18 novembro 2025

Dos benefícios e malefícios dos abraços

Em 2008 escrevi um post sobre abraços grátis de que reproduzo um excerto:

Há cerca de ano e meio passei por Bilbao para conhecer o Guggenheim. Quando dei por mim estava a aproveitar o abraço que alguém disponibilizava. Não eram rebajas, era grátis. Ofereci, pois, o meu amplexo a uma rapariga basca, não me passando pela cabeça que pudesse ser uma suicida com uma cintura fina repleta de bombas. 

Soube-me bem, digo-lhes. Aqueles três segundos deram-me a sensação agradável de uma manifestação afectiva altruísta, sem consequências funestas para a saúde, com um ligeiríssimo aumentar do batimento cardíaco. Senti-me a abraçar o próximo desconhecido, o que era quase inédito.

Dezassete anos volvidos aprendi qualquer coisa sobre os malefícios dos abraços. Ainda não sou um homem táctil, ainda me transtorna uma excessiva proximidade física, sobretudo se não lhe vislumbrar afecto ou utilidade. Mas encontrei algum encanto nalguns abraços, e não lhes fujo. 

Estava eu pacificado com uma certa parte da minha vida e, quiçá, saudoso de alguns abraços grátis, quando me cruzo com um artigo cujo título dispensa grandes explicações: "contra os abraços".  O autor poderia usar um raciocínio que dificilmente poderia rebater-se, como a possível falta de higiene de quem nos abraça, ou como uma interpretação muito pessoal da proxémia (estudo da forma como as pessoas usam o espaço e a distância física ao interagirem, sendo uma componente da linguagem não-verbal). Optou, isso sim, por aduzir argumentos relacionados com o desenvolvimento dos indivíduos, para o qual o abraço não é, seguramente, recomendável. Deixo abaixo os argumentos, sendo que o artigo completo pode ler-se aqui.

  1. As pessoas buscam sempre maximizar o retorno das mesmas (que passaria por esse excesso de carinho e atenção que o abraço proporciona, fora o aconchego);
  2. Desequilibram-nas porque se espera que o outro perceba, se preocupe e atenda as nossas necessidades (muitas vezes sem considerarmos retribuição);
  3. Enviesam as características procuradas no parceiro, muitas vezes idealizando pontos irrealistas;
  4. Exigem uma reciprocidade forçada (se eu sou mais físico o outro também o deve ser, “se realmente me amar”);
  5. Obrigam a mais cuidados e atenções constantes, saturando e esgotando o parceiro;
  6. Por último, e no fundamental: falsificam o afecto, encenando-o e representando-o. O excesso de abraços cria uma ilusão de empoderamento, criando uma falsa ideia de importância e de elevação que não corresponde a uma realidade objectiva e observável.

Se alguém gostar muito de abraços e precisar de um argumento científico (enfim, passe o exagero) para os pedir e oferecer a torto e a direito, pode ler este artigo cujo título é uma pergunta retórica, porque já se sabe a resposta... "What are the benefits of hugging?" Se não tiverem ninguém acessível para este movimento que baixa a tensão arterial e alivia as dores, abracem o vosso animal de estimação. Parece que o resultado é igual...

JdB

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