A cozinha de João Semana era de um caráter portuguesíssimo, e eu,
ainda que me valha a confissão os desagrados de alguma leitora elegante,
francamente declaro aqui que, para mim, a cozinha portuguesa é das
melhores cozinhas do mundo.
(...)
As combinações extravagantes das cozinhas estrangeiras - galicismos
culinários, por exemplo - repugnavam-lhe tanto ao estômago, como aos
ouvidos, mais pechosamente sensíveis dos nossos severos puritanos, a
outra qualidade de galicismos.
Queria-se ele com a carne de porco bem assada e o arroz do forno
açafroado - esses dois importantes elementos de gozo para os paladares
portugueses; queria-se com o prato clássico da orelheira de porco, e até
com aquele outro prato tão castiço como qualquer período de Fr. Luís de
Souza - prato que valeu aos portuenses um epíteto gloriosamente
burlesco; queria-se com todas estas iguarias, quase desterradas das
mesas modernas, de preferência aos manjares exóticos, cuja nomenclatura
tem a propriedade de fazer ignorar ao conviva o que lhe dão a comer.
(...)
Em Portugal, terra de lhaneza um tanto rude, mas não afetada, o dono da casa não costumava dantes experimentar a imaginação dos seus convivas com enigmas culinários.
Não havia cá a usança de se dar a qualquer pastel ou empada o nome de
um general do exército; a qualquer açorda o de um ministro célebre; a
qualquer doce balofo e insípido o de um poeta da moda.
in As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis
Migas à Alentejana
Ingredientes:
500
g de entrecosto
250
g de lombo ou de costelas de porco (sem osso)
150
g de toucinho salgado
800
g de pão de trigo caseiro (duro)
3
dentes de alho
3
colheres de sopa de massa de pimentão
sal
Preparação:
Corta-se
o entrecosto e a carne em pedaços regulares e barram-se bem com os
alhos pisados e a massa de pimentão. Deixa-se ficar assim de um dia
para o outro.
Corta-se o toucinho em bocadinhos. Numa tigela de fogo (tigela de barro vidrado muito estreita na base e larga em cima) levam-se a fritar as carnes e o toucinho juntando uma pinguinha de água (para não deixar queimar). Retiram-se as carnes à medida que forem alourando.
A gordura (pingo) resultante da fritura das carnes é passada por um passador.
Tem-se o pão cortado em fatias. Deita-se o pão na tigela, rega-se com um pouco de água a ferver e bate-se imediatamente com uma colher de pau, esmagando-o. Tempera-se com o pingo necessário, batendo as migas. Estas devem ficar bem temperadas mas não encharcadas de gordura.
Sacode-se a tigela, sobre o lume, enrolando as migas numa omeleta grossa.
A esta operação dá-se o nome de enrolar as migas.
Quando as migas estiverem envolvidas numa crosta dourada e fina, colocam-se na travessa, untam-se com pingo e enfeitam-se com as carnes.
Corta-se o toucinho em bocadinhos. Numa tigela de fogo (tigela de barro vidrado muito estreita na base e larga em cima) levam-se a fritar as carnes e o toucinho juntando uma pinguinha de água (para não deixar queimar). Retiram-se as carnes à medida que forem alourando.
A gordura (pingo) resultante da fritura das carnes é passada por um passador.
Tem-se o pão cortado em fatias. Deita-se o pão na tigela, rega-se com um pouco de água a ferver e bate-se imediatamente com uma colher de pau, esmagando-o. Tempera-se com o pingo necessário, batendo as migas. Estas devem ficar bem temperadas mas não encharcadas de gordura.
Sacode-se a tigela, sobre o lume, enrolando as migas numa omeleta grossa.
A esta operação dá-se o nome de enrolar as migas.
Quando as migas estiverem envolvidas numa crosta dourada e fina, colocam-se na travessa, untam-se com pingo e enfeitam-se com as carnes.
Nota: receita retirada da internet
MFM
2 comentários:
Ai meu Deus, a fome!
Ainda está para se inventar algo melhor do que a açorda (ou migas, como se diz lá por baixo).
JdB
Que associação divertida.
Adoro migas e a cozinha tradicional portuguesa. Pode continuar por aí?
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