esta manhã, tropecei num poeta fulminante.
li milhares de poemas, fui milhares de poetas,
e aparece do nada, vindo de outro século,
um homem que escreve sobre outra cidade,
e que, contudo, escreve com a minha exacta mão,
estes meus olhos, a totalidade do meu coração.
pensava numa só palavra*, ao lê-lo.
e eis que, nem duas páginas à frente,
me assalta um poema intitulado "home".
homens esperam, em todos os sítios,
pelo amor de jovens eternas raparigas.
e de cidades que os encham de ternura,
mais bruta ou mais gentil ou algo a meio,
em finos teatros e em tugúrios perdidos.
uma vez na vida, se tanto, encontram-no/a,
mas seguem > seguem > seguem > seguem,
cegos pela maquinal rotina que os devora.
cidades, mulheres, estrelas - quem as vê?
quem captura, para a fugidia posteridade,
a verdadeira essência do rio colectivo,
onde cada partícula é, ao mesmo tempo,
o universo todo - e vice-versa?
ergo o olhar, ajoelho, saúdo-te: Carl Sandburg.
estejas onde estiveres, olhes-me de onde olhares,
és a mão que escreve estes versos.
(* a palavra era: casa.)
gi.
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
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