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O enunciado do 4ª ensaio era este. A minha contribuição fica abaixo, para os que mantêm uma paciência estranha em seguir-me os escritos.
JdB
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1. Sobre Bouwsma
Para Bouwsma, os poemas estão
para as asserções como as baleias estão para os peixes. Existem semelhanças
mas, de facto, a baleia não é um peixe. Assim...
Para o filósofo, “um poema são
palavras, palavras, palavras. Os poemas são lidos, não asseverados, não
negados, não obedecidos, não concordados, não respondidos, não informam, não
dizem nada.“
E diz ainda: “Afirmei
anteriormente que uma palavra tem significado num jogo de linguagem. Mas o
poema não é um jogo de linguagem. Poderia por isso concluir-se que a palavra,
num poema, não tem sentido. E no entanto, a palavra num poema só tem vida na
medida em que é parasitária em relação a uma palavra hospedeira usada no
movimento normal da vida.”
A linguagem da poesia é, para
Bouwsma, uma linguagem num dia isento de trabalho. Está de férias e nada de
prático se faz com ela – não se aspira uma carpete, não dá azo a uma queixa
sobre a meteorologia ou a uma descompostura por causa de lama nos sapatos.
Nada.
De facto, Bouwsma entende que nenhum
poema faz sentido. E revê-se na frase do finalista universitário que afirmava que
“a poesia não mente, pois não afirma”.
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2. Sobre Isenberg
O seu ensaio (A Poem by Frost and Some Principles of
Criticism) está dividido em duas partes, como o seu autor refere logo no
primeiro parágrafo: na primeira parte, o filósofo tenta uma leitura crítica do
poema A Star in a Stoneboat de David
Frost. Na 2ª parte, ‘repensa’ a sua posição, revendo algum do conteúdo do seu
criticismo.
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Isenberg refere-se ao poema
como sendo “essencialmente um encadeado de imagens, todas iguais e paralelas,
desenvolvendo a única ideia. O desenvolvimento não é progressivo mas iterativo;
é como um conjunto de variações comparadas com a estrutura da sonata. Não é
suposto chegar a lado algum; é suposto acrescentar, deliciar-nos com um fio de
pensamentos semelhantes e diferentes.”
E termina a primeira parte do
seu ensaio: “não posso fugir da convicção de que o poema está mergulhado num
filme meditativo que colapsa quando tocado por um alfinete; e isto impede-me de
assumir a sua inocência.”
Durante as primeiras páginas,
Isenberg percorre as várias estrofes do poema escalpelizando e identificando o
sentido das palavras e a consonância das imagens à luz de uma linguagem
comummente utilizada. Com esse chapéu na cabeça, é-lhe quase impossível não
tropeçar em inúmeras incoerências, como, por exemplo, na frase the one thing palpable besides the soul,
considerando que, convencionalmente a alma é, por definição, impalpável.
Chega a perguntar várias vezes
‘porquê?’, para se questionar – ou questionar ficticiamente o poeta – quanto à
utilização de uma subjectividade que considera “incomodativa”: porquê poetas,
porquê Pégaso, porquê o carro voador, porquê isto mais prático do que aquilo? O
filósofo, como refere no início da segunda parte, exerce o seu criticismo
assente em regras (standards, no
original) da lógica e da ética.
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“Uma vez que os versos não são
maus, e uma vez que a lógica diria que são maus (isto é, falsos, não comprovados), o veredicto crítico não
pode ser o lógico (...)”
Isenberg, na sequência, aliás,
do que já tinha afirmado na abertura do ensaio, de alguma forma ‘repensa’ (poderia
usar-se a expressão ‘inverter’?) o sentido do seu olhar sobre o poema – agora à
luz de uma não-lógica, mais do que de uma ilógica, expressões utilizadas
na sua referência à décima estrofe.
Isenberg refere-se então especificamente
à oitava estrofe, argumentando que, da sua análise anterior, poderia inferir-se
que a figura de estilo utilizada seria contrafactual. Mas, uma vez que o
filósofo considera utterly fantastic
a ideia de dois dos versos desta estrofe (os melhores do poema, segundo ele),
uma tal apreciação teria de estar errada.
Parte significativa do
vocabulário utilizado nos poemas refere-se a coisas que existem. Têm um significado genericamente aceite por
todos.
(...)
Pelas ruas e
estradas
onde passa tanta
gente,
uns vêem pedras
pisadas,
mas outros
gnomos e fadas
num halo
resplandecente!!
(...)
‘Ruas’, ‘estradas’, ‘gente’,
nesta estrofe do poema Impressão Digital,
de António Gedeão, remetem-nos para objectos
reais. Uma rua é uma rua, uma estrada é uma estrada, que todos vemos e por onde
passamos todos os dias. Ora, no penúltimo verso, o poeta fala em gnomos e
fadas. Estes seres não existem, mas
fazem parte do nosso imaginário, remetem-nos para um mundo de fantasia. O
significado, o sentido, na expressão de Isenberg, permanecem além da realidade,
do facto.
“Este sentido da palavra é
transportado com ela, por meio de uma espécie de inércia, para as estruturas da
frase, onde se combina com os sentidos de outras palavras para conferir um
significado todo novo. Este significado
é a ideia ou a percepção do poeta;(...)”
É por isso que a leitura desta
estrofe de Gedeão – e, afinal, de todos
os poemas - deve ser lida à luz de uma certa não-lógica, como se lêssemos com o
coração, citando uma famosa raposa. E nesse sentido, não nos ocorre questionar
se alguém pode ver gnomos e fadas em halos resplandecentes, ou o que vê Sancho
e D. Quixote, porque são tudo seres e personagens irreais ou fictícios, saídos
de imaginações férteis. Quando lemos esta estrofe podemos, como refere
Isenberg, criticar a ideia, não devemos comparar o que quer que seja com a
realidade, muito embora estas palavras que referem inexistências - fadas, gnomos, D. Quixote – tenham
conotações de valor, se não de facto.
Refiro, por último, as últimas
quatro linhas do ensaio, que talvez dêm um contributo importante para a
resposta ao enunciado: “a nossa resposta estética não é moralista; e no
entanto, não é por ignorarmos valores morais que compreendemos e julgamos a
poesia, pois estes valores desempenham um papel de significados experimentados,
chamando-se para a frente e para trás, na textura do verso”.
Concordaria Isenberg com a
afirmação de Bouwsma, segundo a qual there
are no poems that mean?. Inclino-me a dizer que não, não concordaria.
1 comentário:
Muito arrevesado! Gostei mas não acompanhei completamente... Espero não desistir de o seguir.
Beijinhos,
Rita
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