PUBLICIDADE PRECOCE AO ALGARVE, EM 1928
As enormes dificuldades financeiras do país, que marcaram o século XIX português, foram disfarçadas através do endividamento do país. Em boa verdade, a devastação provocada pelo terramoto de 1755 desferira um golpe duro na capital de um país organizado de forma macrocéfala, em torno de Lisboa. As Guerras Napoleónicas deram, depois, a grande estocada, prolongando-se a agonia económica e social na guerra civil entre Miguelistas e Liberais. Logo que o ambiente político se apaziguou, o Governo procurou acompanhar os avanços dos países mais industrializados, modernizando a sua rede de transporte (ex: ferrovia), construindo hospitais, algumas escolas e outras infraestruturas, que obrigaram a contrair empréstimos à banca estrangeira, nomeadamente a inglesa. Sem capacidade para pagar os empréstimos, o previsível colapso financeiro ficou patente em 1891. Alguns historiadores associam essa vulnerabilidade financeira ao Ultimatum britânico a Portugal, que pôs termo às pretensões portuguesas de unir os territórios de Angola a Moçambique, através da repartição de terras africanas, que ficou conhecido por «Mapa Cor-de-Rosa». A humilhação infligida pelo mais velho aliado do país, fragilizou mais o Governo e agravou a tensão social que vinha em crescendo, desde há décadas. Eça e outros da sua geração documentaram bem o descontentamento geral, que se fazia sentir por todo o país.
Para atrair remessas em moedas estrangeiras valiosas (como a libra inglesa, o marco alemão, o franco gaulês, etc.), de onde provinham os países emissores de turismo, no século XIX, o ministro da Fazenda (Finanças) Mariano de Carvalho defendeu (1893) a aposta no turismo para mitigar o desequilíbrio das contas públicas: «Lisboa lucraria enormemente se, pela afluência de passageiros [estrangeiros], aqui ficassem quantias avultadas».
Porém, a turbulência política interna e a falta de infraestruturas retardaram esse desiderato. Apesar das dificuldades, em 1906 foi constituída a Sociedade de Propaganda de Portugal, com a missão de atrair turistas. O seu primeiro grande feito foi o acolhimento do IV Congresso Internacional de Turismo, que trouxe a Portugal perto de 800 congressistas estrangeiros. Corria o ano de 1911.
O período político conturbado que marcou a Primeira República voltou a atrasar o desenvolvimento do sector. No final dos anos 20, as iniciativas começaram a pulular, depois fortemente impulsionadas e profissionalizadas por António Ferro.
Um passo importante correspondeu ao lançamento da revista ilustrada «TERRAS DE PORTUGAL», fundada por Gomes Barbosa, em 1927, para «tornar conhecido em todo o mundo o ressurgimento de Portugal». O primeiro número, publicado em 1928, tinha por tema «Portugal Ilustrado – Grande Álbum de Turismo», dedicando um capítulo às praias algarvias (bem documentado em artigo de 3 de Agosto, publicado no site www.sulinformacao.pt), mostradas com um entusiasmo pueril, pois quase contava tanto o potencial das estâncias portuguesas como as reais condições oferecidas aos turistas de então.
Quase cem anos depois, a viagem ao passado através daquela revista revela uma região a despontar para o turismo, ainda sem as feridas de um crescimento posterior muito desordenado, que correu atrás do dinheiro rápido, comprometendo o futuro.
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| Até o pitoresco da azáfama local da pesca ajudam a completar a paisagem da região. Mas a grande atracção eram as festas locais: «são deveras interessantes e muito típicas as diversões populares da região, que tanto a banhistas como a turistas proporcionam agradáveis passatempos. O algarvio gosta de música e ama a dança.» Na gastronomia, além do peixe e dos frutos secos, elogiavam-se as uvas: «excelentes devendo especializar-se a sua soberba uva de mesa, deveras primorosa». |
Fugindo à ladainha das lamúrias habituais (q.b. compreensíveis, face aos estragos feitos na região e difíceis de reverter), constata-se que ainda há recantos paradisíacos no Algarve, de clima privilegiado, bafejado por um Inverno suave e luminoso. Não é por acaso que tantos europeus de países frios, rumam para lá, logo em meados de Setembro, à procura do sol e do céu turquesa. Não é por acaso, que em muito Algarve quase só se ouve falar inglês. Se os estrangeiros sabem tão bem aproveitar a extremidade Sul do país, como não havemos nós de tentar cuidar e melhorar (não desistir) do nosso património.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)








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