03 julho 2017

Da ordenação do Miguel Vasconcelos

O Miguel Vasconcelos, sobre quem escrevi no passado dia 8 de Dezembro (fica aqui o link) ordenou-se padre ontem. Para quem já o conhecia continuará a ser o Miguel; para mim continuará a ser o Sr. Vasconcelos. Para outros - e tudo depende para onde irá servir - será o Padre Miguel. Ontem foi o primeiro dia do resto da sua vida, embora esta caminhada tenha começado há muito tempo. Talvez tenha começado no exacto dia em que ele nasceu e Deus, atento a todos, tenha derramado sobre ele um olhar perscrutador e especial.

Amável e educado como sempre, mandou-me um convite impresso com uma nota manuscrita que ele não se importará que eu repita, porque revela o que lhe vai na alma, que será um misto de ansiedade, encantamento, interrogação, vontade e fé imensa: peço que reze por mim, a ver se eu atrapalho pouco


Não sei de quem é o desenho, uma Última Ceia onde Jesus Cristo se destaca de todos os outros pela cor branca com que foi representado. Parece-me que pode percorrer-se o contorno de todos o apóstolos - e também de Cristo - sem nunca tirar o dedo do cartão, como se houvesse uma corrente ininterrupta e clara quanto a Quem ordena quem, e quem ordena outro quem, e esse quem que ordena outro quem - até chegar ao Miguel, que no meu léxico é o Sr. Vasconcelos.  Como se houvesse uma corrente ininterrupta de amor que não pode nem deve desfazer-se, porque é aquilo que nos liga à eternidade e ao que é importante nesta vida. 

Há pouco mais de uma semana estive num casamento católico; na semana passada visitei várias igrejas em França, na zona onde estive hospedado - em todas elas me sentei e em todas elas pensei nos que me estão próximos, aqui ou no Céu; ontem ordenou-se o Miguel. Talvez só perceptível para mim, há um contínuo em tudo isto e que define o que penso e que já qui referi - é a esta Igreja que o Miguel quis entregar o seu labor e a sua vontade que eu quero pertencer. É aqui que me (re)encontro com o que é essencial na minha vida, mesmo que não ponha nada em prática, porque há fraquezas que não se curam.

O Miguel celebra a sua missa nova na Igreja da Boa Nova, no Estoril, no próximo dia 8 de Julho pelas 17 horas. Infelizmente, nesse preciso dia estarei em Coimbra numa reunião da Acreditar, falando daquilo que nos é importante - as crianças e jovens com cancro e os seus problemas. Tenho muita pena de não estar presente e de lhe dar mais um abraço, de entre os muitos que ele receberá naquele dia tão especial. Onde estiver pensarei nele, rezarei por ele, para que ele reze também por mim e pelas crianças e jovens que nos ocuparam o dia. 

Conheci o Sr. Vasconcelos de guitarra na mão, com o Guerra e Paz nas mesmas mãos. Quando o vir de novo terá, naquelas mãos que seguram o que é prosaico e o que é misterioso, um missal, um cálice, uma hóstia, uma vida inteira pela frente, um desejo de santidade, a memória de todos aqueles, da família aos amigos, que lhe foram calcetando a estrada que ele percorreu até ontem, quando se ordenou.

Através deste estabelecimento dei um abraço ao Miguel Vasconcelos diácono. Hoje dou um abraço ao Miguel Vasconcelos padre. O gosto é o mesmo, o desejo de que tudo lhe corra bem na vida é o mesmo. E porque as tradições são para se manter, e porque este texto é para ele (e sei que haverá uma alma caridosa que lhe reencaminhe o texto) fica a assinatura que usamos nas poucas comunicações entre ambos.

Não se preocupe, que não atrapalhada nada nem ninguém - muito pelo contrário.

Até breve, Padre Miguel, que para mim será sempre Sr. Vasconcelos.

Sr. B...

1 comentário:

Anónimo disse...

Um texto inspirado e inspirador. Mto obrigada Sr.B... MZ.

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