19 julho 2021

O fado, canção de vencidos

Um dia quando isso for

Um dia, quando isso for
Deixar o teu corpo em flor
E se aproximar do fim
Queria partir, sem te ver
Sentir o mundo morrer
Lá longe, dentro de mim

Depois, em vez de esquecer-te
Tornar em sonhos, rever-te
Lá longe, na solidão
De ver-te sozinho assim
Ver-te só dentro de mim
Dentro do meu coração

É que não posso partir
Sem me partir dos teus olhos
Antes do adeus derradeiro
É que partir sem te ver
É duas vezes morrer
De alma e de corpo inteiro

Versos de António Calém

***

A rua que foi nossa

Na rua que foi nossa já não moro
Parti faz hoje um ano, não voltei
E a dor duma saudade ainda choro
Esquecido dos tormentos que passei

Apenas a lembrança em mim existe
Dos tempos que passámos lado a lado
De tudo o que foi alegre ou triste
De tudo o que foi o nosso fado

Nas noites de luar, a lua cheia
Seu manto de brancura desdobrava
Nossos passos traçavam sobre a areia
Quente ternura que o verde mar levava

Na rua que foi nossa há abandono
Voltar de novo ao amor, como eu quisera
Transformar o meu triste e frio outono
Numa nova e risonha primavera

Versos de Maria de Castro

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