25 agosto 2015

Duas Últimas

Hoje, não sei bem porquê, parece-me bem retomar o tema do jogo. Como já o referi - aqui no estabelecimento ou noutros sítios - ver o que são as pessoas a uma mesa de jogo é um excelente indicador do que elas serão na vida real. Não vou pelo argumento da educação que se vê à mesa da refeição ou à mesa das cartas, mas pela forma como as pessoas jogam, celebram as vitórias, se conformam com as derrotas. 

(entre jogos de cartas de vazas ou de azar, dados, gamão, etc.,  partilhei mesas com muita gente e sempre me enervou mais, mas muito mais, as pessoas que tinham mau ganhar, porque ter mau perder é mais compreensivo, ainda que ligeiramente indesejável... Agora, ganhar e esmagar o adversário de forma arrogante e humilhante parece-me coisa pouco ética.)

Joguei muito King, algumas Copas, alguma Canasta, muito poker de dados vestido de aspirante a oficial miliciano num quartel abrantino. Alguns jogos são feitos para quatro pessoas; se aparecer um quinto, o número de pessoas é gerível; se forem seis é mais complicado, podendo mesmo ser impossível. A bem dizer, teria algum pudor em "infiltrar-me" numa mesa de jogo composta por quatro parceiros muito rotinados. Talvez me suscitasse a preocupação de estar a tornar-me um empecilho, um crava, uma excrescência naquela circularidade perfeita e com rituais próprios. E trazer um sexto? Isso então...

Uma mesa de jogo é uma boa metáfora para a vida. A forma como se joga, o modo como se organiza uma mesa de jogo, a imprudência com que podemos querer invadir uma mesa de jogo já constituída, a resistência necessária para suportar o olhar da mesa já constituída. Mesmo que este texto pareça particularmente críptico - ando falho de inspiração - convém não esquecê-la. A metáfora, digo eu, mesmo que não saiba porque a utilizei...

Deixo-vos com a música de John Williams: uma comovida interpretação do tema d' A Lista de Schindler. A explicação para a comoção parece estar aqui, num dos comentários: This was a real struggle. You celebrate the birthday of your daughter and you know you play one of your last performaces because of your dissease. So unfair. But what a wonderfull way to play your farewell... A música também convida.

JdB


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