Ernâni Lopes. Morreu esta semana, e não me espraio (mais) nos elogios merecidos com que o país o brindou. Prefiro lembrar uma palestra proferida pelo ex-ministro, talvez em 2006, na empresa onde eu trabalhava na altura. Perante uma audiência de algumas dezenas de quadros médios e superiores, o economista falou durante duas horas, talvez. Quem visita este espaço e também esteve presente corrigir-me-á se eu estiver enganado. O facto é que não me lembro de ter ouvido falar de números, não recordo ter visto tabelas ou gráficos. Durante duas horas Ernâni Lopes falou, ao nível mais elevado, de ética, de motivação, de correcção nos negócios, de caminhos possíveis, sem falar de taxas de juro, inflação, indicadores macro-económicos. Já no fim - e percebendo-se a doença que o atacava - disse mais ou menos o seguinte: olho para as minhas filhas, para os valores que transmitirão a quem vier depois delas e percebo que fiz o meu trabalho e que posso ir-me embora. Já só faço rendilhados...
Funchal (I). Há uma semana estava no Funchal. Fui conhecer o núcleo da Acreditar, aproveitando um fim de semana de turismo. Estive com Pais no hospital de dia, pais esses que perderam filhos e que voltaram àquele espaço pela segunda vez desde os tempos fatídicos. Conviver com uma associação que lida com crianças que passaram pelo cancro depois da doença nos ter levado as nossas é tarefa árdua. Para uns é uma espécie de redenção, para outros é dose demasiada.
Funchal (II). Fui Domingo, primeiro do Advento, à missa na Sé do Funchal. Alguns minutos antes uma senhora devota ensaia, ao órgão, as músicas que acompanharão a liturgia. Dos fiéis, apenas um se presta ao sacrifício. A organista lamenta: a minha voz não estava muito boa, talvez possamos repetir. O fiel emudece compreensívelmente... Estou um pouco surdo e o padre era madeirense. Prefiro reconhecer ambos os factores a pensar que, na homilia, o sacerdote mencionou o advento como um tempo de mortificação. Talvez ele tivesse dito purificação e a surdez me atraiçoasse. Ou talvez tivesse ouvido os minutos de ensaio. Estou impertinente mas continuo com uma fé inabalável. Será a hérnia discal que me está a perturbar?
Televisão. Deitei-me a fazer zapping - actividade recomendada pelo médico para evitar a paralisação precoce do polegar - e um dos canais, que sempre me pareceu apresentar programas científicos, falava de rabos (há uma expressão mais bonita?): formas, representação artística, tipos, etc. Algumas imagens roçavam uma espécie de pornografia dos anos vinte. Saí e fui comer um bodião devidamente escalado com milho frito e batata doce (infelizmente não havia vaginhas...). Regressei passado hora e meia e retomei o zapping, porque a actividade do polegar é por demais importante. Voltei a ver os rabos, as nádegas, a pornografia ao som do charleston... Alguém me explica o que se está a passar e que me tenha falhado?
Música. Há alguns anos passou nos cinemas o filme Os Coristas (teria preferido a tradução Os Coralistas mas penso ser demasiado neologista...). Quem viu o filme fixou, seguramente, a beleza da história. Fica aqui um trecho musical para deleite de alguns e indiferença de outros...
JdB
3 comentários:
Tive o prazer de almoçar algumas vezes com Hernani Lopes (almoços em pé).
Uma das vezes, estende-me um guardanapo de papel e diz-me com um ar divertido: não quere um pouco de celulose elaborada?
Lá o Céu, onde está, faça alguma coisa pela nossa economia.
SdB(I)
Bom dia JdB
Esta sua semana é bastante eclética.
Admiração e louvor à ética, acreditar e ultrapassar as perdas, missa, advento e mortificação, rabos e os coralistas.
É bom perceber que temos de viver na diversidade.
Vi o filme, João, e gostei imenso. A música interpretada em conjunto é, para mim, a melhor forma de estimular um certo sentido de solidariedade e de espírito de corpo, demonstrando como o todo é muito maior do que a soma das partes. Parece-me bastante mais eficaz do que os desportos colectivos, que não conseguem combater eficazmente as «saliências» individuais ou as tentativas egoistas de dar nas vistas. :-)
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