20 novembro 2024

Vai um gin do Peter’s ?

 EM CONTAGEM DECRESCENTE PARA O NATAL 

A agilidade do marketing para compor mensagens lapidares parece aguçar-se na aproximação ao Natal ou face a acontecimentos especialmente impactantes em determinado país ou mesmo no mundo. Vimos o IKEA no seu melhor durante a campanha eleitoral das últimas legislativas nacionais, com cartazes à Monty Python, de que lembro alguns, só descodificáveis para os eleitores nacionais, em modo private joke certeira:  


Surfando a onda de sucesso do IKEA, outras marcas criaram cartazes cheios de humor, uns também com farpas políticas directas (um inédito em Portugal), outros mais despolitizados, como preferiu a FNAC. Curiosamente, uns escassos 9 meses sobre as legislativas de 10 de Março de 2024 e só em pesca à linha (em blogs e no Facebook) ainda resistem na net exemplos dessa exuberância publicitária dos primeiros meses deste ano. Isto corresponde a um apagão informativo clamoroso do passado recente na google, cuja maioria das pesquisas apenas dá acesso a links institucionais (CNE e afins, com instruções sobre os locais de voto e infantilizações equivalentes) e, em matéria de cartazes restringe-se aos dos Partidos com assento na A.R., sendo os mais visíveis no google os do Bloco de Esquerda. Estranhos tempos de suposta liberdade democrática e de apregoado pluralismo de todos os quadrantes, mas com descarada redução do património histórico a um par de vestígios higienizados. Se isto não é cancelamento... Aqui vão exemplos de cartazes divertidos, em diálogo uns com os outros, caçados com enorme esforço, pelo que convém revê-los e guardá-los como documentos históricos expressivos de uma ousadia democrática desempoeirada, que deu os primeiros passos uns meses antes de cumprirmos meio século sobre o 25 de Abril:  

Mais 3 empresas entram no diálogo publicitário disparado pelo IKEA, com a famosa estante onde se esconderam milhares de euros no escritório do Chefe do Gabinete do PM de então (Nov.2023), em S.Bento.




O outdoor da SUN esteve exposto ao lado da sede do PS, no Largo do Rato.

Em 2018, o IKEA esmerou-se na sua missiva de Natal (ao invés deste ano, que lançou um meramente mercantilista) com uma curta-metragem interpelativa, dirigida sobretudo aos países hispânicos. Aproveita o clima afectivo da quadra para arriscar um alerta forte sem o efeito colateral de “murro no estômago”. Porque há verdades que doem, mais ainda quando se adentram na vida rica, mas cheia de claro-escuros, de tantas famílias. Partindo da matriz familiar do Sul da Europa e das sociedades latino-americanas, onde se juntam várias gerações à mesma mesa, denuncia-se a grande ilusão que podem ser as redes sociais, na miragem de estarmos mais interconectados com os outros, mas afinal menos disponíveis para os que estão ao lado. O tempo não estica para tudo: ou imagens de pessoas no ecrã ou gente de carne-e-osso. 

Convenhamos que muita cusquice se alimenta nas redes sociais, que devassam sem conseguir aproximar-nos de quem surge nos telemóveis ou nos tablets! Se dúvidas houvesse, confirma-se quanto o principal se joga nas escolhas do nosso coração e bem menos nas proezas tecnológicas ao nosso alcance. Vivemos mergulhados na superabundância de recursos (pelo menos, no Ocidente), o que exige saber escolher, deixar opções para trás, cientes do perigo de tentar ir a tudo e acabar em overdose. Bem sabemos que não é a mesa a transbordar de comida que engorda e dá cabo da saúde, mas o que realmente consumimos. Mais critérios e filtros afinados tornam-se incontornáveis para tirarmos o melhor partido do que está à mão de semear, mas requer moderação para evitar excessos viciantes e, a prazo, degradantes.

Claro que a validade de algumas perguntas na curta-metragem do IKEA poderá ser questionável, porque desconhecermos a cor preferida de alguém próximo não significa, necessariamente, desinteresse e frieza. Mas, sem nos atermos ao pormenor de cada interpelação, a ideia central merece ser levada a sério e repensada, no final do dia. Poderá servir de bússola para aprofundarmos e enriquecermos a relação com os outros, começando pelos mais chegados. Dizia um amigo meu, na altura pai de filhos pequenos, que uns vizinhos se preocupavam muito com os filhos, mas ocupavam-se bem pouco deles… Aplica-se, na perfeição, ao leit motiv do spot publicitário da marca sueca, observado pelo ângulo mais positivo e verdadeiro: «Everyday, we have the chance to know more about the people around us»:   



Quadra bem anunciar o Natal lembrando a liberdade tão necessária ao coração humano e crucial na relação com o próximo, para poder ser saudavelmente recíproca, positiva, sem atropelos ao que no outro (em cada um) é sagrado e intocável. É especialmente reconfortante constatar a explosão de liberdade que traz à humanidade o Menino que está a chegar, como se canta neste hino natalício:   


Hoje, a partir das 17h30, o Cristo Rei ficará iluminado em tons encarnados para lembrar o drama imparável dos deslocados e refugiados. É indizível a dor que provoca abandonarem a sua terra, por vezes, deixar para trás os mais velhos e frágeis da família, para fugir à pobreza e às guerras, aventurando-se em travessias perigosas até regiões estáveis e prósperas do globo, onde dificilmente serão tratados como um nativo. De 18 a 24 de Novembro, decorre a RED WEEK organizada pela Fundação AIS, em homenagem e em alerta para a situação dramática de milhões de cristãos vítimas de perseguição religiosa no mundo. Um dos pontos altos da semana é a apresentação do estudo: «Perseguidos e Esquecidos? Relatório sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé». Como é possível que uma época tão sensível aos Direitos Humanos e tão adepta das amplas liberdades, pactue (pelo silêncio noticioso) com estas perseguições mortíferas e inaceitáveis para os padrões de liberdade de que o nosso tempo se considera arauto e campeão? Onde estão a ONU e a maioria das ONG profissionais da denúncia? Hoje, às 17h30 será o lançamento do referido relatório, em Lisboa, no MUDE. Calendário das apresentações pelo país:  


Quem nasceu no lado rico do planeta tende a banalizar e subestimar a sua situação de privilégio, apesar dos problemas que lhe calhem em sorte, porque ninguém está imune às dificuldades. Não existe o paraíso na terra, ainda que se vivam momentos sublimes. Por isso, Quem se prepara para nascer impotente, insignificante e paupérrimo num lugarejo perdido, como lembramos na Noite Santa, será a nossa melhor ajuda para vermos mais, percebermos melhor e dispormo-nos a fazer a nossa parte, com gente de carne-e-osso ao nosso lado.   

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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