12 janeiro 2009

Poemas dos dias que correm

Alegria

De passadas tristezas, desenganos
amarguras colhidas em trinta anos,
de velhas ilusões,
de pequenas traições
que achei no meu caminho...,
de cada injusto mal, de cada espinho
que me deixou no peito a nódoa escura
duma nova amargura...

De cada crueldade
que pôs de luto a minha mocidade...
De cada injusta pena
que um dia envenenou e ainda envenena
a minha alma que foi tranquila e forte...
De cada morte
que anda a viver comigo, a minha vida,
de cada cicatriz,
eu fiz
nem tristeza, nem dor, nem nostalgia
mas heróica alegria.

Alegria sem causa, alegria animal
que nenhum mal
pode vencer.
Doido prazer
de respirar!
Volúpia de encontrar
a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos,
prazer de regressar,
de respirar
honestamente e sem caprichos,
como as ervas e os bichos.
Alegria voluptuosa de trincar
frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva
de estar viva,
feliz ou infeliz
mas bem presa à raíz.
Volúpia de sentir na minha mão,
a côdea do meu pão.

Volúpia de sentir-me ágil e forte
e de saber enfim que só a morte
é triste e sem remédio.
Prazer de renegar e de destruir o tédio,
Esse estranho cilício,
e de entregar-me à vida como a um vício.

Alegria!
Alegria!
Volúpia de sentir-me em cada dia
mais cansada, mais triste, mais dorida
mas cada vez mais agarrada à Vida!

Fernanda de Castro, in "D'Aquém e D'Além Alma"

5 comentários:

Anónimo disse...

Lindo de morrer! Identifico-me total e completamente! Nada como a poesia para sintetizar o que é Grande sem usar palavras a mais (coisa que a prosa faz.....)
PCP

DaLheGas disse...

o J esqueceu-se de dizer que este é para si PCP. que você merece esta Alegria. que a sua carta veio em boa hora, no melhor dia :)

Anónimo disse...

Podia repetir os comentários anteriores. Repito.
Mas... e a Lanterna? Deu-lhe o vento? Uma corrente de ar? A Amália demitiu-se? Nem um email, um sms, um post, um Twitt?
MB

Anónimo disse...

ahh, falei cedo demais... afinal a piquena teve memo um mau dia...pra esquecer... já lá vai...

assim é que se fala, moça!
ALEGRIA!! ALEGRIA!! ALEGRIA!!

Anónimo disse...

Finalmente alegria. Não podia ser só à quarta-feira. Há dias em que é tão bom viver.

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