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| Museu do Dinheiro (Lisboa), Setembro de 2025 |
Um dicionário online define o serendipismo da seguinte forma:
1. dom de fazer boas descobertas por acaso; aptidão de atrair a si acontecimentos favoráveis de maneira fortuita
2. acaso feliz; acontecimento favorável que se produz de maneira fortuita; descoberta acidental
A expressão, no original em inglês serendipity, foi cunhada em 1754 pelo romancista inglês Horace Walpole para uma aptidão dos heróis de um conto de fadas chamado Os Três Príncipes de Serendip, usando um nome antigo para o Sri Lanka. A expressão faz parte do meu vocabulário afectivo há quase 25 anos.
Há uns meses fui a casa de uma prima tratar de assuntos corriqueiros. Como é casada com um cavalheiro que sabe sânscrito, perguntei-lhe se confirmava a ideia de que há uma expressão nessa língua para designar pais que perdem filhos. Disse-me que sim: viloma ou vilomah, que significa algo contra a ordem natural das coisas, algo contra o veio da madeira. Meses mais tarde essa minha prima contou-me que a conversa tinha desbloqueado uma peça escultórica em que tinha estado a trabalhar e que se encontrava parada há mais de um ano por falta de qualquer coisa.
Esta semana conversei com alguém sobre serendipismo, também a propósito do sânscrito e da escultura, que me parecia um acaso feliz. No dia seguinte leio o seguinte post no Linkedin:
"Quando o actor Anthony Hopkins trabalhava para a sua actuação no filme "A Garota de Petrovka", quis ler o livro no qual o roteiro foi baseado. Hopkins foi a Londres e visitou várias livrarias, mas não conseguiu encontrá-lo. Ao voltar para casa, encontrou um livro esquecido por alguém num banco do metro. Era "A Garota de Petrovka"! Essa história já é surpreendente por si só, mas as coincidências incríveis não param por aqui.
Mais tarde, durante as filmagens do filme em Viena, George Feifer, o autor do livro, visitou Hopkins. Feifer reclamou que ele mesmo não tinha nenhum exemplar do seu próprio livro. Ele tinha um, mas infelizmente o escritor emprestou esse exemplar a um amigo distraído, que perdeu o livro em algum lugar de Londres. Hopkins mostrou a Feifer o livro que encontrou e perguntou:
"Esse por acaso não é o seu?" E era realmente o livro de Feifer, com todas as anotações do autor nas margens."
Se tudo isto - a escultura, a conversa, o post - não são manifestações de serendipismo (ou coincidências significativas, como lhes chamava Jung), então não sei o que é o serendipismo...
JdB

1 comentário:
Extraordinário!
Abr
fq
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