28 julho 2017

Ontem e hoje

Estou de férias no litoral alentejano. Ontem transportei de carro para a praia duas crianças de 5 e 6 anos que a dada altura pediram para se ligar a telefonia - ou rádio, como se diz agora. Naquele instante tocava uma música em inglês, presumo que moderna, que eles cantaram a plenos pulmões. Presumo, igualmente, que não faziam a mais pálida ideia do que estavam a cantar. Mas, durante uns poucos minutos, dois miúdos pequenos acompanharam uma música sem se enganarem.



Depreendo, sem necessidade de um enorme exercício de discernimento ou de adivinhação, que estas músicas que eles cantam - como cantaram outra a seguir, durante a qual discutiram se era os D.A.M.A. ou o AGIR - as ouvem na rádio, para manter o vocabulário ao nível da modernidade. Ouvem com os pais quando vão de viagem, de e para a escola, porque os Pais são gente saudável, que não ouve Mozart ou António dos Santos com um sorriso no rosto.

Recuo à idade deles. Recuo, portanto, a 1963, 1964. Imagino-me no Morris do meu pai (CE-33-83, parece-me) a ouvir rádio que, em bom rigor, não sei se tinha. Mas suponhamos que tinha, em benefício do raciocínio. E suponhamos que eu cantava a plenos pulmões as músicas famosas da época, que passavam na telefonia (para manter o vocabulário ao nível da História). O que ouviria eu? O que cantaria eu, com a mesma alegria que dois miúdos ontem, a caminho da praia do Malhão?





Talvez o Morris não tivesse rádio, pelo que tudo isto cai por terra. Ou talvez não tivéssemos a liberdade canora dos miúdos de agora, e tudo caia também por terra...

JdB

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