Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.
Há muitos anos, seguramente quase 25, pessoa que me era próxima por via familiar e de amizade afirmou, com um ar, talvez, de algum orgulho, que nunca tinha discutido com o noivo. Lembro-me de ter achado a frase perigosa, porque entendia, já nessa altura de jovem inexperiente das coisas conjugais, que havia uma enorme importância na forma como recuperamos de uma altercação: como gerimos o ganhar e o perder, a raiva, as desculpas que se pedem e aceitam, o orgulho que se feriu, a humildade, o remorso, a aprendizagem, a vingança ou o esquecimento, os gestos de paz e de concórdia. Ontem, passado um quarto de século sobre a frase, falava com um amigo sobre esse mesmo assunto. Para chegarmos à conclusão de que numa relação qualquer, o tema da discussão e da forma como a enfrentamos é quase determinante na continuação harmónica de uma vida a dois. 25 anos depois do pensamento verbalizado com uma ingenuidade natural, tenho esta certeza, pouco científica, metafórica - e com alguma tristeza -, de que podemos não morrer na bebedeira, mas agonizar na ressaca.
EVANGELHO – Jo 6,41-51
Naquele tempo,
os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter dito:
«Eu sou o pão que desceu do Céu».
E diziam: «Não é ele Jesus, o filho de José?
Não conhecemos o seu pai e a sua mãe?
Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?»
Jesus respondeu-lhes:
«Não murmureis entre vós.
Ninguém pode vir a Mim,
se o Pai, que Me enviou, não o trouxer;
e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.
Está escrito no livro dos Profetas:
‘Serão todos instruídos por Deus’.
Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino
vem a Mim.
Não porque alguém tenha visto o Pai;
só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai.
Em verdade, em verdade vos digo:
Quem acredita tem a vida eterna.
Eu sou o pão da vida.
No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram.
Mas este pão é o que desce do Céu
para que não morra quem dele comer.
Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne,
que Eu darei pela vida do mundo».
2 comentários:
JdB, sei que detesta erros e por isso leia a antepnúltima linha do seu texto.
Adorei a frase "não morrer na bebedeira, mas agonizar na ressaca". A agonia é devastadora, sentimo-nos morrer aos poucos, mas só assim se aprende a não beber, ou a saber quando e como beber.
Não concordo consigo quando diz que o importante é a forma como recuperamos duma altercação. O importante é evitar a altercação porque como o JdB escreveu no 6º domingo de páscoa "é estimulante pensarmos que podemos ser agentes da mudança acreditando, como já aqui disse citando alguém, que a nossa maior felicidade consiste em fazer os outros felizes."
Este sim, é o fim das altercações, porque elas não se corporizam.
Seja então feliz. Bjo
Ana: obrigado pela visita permanente e pela atenção ao detalhe - já corrigi o erro.
Deixe-me citar-lhe uma frase:
"Change means movement. Movement means friction. Only in the frictionless vacuum of a non-existent abstract world can movement or change occur without that abrasive friction of conflict" (Saul Alinsky).
Nem tudo o que divide as pessoas são altercações; nem todas as observações são críticas; nem todas as sugestões são "bota-abaixo". Às vezes é, tão só e apenas, a forma como olhamos e ouvimos, a tolerância com que temperamos os sentidos. E, mais radical ainda, às vezes não houve nenhuma crítica, apenas um mal-entendido de quem se sentiu vítima.
Um beijo para si também.
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