Hoje é Domingo, e não esqueço a minha condição de católico. Há umas semanas, ao falar para um grupo de jovens prestes a casar, alguém me perguntava se eu, face a acontecimentos que ensombraram a minha vida nos últimos sete anos, ainda conseguia acreditar em Deus - e sobretudo num Deus bom. Achei estranho que gente nova, com estudos, informação e uma educação moderna ainda cresse numa entidade que está por detrás da morte de crianças, desempregos ou separações conjugais. Como se não fossemos mais do que marionetas comandadas pelo Alto. Ou como pudéssemos acreditar numa força superior (não só no sentido de reconhecer a existência, mas no sentido, também, de querer seguir) que destina um tsunami, um terramoto, secas ou cheias, com a consequente perda de milhares de vidas humanas. Expliquei o que sabia, como sabia. Para os que me lêem, fica um texto elucidativo e simples - mas que revela uma Fé inabalável. Bom Domingo para todos.
Temos de compreender isto: “Deus não é senão amor”. Há muito tempo que sabemos que Deus é amor. Mas talvez não estejamos convencidos de que Ele não seja senão amor. (…) Se Deus não é senão amor, não devemos dizer que Deus é omnipotente. Se só é amor, então não é outra coisa, não é mais nada. Ou então não digamos que Deus não é senão amor; digamos que é omnipotente e que é também amor, que também nos ama. Repito este ponto com a máxima insistência. Devemos ser inflexíveis em nunca, mas nunca, admitirmos em Deus outra coisa que não seja o amor. Sendo assim, Ele não é omnipotente; de momento, ponhamos de parte as consequências. Deus é grande? Não, não e não! Ele não é senão amor. Deus é omnipotente? Não, não e não. Ele não é senão amor. Temos de passar, sem nos deixarmos abalar, por esta fase de negação radical. Deus não é senão amor. É preciso compreender o âmago desta expressão ‘não senão’. Porque tudo está contido neste ‘não senão’.
(Viver o Evangelho, O último retiro do P. François Varillon, S.J., Editorial A.O. Braga 1995)
(Viver o Evangelho, O último retiro do P. François Varillon, S.J., Editorial A.O. Braga 1995)
3 comentários:
Eu, que estou muito longe de ter uma "fé inabalável", não consigo ver Deus como uma entidade que tenha formas mas vejo uma dimensão divina (no sentido de transcendente) na nossa eterna necessidade de irmos além da nossa condição meramente animal e de nos superarmos. Por isso não me é difícil ver Deus como "Amor e nada mais do que Amor". Ou seja, ver Deus como a parte de nós que nos salva de nós próprios, sem com isso dizer que acho que tomos somos deuses. Não me expliquei bem, provavelmente. Não é fácil nesta matéria.
A conversa fica para um paredão, numa manhã qualquer...
De uma forma muito simplista - e se me perguntassem qual era a forma de Deus, eu diria: é a forma do Amor.
Obrigada João por me lembrar Varillon. Marcou-me, veio ao encontro da Fé que para mim fazia sentido. Não resisto a acrescentar outras citações dele:
“O Olhar de Deus - Deus não é o olhar curioso, o olhar de espectador, o olhar de inquiridor, o olhar que esquadrinha, o olhar que julga, o olhar condescendente de cima para baixo... Deus é um olhar de reciprocidade – um olhar que responde ao olhar do outro. O olhar de Deus sobre mim é um olhar que me cria.”
“Será preciso considerar todas as decepções, todos os sofrimentos, todos os fracassos, como purificação; tudo isso torna-me capaz de mais amor, de amor mais puro, de amor com menos egoísmo”.
Vamos aprendendo quão difícil mas libertadora é esta exigência cristã…
Boa semana!
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