Em 9 de Outubro de 2015 repesquei um texto que teria escrito algures no tempo. Reproduzo-o abaixo:
Lembras-te em que ano dançámos estas músicas? Era seguramente Verão, no terraço de um qualquer prédio no Algarve. Tínhamos todos a mesma idade, mesmo que tivéssemos nascido em anos diferentes. Tínhamos todos o mesmo dinheiro, mesmo que algumas mesadas fossem mais generosas. Jogávamos o verdade ou consequência, certos de que coraríamos se nos perguntassem de quem gostávamos, ansiosos por não fazer má figura se as regras nos levassem a beijar a rapariga que nos criava borboletas no estômago.
Depois, alguém punha discos de vinil num gira-discos que talvez funcionasse a pilhas. As estrelas eram imensas, e a Janis Joplin arrancava com o seu Me and Bobby Mc Gee. E a Melanie Safka com o seu Ruby Tuesday. Eu olhava em volta e ia buscar-te, porque estes eram os nossos slow. Não tinha pressa, porque tinha a certeza de que esperarias por mim, que disfarçarias se te viessem buscar para dançar. Íamos para o meio da pista - quer dizer, do terraço - e enroscávamo-nos na ingenuidade da juventude, com a embriaguez provocada por dois corpos justos, um cabelo cheiroso, uma face encostada, uma forma de dançar que pouco mais era do que a imobilidade de dois adolescentes apaixonados.
Lembras-te em que ano dançámos estas músicas?
Pessoa amiga informou-me que Melanie Safka havia morrido esta semana. Confirmei que tinha morrido a 23 de Janeiro, a poucos dias de fazer 77 anos.
Dancei muito ao som de Melanie Safka e o texto acima, carregado de nostalgia mas não dirigido a ninguém em especial, pois perdi o rasto às pessoas com quem dançaria esta música, reproduz um ambiente que desapareceu pela lei natural da vida.
Sou um homem de nostalgias pois, como já o disse aqui, o passado é certo e o futuro, até prova em contrário, não existe. Muito do meu gosto pela música pop advém da associação que lhe faço. Não é so gostar de Ruby Tuesday cantado pela Melanie Safka - é gostar da música e associá-la a uma época, a uma pessoa, a uma juventude sem grandes dramas e pejado de emoções fortes e juvenis, a dois corpos justos a mexerem-se de forma quase imperceptível.
JdB
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