08 agosto 2009

Cresceram lá na avenida, na Avenida da Liberdade, e por ali aprenderam o melhor da mocidade

Joaquim era pequenito, mas um prodígio na fala. Da janela do seu quarto, num alto rés-do-chão, o menino saciava-se. Abordava toda a gente e fazia mil perguntas. “Boa tarde!” “Onde vai?” “Fazer?” “Mas olhe...” “E onde mora?” “Tem Mãe?” Queriam as almas seguir marcha e o Quinzinho não dava tréguas. Um dia caiu doente. Uma infecção pulmonar. E de dia para dia, a janela sempre vazia e a rua tão intrigada... A campainha tocou, a rua não aguentou. O que é feito do menino?! Transeuntes de horas certas trouxeram-lhe um lindo carrinho. E ao Quinzinho, ao Quinzinho, foi a rua que o curou.

Belo rancho na Avenida era o do Senhor Pompeu. Trigueirinhas as meninas, louro e claro o rapazinho. Tinha um gosto no petiz, que no dia em que ele nasceu, pagou ginjas, o Pompeu! E agora, fecho a loja. Vai fechar a drogaria?! Nãão, homem! Quero é ver se não vêm mais filhos. Vocemessê tá ciente do que é casar três moçoilas? São duas cousas terríveis, em simultâneo: o trabalho e a despesa. Fora a fúria da criada, de cuidar da pequenada. Diz sentir-se enfastiada. Coitadinha. Não faz nada! Não dê ouvidos Pompeu. Isso é conversa fiada, alfinetada. Tem razão. Dá outra ginja, ó Leitão.

Tão serena a Amélinha, que criança encantadora. No Passeio com a madrinha, quem se lembra de as ver, nunca houvera de dizer. Que o anjinho ao crescer viria logo escolher fraco caminho na vida. Tanto se empenhou o pai, viúvo novo demais, em proteger a menina, para ela depois teimar, que queria ser dançarina. Há quem diga que foi birra, outros, força do talento, e, tivesse a pequena mãe, dissipava-se o tormento. Mesmo contra as vontades, no Teatro triunfou, plena de engenho e arte, o seu nome ecoou. Amélia passou a estrela, era amiga de escritores. Um dia o pai foi vê-la e elogiou-lhe os valores.

DaLheGas

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