Casei com 20 anos. O homem que me levou ao altar tinha mais onze. Era velho, triste e chato. E eu nova, alegre e risonha. Fomos felizes, muito felizes. Durante o tempo em que iluminei todo aquele breu, não têm conta as noites de borga que cumprimos. Dessas noites, há umas palavras anónimas que adoro contar.
1994, Jardim do Tabaco em Lisboa
Era um eirado de alcatrão virado ao rio, frente a Santa Apolónia. Grande vista, calor, lua cheia. A música bombava forte e feio e a pretalhada representava o peso. Toda a boa catinga da Margem Sul se propagava na atmosfera. Vivíamos o tempo do Rap e aquela festa era dos rappers, para os rappers e as suas bandas Yo!
Mal paramos no boteco e o meu ouvido sintonizou, eu fervi de vontade de entrar na sanzala. Fui-me afastando do dono e chegando a ela. Queria dançar e estendi-me um bom bocado, até que os blacks repararam. Quando um ganhou coragem, falou:
– Dánças bém!
– Obrigada.
Nem dois minutos depois, o matumbinho volta a abrir a goela:
– Mas quantos anos é que tu téns?
– Adivinha lá.
Flanou o olhar por mim e entrou ainda mais na dúvida:
– Ehh paaa, num sei... tem umas merdas que parece que tu és pita, mas tem outras merdas que parece tu és cota...
– Tenho 26.
– Ahh então é iisso, porra. Tu nem és cota, nem és pita!
DaLheGas
3 comentários:
Ahahahahahahaha! RF
Grande Gás! :) arrebatas-me sempre com essa tua escrita! bj da mana
ehehheheehehe,
o matumbino falou, tá falado, Tibúrcio num singana, né, os pretoéquisabi...e cheira, né ?
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