vivermos um Natal, se não feliz, pelo menos cheio de calor humano. O Natal não é isto em que eu e muitos outros o tornaram: uma época de trabalhos, de loiça suja, de noitadas e de excessos, de tristezas e de nostalgias, de queixumes sobre o comportamento do próximo, de tradições mantidas à custa de dores nas costas, rombos na carteira, más vontades. O Natal não tem de ser um stress, sob risco de ser preferível a igreja acabar com este feriado e devolver-nos o 1 de novembro...

Muitos de nós perceberam, pelos piores motivos, que podemos viver muito bem com muito menos. O despojamento forçado ensinou-nos isso, ao devolver-nos a noção de tempo de qualidade. Temos menos, talvez sejamos mais. É chegada a altura, se calhar, de aplicarmos esta realidade ao Natal. Apesar de todas as dores, todas as saudades, todas as angústias e todas as impaciências, desejarmos Santo Natal em vez de Bom Natal, revelando, com isso, que o importante é o Menino Jesus, que o importante é o Amor e que o importante é a Esperança. 

Obrigado por lerem o que tinha a dizer a mim próprio. Renovados votos de Santas Festas para todos.

JdB

***            

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa.
Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa.
Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem.
Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos.
Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura.
Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas.
Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas.
Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!»
Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?»
Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse.
Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.
E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens. 

2 comentários:

ACC disse...

Crescer custa e por vezes dói.
Digo isso imensas vezes ás minhas filhas e este seu texto devolveu-me este pensamento antigo.
Será que foi o natal que mudou ou fomos nós que crescemos?
Antes quem fazia as compras eram os pais, os avós e os tios. Punham a mesa, cozinhavam os perus, as rabanadas e transportavam-nos ensonados com os bolsos cheios de um brinquedo e um par de meias. Já lhes perguntámos como foi? Sentiriam o mesmo stress (palavra nova) ou seria apenas aflição? Tinham a mesma angústia dos presentes, ou como a escolha era menor a dúvida era mais tranquilizadora. Corriam de casa em casa e sofreriam já, como nós, a pressão e o peso dos "outros" sogros que nos arrancam os filhos da mesa da consoada?
Será assim tão diferente ou fomos nós que crescemos?
Que tal fazer uma promessa para 2013? Tentar perceber de onde vinha o encanto do NATAL da nossa infância e repetir. Talvez os netos agradeçam.

Maf disse...

Um Santo Natal para si JdB e para quem mais goste !
Maf
(Sim, eu sei que hoje já é dia 31, mas o Natal é quando um homem quiser)

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