O tema não é novo neste estabelecimento: porque é que as pessoas querem seguir pessoas nas redes sociais?
Um dia, numa conversa de amigos, o tema voltou à baila: fulano tem não sei quantos mil seguidores, beltrano mais ainda, sicrano bate o recorde. Ao que parece, Cristiano Ronaldo e a mãe, D. Dolores, são dos que mais seguidores têm, e foram um bom exemplo para o meu raciocínio naquela noite à volta de uma mesa.
O Cristiano Ronaldo é um desportista de eleição, destes que faz parte de uma pequena elite. Seguir o futebolista é, num certo sentido, perceber o que é a vida de um desportista superior. Seguir a D. Dolores (contra quem nada me move) é seguir uma pessoa normal, cuja a-normalidade consistiu em gerar e educar um desportista superior. No mais, penso que seguirá uma vida corriqueira não tendo, como a grande maioria da população terrestre, produzido obra, agitado o mundo, arrebatado multidões. O que nos faz seguir pessoas que não se salientarem em nada de especial (sem que a frase seja desprimor)?
À mesa destes amigos disse uma coisa simples, que os "heróis" dos dias de hoje eram os actores / actrizes das telenovelas. O heroísmo deixou de ser físico, a coragem deixou de ser das ideias. Hoje, o que arrasta multidões e cativa as televisões são as vidas dos actores. Quando dei por mim percebi que estava a falar com dois amigos que, por acaso, são pais de um actor de telenovelas. Desculpei-me, talvez tenham percebido e, quem sabe, concordado. Queremos saber as praias paradisíacos onde os actores passam férias, as festas a que vão, que restaurantes frequentam. Querer saber é uma coisa; mas querer seguir a vida destas pessoas? Porque não a de um médico ou de um advogado, que fazem o melhor possível nas suas profissões.
Um dia terei dito que este tipo de voyeurismo é moderno. Nos meus tempo de adolescentes íamos para a praia da Azarujinha, em S. João do Estoril, porque havia casais a beijarem-se (ou a fazer mais alguma coisa) no recanto das rochas escondidas. Achava eu que o voyeurismo tinha uma dimensão erótica - ou escondida. Um dia percebi que o voyeurismo não proibido também existia no meu tempo de menino: chamava-se Hola ou Point de Vue, as revista cor-de-rosa espanholas ou francesas que partilhavam connosco as vidas do jet set espanhol (dos condes aos matadores de toiros) ou da nobreza mundial. Do que iam à procura quem li as revistas (que ainda são lidas): as vidas de luxo, a elegância, a moda, a civilização, o sangue azul, as casas e quintas bem decoradas.
A D. Dolores Aveiro é a o Francis Franco dos tempos modernos.
JdB
1 comentário:
Repare que nestas áreas o que conta são as gajas.
Abraço
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