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| Paredão do Estoril, um destes dias de manhã cedo |
Com as minhas diversas leituras para o doutoramento perco-me quanto ao que li, onde li, porque li, de quem li. Para o caso pouco importa. Alguém, perante uma família que se desmoronava, terá escrito: talvez lhes falte alguma espiritualidade.
3ª feira, à procura de informações para o post sobre o centenário do meu Pai cruzei-me com um texto (cujo autor conheço relativamente bem) de apresentação de um livro comemorativo dos 50 anos da Faculdade de Teologia da Universidade Católica. A certo ponto diz o autor deste texto: (...) a [intuição] de que uma pessoa que acha que a sua vida é a coisa mais importante do mundo provavelmente não se interessa por teologia, e também com grande probabilidade não será uma pessoa religiosa. A teologia, entre outras coisas, é uma ocupação intelectual que nos lembra constantemente que não somos o que mais importa, de que não somos o centro ou o fim deste mundo.
Vou apropriar-me de ambas as citações - com diferentes profundidades, obviamente - para elaborar um raciocínio que nada tem de científico, talvez apenas ignorantemente intuitivo. Relativamente à primeira, vou assumir que o termo espiritual se deve ler como religioso, embora, em bom rigor, se possa ser espiritual sem ser religioso, sendo que a inversa não será forçosamente assim.
Penso que conseguimos olhar para uma pessoa que conhecemos relativamente bem e identificar os principais defeitos ou qualidades. Será que podemos olhar para uma pessoa e, identificando esses defeitos e qualidades, identificar também aqueles pelos quais essa pessoa pauta a sua vida? Conseguimos dizer de fulano que é motivado pelo amor, mas que beltrano é motivado pelo combate? O bom ou mau feitio que atribuímos a alguém é o resultado de um somatório de características ou é a evidência de uma característica dominante?
O ser-se religioso não é garantia de que se é boa pessoa. Há, seguramente, pessoas boas e más nas fileiras do religiosos e dos ateus. No entanto, a pessoa religiosa é, de alguma forma, um estudante de teologia: tem uma vida de escuta que o lembra constantemente de que ele não é o que mais importa, nem de que é o centro ou o fim do mundo. Ser-se este estudante de teologia (e aproprio-me despudoradamente da expressão) é ser-se lembrado constantemente de que a característica pela qual devemos pautar a vida é o amor, na sua expressão mais abrangente.
Vem tudo isto a propósito de, num passeio muito matinal no paredão do Estoril, me ter questionado sobre o que é o sentimento (ou emoção ou sensação, não interessa para o caso) que me move, ou que me domina. Um minuto depois sabia que era mau estudante, mas, adquirido esse facto, o que é que me move? É a vaidade, a fragilidade, o amor, a luta, o orgulho, a paciência, a justiça, a ira, o idealismo (como me dizia alguém ontem)? O que é, na verdade, dominante em cada um d enós?
JdB

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