04 junho 2020

Do Rio de Janeiro em 1977

Não estou a contar que a maioria das pessoas que visita este estabelecimento se entretenha a ver um filme de mais de 40 minutos sobre o Rio de Janeiro de 1977. Mas vale a pena - talvez, digo eu - ver meia dúzia de minutos para perceber o que eu já partilhei neste estabelecimento quanto ao fascínio da minha primeira ida à cidade maravilhosa, talvez em 1975.

Não tenho vocabulário interior para explicar o que foi o impacto daquela relativamente curta viagem. Não sei se eram os meus 17 anos, se era a primeira viagem transatlântica de avião, se era o facto de partir no Inverno e, algumas horas depois, aterrar no calor húmido do Verão; não sei se era a praia, uma sensação de leveza que eu não tinha capacidade para apreender, ou o contraste daquilo que eu conhecia do estrangeiro - Badajoz e Londres. Talvez fosse apenas o chá mate ou chá limão na praia, ou a lanchonete Bob's, onde comíamos uma sandes de ovo e bebíamos um choppinho ao fim da tarde. Alguma coisa era. Talvez fosse, simplesmente, a minha primeira viagem sem a autoridade paternal por perto. 

O Rio de Janeiro de 1975 - e ainda muito em 1977 quando lá fui pela segunda vez - era uma cidade segura: andava-se de ônibus a altas horas da noite, não se era assaltado nas ruas, o calçadão era aquilo que se vê no filme: desafogado, limpo, em cima de uma praia de uma beleza imensa onde nada se roubava quando íamos tomar banho. Em 2002 ou 2003, quando lá voltei por uns dias, quase não podia sair-se do hotel após o cair da noite.

Vi meia dúzia de minutos do filme. Do ponto de vista cronológico poderia aparecer no filme, porque estava lá naquele ano; porém, tudo aquilo me pareceu de uma época tão distinta, tão afastada da minha, tão longínqua no tempo, que me achei deslocado. Afinal, só se passaram 43 anos; e eu estou 43 anos mais velho. O primeiro comentário a este filme diz tudo: Meu Deus !!!!!!!!!! Éramos felizes e não sabíamos. Tempos maravilhosos. Quem conheceu o Rio de 1975 e conhece o Rio agora talvez profira o lamento com uma propriedade que não é a minha, que não vivo lá. Mas sim, gostava de recuar 43 anos e revisitar tudo; até mesmo  - ou talvez sobretudo - a emoção.

JdB

3 comentários:

Anónimo disse...

Impressionante!

Abr
fq

ACC disse...

Aquela criança do baloiço terá hoje 44 anos e pode viver num condomínio com guardas armados até aos dentes. Em que o mundo se tornou!!!!!

ACC disse...

Lembrei-me que o meu pai vivia no Rio em 77. Quem sabe aparece no filme (lol)

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