Amanhã vou ter companhia. É-me difícil especificar as circunstâncias em que adquiri o hábito de terminar as minhas cartas com previsões mais ou menos audazes de futuros próximos, mas arriscar-me-ia a dizer que foi encurvado debaixo de um tecto oblíquo como o de hoje. O exercício é trivial, na equação só pesam a solidez relativa dos prenúncios meteorológicos e a inalterável certeza cronológica dos dias da semana.
As minhas cartas têm como destinatário a estante que montei do lado da parede alta. São, no seu conjunto, A História Universal da Praia da Maré, pela primeira pessoa de Valter Assobio. Documento diariamente os acontecimentos que entendo serem mais relevantes e, se o pulso estiver bem-disposto, humor raro, ilustro qualquer coisita.
Amanhã vou ter companhia. Vai fazer sol e é fim-de-semana, não é novidade para ninguém que dias assim enchem muito os litorais. A companhia, no entanto, já não me entusiasma como antes. Prefiro documentar as horas menos estrangeiras da praia, escrever o areal vazio, escutar gente nenhuma.
Dormir à beira mar não é agradável para os ossos. Chego-me sempre ao lado da parede baixa, onde se segura melhor o calor, e deixo-me ficar agarrado ao fio das horas, enquanto não me dá o sono. Amanhã, se acordar, espero que seja cedo. Vista deste vão de escada, a praia é muito mais bonita quando está vazia.
ZdT
1 comentário:
Que sorte.
Sinal de velhice, sabe?
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