Adeus, até ao meu regresso
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
26 julho 2024
25 julho 2024
Pensamentos dos dias que correm
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Lua funchalense, 22 de Julho de 2024 |
A Felicidade vem da Monotonia
Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste pois numa adaptação razoavelmente exacta à monotonia da vida. Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida; é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz.
Os ilógicos doentes riem - de mau grado, no fundo - da felicidade burguesa, da monotonia da vida do burguês que vive em regularidade quotidiana e, da mulher dele que se entretém no arranjo da casa e se distrai nas minúcias de cuidar dos filhos e fala dos vizinhos e dos conhecidos. Isto, porém, é que é a felicidade.
Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente. Um excesso de cousas novas acabará por cansar, porque não há sensibilidade para acompanhar os estímulos dela.
Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje.
É claro que ele não diria nada disto. Às minhas observações, limita-se a sorrir; e é o seu sorriso que me traz, pormenorizadas, as considerações que deixo escritas, por meditação dos pósteros.
Fernando Pessoa, in 'Reflexões Pessoais'
24 julho 2024
Dos mistérios *
23 julho 2024
Pensamentos dos dias que correm
A Dor Evitada
É certo que a infelicidade não depende apenas da dor, mas a alegria, essa, só devia depender da ausência de dor física. Vinte séculos inteiros e completos não inventaram uma explicação do sofrimento; sofre-se em comparação com o que é não sofrer, e nenhum homem saudável quer ser educado previamente para aquilo que é mau. Já não se treina a resistência à dor: evita-se, sim, a mistura com essa 'coisa' repelente.Gonçalo M. Tavares, in "A Máquina de Joseph Walser"
A Dor como Padrão para a Intensidade dos Sentidos
Normalmente, a ausência de dor é apenas a condição física necessária para que o indivíduo sinta o mundo; somente quando o corpo não está irritado, e devido à irritação voltado para dentro de si mesmo, podem os sentidos do corpo funcionar normalmente e receber o que lhes é oferecido. A ausência de dor geralmente só é «sentida» no breve intervalo entre a dor e a não-dor; mas a sensação que corresponde ao conceito de felicidade do sensualista é a libertação da dor, e não a sua ausência. A intensidade de tal sensação é indubitável; na verdade, só a sensação da própria dor pode igualá-la.
Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'
O Homem não Foge da Dor
Não é verdade que o homem procure o prazer e fuja da dor. São de tomar em conta os preconceitos contra os quais invisto. O prazer e a dor são consequências, fenómenos concomitantes. O que o homem quer, o que a menor partícula de um organismo vivo quer, é o aumento de poder: é em consequência do esforço em consegui-lo que o prazer e a dor se efectivam; é por causa dessa mesma vontade que a resistência a ela é procurada, o que indica a busca de alguma coisa que manifeste oposição.
A dor, sendo entrave à vontade de poder do homem, é portanto um acontecimento normal - a componente normal de qualquer fenómeno orgânico. E o homem não procura evitá-la, pois tem necessidade dela, já que qualquer vitória implica uma resistência vencida.
Tome-se como exemplo o mais simples dos casos, o da nutrição de um organismo primário; quando o protoplasma estende os pseudópodes para encontrar resistências, não é impulsionado pela fome, mas pela vontade de poder; acima de tudo, ele intenta vencer, apropriar-se do vencido, incorporá-lo a si. O que se designa por nutrição é pois um fenómeno consecutivo, uma aplicação da vontade original de devir mais forte.
Em tudo isto, a dor não só tem por consequência necessária a diminuição da sensação de poder, como até serve, na maioria dos casos, como excitante da mesma sensação de poder, sendo o obstáculo um stimulus dessa vontade de poder.
Friedrich Nietzsche, in 'A Vontade de Poder'
22 julho 2024
Músicas dos dias que correm *
21 julho 2024
XVI Domingo do Tempo Comum
EVANGELHO – Marcos 6,30-34
Naquele tempo,
os Apóstolos voltaram para junto de Jesus
e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
Então Jesus disse-lhes:
«Vinde comigo para um lugar isolado
e descansai um pouco».
De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir
que eles nem tinham tempo de comer.
Partiram, então, de barco
para um lugar isolado, sem mais ninguém.
Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam;
e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar
e chegaram lá primeiro que eles.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão
e compadeceu-Se de toda aquela gente,
que eram como ovelhas sem pastor.
E começou a ensinar-lhes muitas coisas.
19 julho 2024
18 julho 2024
Crónica de férias no Funchal (I)
Para já, Funchal voltou ao seu melhor: uma temperatura amena, uma teor de humidade aceitável, um banho fantástico com amigos no Clube Naval, uma gente simpática onde quer que se vá, um peixe fresco e barato, uns bifes de atum no ponto certo. Vir ao Funchal é um gosto muito grande, e não só porque se tem a sensação de férias. Num certo sentido - e muito mal comparado - eu tenho o gosto de vir ao Funchal uma vez por ano como outros têm gosto na Ericeira, na Quinta do Lago, em S. Martinho ou em Moledo. Há um sentido de uma certa pertença, de familiaridade, da leveza que decorre de se saber onde se está.
O barco que se vê na fotografia é o barco que se vê da casa onde fico estes 10 dias - mar, muito mar, umas manhãs gloriosas, uns fins de tarde com uma luminosidade fantástica. O resto do tempo de mar será no Clube de Turismo onde não há areia nem muita gente, dois factores que me são menos favráveis no gosto que tenho pelos banhos de mar.
JdB
17 julho 2024
Vai um gin do Peter’s ?
CURTA-METRAGEM SOBRE O MELHOR DA HUMANIDADE
Um filme circulado pela Sociedad Barcelona Videos, em 2019, convida as pessoas a interessar-se pelos mais chegados, começando pelos da proximidade geográfica. Ironicamente, esta interpelação foi lançada um ano antes da Covid-19, que nos obrigou à reclusão total, em casa (menos mau, o local do cativeiro) e a guardar a máxima distância de tutti quanti, começando pela vizinhança com quem há maior probabilidade de nos cruzarmos. Hoje, bem depois de a Organização Mundial de Saúde ter decretado o fim do risco pandémico, a maioria das pessoas retomou os encontros e o arejo dos bons tempos pré-covid, ‘quando éramos felizes e não sabíamos’. Por isso, o pequeno conto filmado volta a adequar-se ao actual status quo, sem restrições de convívio.
O título «SOLO NECESSITAMOS DE UMA EXCUSA PARA SER AMIGOS» ecoa o apelo do Papa filósofo Bento XVI, quando alertou para os tremendos equívocos de um mundo supostamente transformado em aldeia, graças às ligações interplanetárias operadas pelos avanços nas telecomunicações, mas sem ter conseguido converter os vizinhos em ‘próximos’. Esse não é um avanço ao alcance de nenhum progresso tecnológico, pois continua a depender das opções do coração humano. Como bem observavam Llosa, Joyce, Faulkner, Tolstoi e outros grandes da literatura, o horizonte da humanidade esgrime-se no íntimo do ser humano e convoca a riqueza interior de cada um, exigindo uma consciência da realidade e uma capacidade afectiva aguçadas. Nada disto depende da tecnologia, cujas proezas podem antes ajudar a anestesiar e a entorpecer quem queira viver distraído, à deriva, tentando esquivar-se à tensão profunda que uma vida consciente e consequente implica:
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O vício da net e do telemóvel, a agravar-se com a idade, até ao final sarcástico, em que o vício persiste para lá da longevidade humana. |
15 julho 2024
Músicas dos dias que correm
Parto hoje para a minha estadia anual no Funchal. Durante 12 dias ouvirei o português com sotaque, reverei amigos recentes mas bons, comerei milho frito, espetadas e bodião. Durante estes dias tomarei banho num mar fantástico, cavado, com uma óptima temperatura. Darei mergulhos de um pontão, fingindo ser menino de novo, gozarei de uma temperatura que já foi mais amena, pois o ano passado bateu nos 30ºC.
JdB
14 julho 2024
XV Domingo do Tempo Comum
EVANGELHO – Marcos 6,7-13
Naquele tempo,
Jesus chamou os doze Apóstolos
e começou a enviá-los dois a dois.
Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros
e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho,
a não ser o bastão:
nem pão, nem alforge, nem dinheiro;
que fossem calçados com sandálias,
e não levassem duas túnicas.
Disse-lhes também:
«Quando entrardes em alguma casa,
ficai nela até partirdes dali.
E se não fordes recebidos em alguma localidade,
se os habitantes não vos ouvirem,
ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés
como testemunho contra eles».
Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento,
expulsaram muitos demónios,
ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.
12 julho 2024
11 julho 2024
Poemas dos dias que correm
Amador sem coisa amada
Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.
poemas escolhidos
edições joão sá da costa
1999
10 julho 2024
Da ansiedade e da divina providência *
Tudo isto me importa muito, porque o tema maior da minha reflexão é a ansiedade e julgo que a Divina Providência pode ser relacionada e ser, até, uma chave para a sua resolução.
(E talvez também por isso utopia signifique lugar que não existe).
Deus deu-nos tudo, mas também nos deu a liberdade, o livre arbítrio, a humana imperfeição, com os quais destruímos a possibilidade de observar, na nossa caminhada na Terra, "as pastagens do deserto" que vicejam. O Deus providente é, portanto, o Deus que tudo nos disponibiliza, tudo nos oferece. É um Deus que dispõe e propõe, não que impõe ou garanta.
Nota (escrita no dia seguinte ao de elaboração deste texto, porque lido no evangelho de hoje): (...) "Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles.". Este é o apelo à divina providência.
09 julho 2024
Textos dos dias que correm
Aprendiendo
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