Com tantas notícias
interessantes a acumularem-se, nesta altura, é bem difícil escolher um tema único.
Por isso, este gin desdobra-se em dois.
O MELHOR
RECANTO EM ESPANHA É PORTUGUÊS
Sem querer acordar
polémicas transfronteiriças antigas, vale a pena celebrar a eleição de uma
catedral portuguesa, de estilo manuelino, como O MELHOR RECANTO DE ESPANHA, no
concurso recentemente promovido pela Repsol. Dedicada a Santa Maria Madalena,
foi edificada no século XVI, em Olivença (disputada entre Portugal e Espanha já
desde o século XIII).
Além deste templo, outros
monumentos marcam a presença lusa naquele povoado estrategicamente localizado
nas margens do Guadiana: o castelo, do reinado de D.Dinis, a calçado portuguesa
na praça principal, em basalto e calcário, ou a bonita porta manuelina no Paço
do Concelho.
PRESENÇA
DE PAZ NO MÉDIO ORIENTE
A região conflituosa onde
nasceram as religiões que descendem de Abraão foi a última escolha de Bento XVI
para deixar uma mensagem personalizada: a Exortação «Igreja no Médio Oriente». Como quis entregá-la por mão própria, no Líbano, a segurança teve
de ser fortemente reforçada, para viabilizar esta arriscada deslocação a um
país ainda mal refeito dos confronto sangrentos e regulares entre milícias, e situado
na raia da guerra civil síria.
Foi junto à linha de fogo
que este Europeu de muita idade e coragem convidou à paz, sugerindo «gestos
visíveis», capazes de conduzir à «vitória do amor». A sua visita personificou a
aproximação que recomenda às outras religiões, etnias e culturas que se
entrecruzam (e, por vezes, digladiam) na região, frequentemente dilacerada por
ódios e escaramuças violentas: «Venho ao
Líbano como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo dos homens» –
afirmou ao aterrar, concluindo quase todas as locuções em língua árabe.
Demonstrando enorme
estima e especial ternura pelo Médio Oriente, Bento XVI deixou palavras de
esperança(1),
plenamente confiante na riqueza única do património civilizacional da região,
que foi berço do monoteísmo e do monaquismo.
Talvez o traço mais
marcante da visita tenham sido os inúmeros gestos de paz. É significativo vir
de um ilustre representante do Velho Continente o reconhecimento inequívoco da
grandeza do Médio Oriente, exaltado como exemplo e baluarte da possibilidade de
ecumenismo. A própria grandeza da mensagem do Papa no Líbano estende-se por
dois gins. As temáticas de hoje
incluem:
- RIQUEZAS DO MÉDIO ORIENTE
- PARA CHEGAR À VERDADE PRECISAMOS DE TODA A HUMANIDADE
- O AMOR AO PRÓXIMO É CRUCIAL EM QUALQUER RELIGIÃO
- A PAZ DE DEUS IMPLICA GESTOS VISÍVEIS
- OS FUNDAMENTALISMOS ADULTERAM QUALQUER CRENÇA
RIQUEZAS DO MÉDIO ORIENTE
- «A feliz
coabitação do Islão e do Cristianismo, duas religiões que contribuíram para
criar grandes culturas, constitui a originalidade da vida social, política e
religiosa no Líbano.» (na Basílica S.Paulo – 14.Set.)
- «Por que motivo
escolheu Deus esta Região (para nascer e morrer)? Porque vive ela em
turbulência? Parece-me que Deus a escolheu para servir de exemplo, para
testemunhar ao mundo a possibilidade concreta que o homem tem de viver o seu
anelo de paz e reconciliação; (…) esta aspiração foi impressa por Deus no
coração do homem.» (Encontro com Governo – 15.Set.)
- «A convivência
feliz de todos os libaneses deve demonstrar a todo o Médio Oriente e ao resto
do mundo que, dentro de uma nação, pode haver colaboração entre diversas
Igrejas (…). Vós sabeis, tão bem como eu, que este equilíbrio (…) é extremamente
delicado. (…) (É) preciso dar provas de real moderação e grande sabedoria; e a
razão deve prevalecer sobre a paixão unilateral…» (Boas Vindas – 14.Set.)
- «(É) justo reconhecer
a contribuição judaica, cristã e muçulmana para a formação duma rica cultura
própria do Médio Oriente.» (Exortação – ponto
24)
- «(A) beleza do Líbano encontra-se nesta bela simbiose
(entre cristãos e muçulmanos). É preciso que o Médio Oriente inteiro, pondo os
olhos em vós (jovens), compreenda que os muçulmanos e os cristãos, o islão e o
cristianismo, podem viver juntos, sem ódio e no respeito das crenças de cada
um, para construírem juntos uma sociedade livre e humana.» (Encontro com os Jovens – 15.set.)
PARA CHEGAR À VERDADE PRECISAMOS DE TODA A
HUMANIDADE
- «(N)ão obstante as
divergências humanas e religiosas, há um raio de verdade que
ilumina todos os homens. Sabemos que a verdade fora de Deus não existe como uma
realidade em si; seria um ídolo. A verdade só pode desenvolver-se na relação
com o outro aberta a Deus, cuja vontade é exprimir a sua alteridade através e
nos homens meus irmãos. Por isso não é oportuno afirmar de maneira exclusiva:
‘eu possuo a verdade’. A verdade não é propriedade de ninguém, mas é sempre um
dom que nos chama a um caminho cada vez mais profundo de assimilação à verdade.
Esta só pode ser conhecida e vivida na liberdade, pelo que não podemos impor a
verdade ao outro; só no encontro de amor
se desvenda a verdade.» (Exortação – ponto 27)
- «Este estar juntos, esta comunhão querida pelo nosso
Deus e Senhor é hoje mais necessária do que nunca; ponhamos de lado tudo o que
pareça ser causa de insatisfação, mesmo legítima, para nos concentrarmos com um
só coração na única coisa necessária: unir todos os homens e o universo inteiro
no Filho unigénito.» (Exortação – ponto 95)
- «O que faz rico um país são, antes de mais nada, as
pessoas que nele vivem. De cada uma e todas juntas, depende o seu futuro e a
sua capacidade de se comprometer pela paz. Tal compromisso só será possível
numa sociedade unida. No entanto, a unidade não é a uniformidade. O que
assegura a coesão da sociedade é o respeito constante pela dignidade de cada
pessoa e a participação responsável de cada um segundo as próprias capacidades,
pondo a render o que há em si de melhor. (…) No desígnio de Deus, cada pessoa é
única e insubstituível.» (Encontro com Governo – 15.Set.)
- «É nosso dever
iluminar e purificar as consciências e tornar claro que cada homem é uma imagem
de Deus; e nós devemos respeitar no outro não apenas a sua alteridade, mas, na
alteridade, também a real essência comum de ser imagem de Deus...» (Respostas aos jornalistas –
14.Set.)
- «(E)xorto os
(cristãos)… a purificarem sem cessar a memória individual e colectiva,
libertando os ânimos dos preconceitos, por meio da mútua aceitação e da
colaboração com as pessoas de boa vontade.» (Exortação, ponto 81)
- «Uma melhor
qualidade de vida e desenvolvimento integral não é possível senão numa partilha
das riquezas e das competências, respeitando a dignidade de cada um. Mas tal
estilo de convivência social, sereno e dinâmico, não pode existir sem a
confiança no outro, seja ele quem for. Hoje, as diferenças culturais, sociais,
religiosas devem levar a viver um novo
tipo de fraternidade, onde aquilo que une é justamente o sentido comum da
grandeza de cada pessoa e o dom que ela constitui para si mesma, para os
outros e para a humanidade. Está aqui o caminho da paz.» (Encontro com
Governo – 15.Set.)
- «O espírito humano possui o gosto inato do belo, do bom
e do verdadeiro; é o selo do divino, a marca de Deus nele! Desta aspiração
universal deriva uma concepção moral firme e justa, que sempre coloca a pessoa
no centro. Mas é só na liberdade que o homem se pode voltar para o bem.» (Encontro com Governo – 15.Set.)
- «Uma sociedade
pluralista só existe por causa do respeito recíproco, do desejo de conhecer o
outro e do diálogo contínuo. Este diálogo entre os homens só é possível com a
consciência de que há valores comuns a todas as grandes culturas, porque estas
estão radicadas na natureza da pessoa humana. Estes valores, que formam um
substrato comum, exprimem os traços autênticos e característicos da humanidade;
pertencem aos direitos de cada ser humano.» (Encontro com Governo – 15.Set.)
O AMOR AO PRÓXIMO É CRUCIAL EM QUALQUER
RELIGIÃO
- «Devemos ainda
tornar visível no mundo o respeito das religiões, de umas pelas outras, o
respeito do homem como criatura de Deus, o amor do próximo como ponto
fundamental para todas as religiões.» (Respostas aos jornalistas – 14.Set.)
- «O testemunho (de
fé) autêntico requer o reconhecimento e o respeito pelo outro, a
disponibilidade ao diálogo na verdade, a paciência como uma dimensão do amor, a
simplicidade e a humildade...» (Exortação – ponto 12)
- «(A) convivência
de que o vosso país quer dar testemunho – só será profunda se estiver fundada
sobre uma visão acolhedora e uma atitude de benevolência para com o outro, se
estiver enraizada em Deus que deseja que todos os homens sejam irmãos.» (Boas Vindas – 14.Set.)
- «N’Ele, todos os
homens são nossos irmãos. A fraternidade universal, que (Cristo) inaugurou na
Cruz, reveste duma luz brilhante e (exige) a revolução do amor. (…) E assim
Jesus convida-vos a proceder como Ele, a acolher o outro sem reservas, mesmo
que pertença a cultura, religião, nação diferentes. Dar-lhe lugar, respeitá-lo,
ser bom com ele torna-vos sempre mais ricos em humanidade e fortes com a paz do
Senhor. (…) É bom comprometer-se com os outros e pelos outros. Viver, juntos,
momentos de amizade e alegria permite resistir aos germes de divisão, que
devemos combater sem cessar. A fraternidade é uma antecipação do Céu.» (Encontro com os Jovens – 15.Set.)
- «(O)s baptizados
são chamados a viver, aqui e agora, em comunhão fraterna entre si, que floresce
numa real solidariedade com os outros membros da família humana, sem
discriminação baseada, por exemplo, na raça e na religião.» (Exortação – ponto 77)
- «A vocação da
Igreja e do cristão é servir; e fazê-lo, como o próprio Senhor, gratuitamente e
a todos sem distinção. Assim, servir a justiça e a paz, num mundo onde a
violência não cessa de alongar o seu rasto de morte e destruição, é uma
urgência de modo a comprometer-se em prol duma sociedade fraterna, para
edificar a comunhão. (…) É um testemunho essencial que os cristãos devem
prestar aqui, em colaboração com todas as pessoas de boa vontade.» (Missa em Beirute – 15.Set.)
A PAZ DE DEUS IMPLICA GESTOS VISÍVEIS
- «(A) paz significa
estar completo, estar íntegro (…). Antes de ser exterior, a paz é interior. É
uma bênção. (…) É um bem de tal forma desejável que se tornou uma saudação no
Médio Oriente. A paz é justiça.» (Exortação, ponto 8)
- «Ninguém deveria
esperar vantagens da violência; (…) da nossa parte, (isto requer) um trabalho
de advertência, educação, purificação. (…) Diria, uma vez mais, gestos visíveis
de solidariedade, jornadas de oração pública…» (Respostas
aos jornalistas – 14.Set.)
- «(S)ó o perdão
dado e recebido coloca os alicerces duradouros da reconciliação e da paz para
todos. É necessária a transformação nas profundezas do espírito e do coração
para reencontrar uma certa clarividência e imparcialidade, o sentido profundo
da justiça e do bem comum. Um olhar novo e mais livre tornar-nos-á capazes de
analisar e questionar sistemas humanos que levam a becos … a fim de se avançar
tendo em conta o passado para não mais o repetir.» (Encontro com Governo – 15.Set..)
- «O perdão e a
reconciliação são caminhos de paz, e abrem um futuro. Descobrir verdadeiramente
o perdão e a misericórdia de Deus, permite sempre recomeçar uma vida nova.
(Cristo) venceu o mal não com outro mal, mas tomando-o sobre Si e aniquilando-o
na cruz com o amor vivido até ao fim.» (Encontro com os Jovens – 15 Set.)
- «Só o humilde pode
saborear as delícias de uma paz inaudita. (…) (A) paz é, primariamente, um
fruto do Espírito, que é preciso pedir a Deus sem cessar.» (Exortação, ponto 10)
- «A eficácia do
compromisso a favor da paz depende do conceito que o mundo possa ter da vida
humana. Se queremos a paz, defendamos a vida. (…) Portanto, devemos unir os nossos esforços para desenvolver uma sã
antropologia que integre a unidade da pessoa. Sem isso, não é possível
construir a paz autêntica.» (Encontro com Governo – 15.Set.)
OS FUNDAMENTALISMOS ADULTERAM QUALQUER CRENÇA
- «O fundamentalismo
é sempre uma falsificação da religião. Vai contra a essência da religião, que
quer reconciliar e criar a paz de Deus no mundo.» (Respostas aos jornalistas – 14.Set.)
- «Sabemos que o encontro entre o islão e o cristianismo
assumiu muitas vezes a forma de controvérsia doutrinal. Infelizmente, estas
diferenças doutrinais serviram de pretexto a uns e a outros para justificarem,
em nome da religião, práticas de intolerância, discriminação, marginalização e
até de perseguição.» (Exortação – ponto 23)
- «(O)s muçulmanos partilham com os cristãos a convicção
de que, em matéria religiosa, não é permitida qualquer coacção, e menos ainda
com a força. A referida coacção, que pode assumir variadas e insidiosas formas
no plano pessoal e social, cultural, administrativo e político, é contrária à
vontade de Deus; é uma fonte de manipulação político-religiosa, de
discriminação e violência que pode levar à morte. Deus quer a vida, não a
morte; Ele proíbe o homicídio, incluindo o do homicida.» (Exortação – ponto 26)
- «Utilizar as palavras reveladas, as Sagradas Escrituras
ou o nome de Deus para justificar os nossos interesses, as nossas políticas tão
facilmente complacentes ou as nossas violências, é um erro gravíssimo.» (Exortação – ponto 30)
Fica para daqui a 15 dias
as reflexões de Bento XVI sobre as encruzilhadas do Médio Oriente e outros
temas candentes.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
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(1) Os textos integrais estão em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/travels/2012/index_libano_po.htm
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